Escrever é um excelente remédio... Mas pode ser extremamente ácido pra quem lê.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Genesis 2, 18 - Ou mais uma crônica de fim de ano
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
DEUS CACAU
Se eu fosse fundar uma religião que definisse a nova ordem mundial, fundaria uma que aceitasse todos os seres humanos , independente de raça, costumes, origens ou time de futebol. Seria uma seita global, onde todos seriam aceitos, teriam suas vozes ouvidas e a todos seria garantido o acesso ao Paraíso. Haveria apenas uma exceção. Em meus templos, e da minha vida social, iria excluir os compulsivos comedores de chocolate, e a eles iria legar somente choro e ranger de dentes.
É cientificamente comprovado que o chocolate atua na liberação dos hormônios ocitocina e serotonina, responsáveis pelas sensações de prazer e bem estar. Estes hormônios também são liberados após o ato sexual. Algumas pessoas, principalmente mulheres, tem com o chocolate uma relação quase passional. As sensações provocadas pela ingestão de um Ferrero Roche podem ser descritas quase como um orgasmo. Um marido que, ao chegar em casa, pega sua mulher atacando uma barra de chocolates Garoto pode acusá-la de pedofilia e traição. Portanto, pela incontrolabilidade da compulsão de comer chocolates, em meu mundo virtualmente perfeito, os chocólatras seriam banidos.
Imagino muitos leitores se indagando nesse momento: “mas qual é o pecado que existe em comer chocolate?” De fato, o questionamento é válido. Ser chocólatra não é o que define o caráter e as virtudes de uma pessoa. Você acorda todos os dias pela manhã, trata bem seus familiares, trabalha, paga seus impostos, é generoso com os amigos e vizinhos, evita fofocas, faz exercícios físicos, estuda, recicla seu lixo, faz tudo direitinho, ou quase tudo, mas o que faz com uma barra de Talento joga por terra todas as suas virtudes, e você é classificado como pária social por causa do relativismo injusto de alguns.
Se ao invés de chocólatras eu tivesse dito que deixaria de fora os homossexuais, acredito que muitos teriam concordado logo de cara que a eles eu deveria de fato negar o Reino dos Céus. Acontece que, assim como os chocólatras, os homossexuais acordam pela manhã, tratam bem seus familiares, trabalham, pagam impostos, são generosos com os amigos e vizinhos, evitam fofocas e etc. etc. etc... Ou não. Alguns tratam mal seus amigos e familiares, causam intrigas, são invejosos, maliciosos, promíscuos... Assim como muitos heterossexuais. Querer classificá-los, rotulá-los como uma classe à parte, definindo seus modos e comportamentos, é de um reducionismo burro que só pode se submeter pessoas extremamente pouco esclarecidas que acham que uma pessoa pode ser definida pelo que faz sexualmente. E na ânsia de ficar exultando as maravilhas das virtudes cristãs, muitas pessoas esquecem de que a mesma Bíblia que combatia o homossexualismo era a favor de guerras em nome de Deus, defendia a escravidão e ordenava que os infiéis arrancassem fora seus olhos se eles o fizessem pecar.
Tenho uma relação muito pessoal com Deus, mas tenho muita pena de quem acha que umas poucas mil páginas escritas a mais de dois mil anos atrás podem conter todas as verdades do Universo, e por conhecerem de cor alguns versículos soltos e descontextualizados, saem pelas ruas e pelas redes sociais emulando o comportamento dos fariseus que o Deus deles tanto combateu. No meio de suas rodinhas, batem no peito e se dizem os maiores pecadores, mas em sociedade não conseguem se misturar às pessoas que não compartilham com eles das mesmas “verdades”. Parafraseando André Gide, eu realmente creio naquelas pessoas que buscam a verdade, mas duvido dos que a encontraram. Pois se esse a quem chamam de Deus é tudo mesmo que dizem, Ele nos deu inteligência suficiente pra questionar, duvidar, colocar o dedo no nariz Dele e dizer: PROVA!! Isso não diminui sua divindade, se foi Ele quem nos fez, está preparado pra isso. Ele não vai ficar sofrendo e chorando como gostamos de imaginar que a cada queda nossa ele sofre junto conosco. Se ele controla nosso destino, não precisa sofrer, a não ser que seja masoquista. Se tudo o que acontece está nas mãos Dele, por quê então diabos um cara passa onze meses estudando para um vestibular para ser aprovado e morrer atropelado por uma manada de búfalos na semana seguinte, sem ao menos ingressar na faculdade?
São estes questionamentos que sempre me pego fazendo, sem o menor sentimento de culpa ou temor por castigos divinos. Infelizmente por isso, ou talvez graças a isso, não consigo me encontrar em nenhum grupo religioso. Em compensação, durante toda a minha vida, fiz amigos entre os homossexuais, prostitutas e intelectuais, sem que pra isso eu tenha que ter me tornado homossexual, me prostituído ou ficado mais inteligente... Isso simplesmente porque eu gosto de pessoas boas. Cada um traz dentro de si o que acha que são pessoas boas, e elas estão por toda a parte, assim como as pessoas más, elas podem ser encontradas tanto nas igrejas quanto nas zonas de prostituição, tanto entre os atleticanos quanto entre os cruzeirenses, ou entre os evangélicos e os espíritas.
Quando levanto as mãos pro alto e agradeço a Deus pela sorte que tenho: profissão, filha, emprego, família, amigos, faculdade eu penso: então qual deveria ser a atitude daqueles que não tem nada disso? Ódio? Revolta? Afinal de contas, não fiz necessariamente nada para Deus para merecer o que tenho... fiz por mim e para mim mesmo. O que me torna especial? O que torna outras pessoas menos especiais? Ter pernas, olhos e saúde enquanto outros não tem... é vontade de Deus? Por que as coisas boas que acontecem no mundo são obras de Deus, e as desgraças são culpa nossa?
Descobrir Deus é muito bom, mas não se faz isso sem passar pelas coisas que Ele criou. Limitar sua inteligência para deixar tudo nas mãos Dele é devolver uma responsabilidade que Ele já deixou pra você. Se vira. Ele não quer que deixemos de lado nossa inteligência, nossa criatividade, nossas dúvidas, em troca de uma fé cega, uma fé em nada... Deus não faz isso. Quem está dizendo isso são homens ignorantes, ou por ingenuidade ou por malícia.
E se ainda tiver dúvidas, pode comer seu chocolate à vontade. A não ser que você seja alérgico a tal iguaria, nada de mal pode lhe acontecer, além de uns quilinhos a mais... e muito prazer, é claro! Se não acredita, questione, e prove o contrário.
Até meu próximo post.
Gustavo Jonathan Costa
“Porque a vida vale a pena HOJE!”
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Never give up!!!
Na correria do dia-a-dia eu fico imaginando qual será a última vez em que me atrevo a postar mais uma crônica nesse meu blog. Se as vertentes do Naturalismo estiverem corretas, é fato que o homem é determinado pelo meio onde vive, e no mundo das ciências exatas, é mais fácil calcular integrais do que voltar pra mim mesmo e traduzir em palavras o que se encontra na alma humana. Mas algumas características são essenciais, transcendem qualquer determinismo, e ainda que sejam raras minhas aventuras neste blog, elas podem tender a zero sem nunca serem iguais a zero.
O tempo passa e a vida deixa marcas nas pessoas. Sempre achei que isso fosse uma metáfora, mas é um fato. E não falo somente de rugas, estrias e pés de galinha, ou barrigas de chope. Minha filha tem só seis anos, e seus olhos já são muito diferentes dos que ela tinha aos dois e três. Ela já tem maturidade pra saber que os pais dela falham, e falharam com ela quando não souberam manter viva a união de sua família. Ela sabe que pode ser castigada quando diz a verdade, mesmo quando insistimos que ela deve sempre dizer o que pensa e sente. Sabe que não adianta chorar e implorar pra não ser “abandonada” numa escola cheia de pessoas estranhas, porque ela vai ser deixada lá de qualquer jeito... E cada decepção, cada estrago, diminui um pouco aquele brilhinho que ela carregava ao nascer, aquela inocência...
Quando vejo minhas fotos de infância, reconheço quase tudo em mim: as mãos, o nariz, o cabelo... exatamente como são agora (com mais pêlos hoje, diga-se de passagem). Mas os olhos, aah... mudaram muito. É praticamente impossível emular aquelas expressões, elas vinham de uma alma que ainda não sabia o que era se decepcionar com as falhas dos pais, dos amigos, dos colegas de trabalho e principalmente com as minhas próprias...
Eram olhos de quem não sabia ou não precisava lidar com perdas...
Perder é uma das lições mais duras e mais valiosas da vida. A experiência da morte, de perder pessoas queridas, de perder um amor, de perder um ano escolar, nos massacra, oprime, e nada há que nos faça recuperar o que perdemos. Se não sobrevivemos, nos perdemos também, mas o processo de sobrevivência exige algo de nós, e o preço é parte do brilho que carregávamos quando nascemos.
Felizmente, perder o brilho não nos faz mais fracos, pelo contrário. Cada vez que sobrevivemos, nos tornamos mais fortes. E serenos. Sobreviver é acreditar na vida. Porque se lutamos pra sobreviver é porque acreditamos que existe algo de bom pelo que vale a pena continuar tentando. E ainda que as marcas da decepção se salientem em nossos rostos, nosso sorriso se torna cada vez mais sincero, mais valioso, mais saboroso.
Sempre desdenhei a importância que a televisão e os meios de comunicação dão à beleza estética, mas não posso deixar de comentar o quanto achei bonito ver o sorriso de Reinaldo Gianechinni após ter raspado os cabelos para enfrentar a luta contra o câncer. Ou mesmo o sorriso do ex-Presidente Lula. Porque só Deus (e quem assistiu o filme “O Filho do Brasil”) sabe o que esse homem, ou esses homens, já tiveram que enfrentar e que deixaram marcas, e que a essa altura da vida são coroadas com um diagnóstico tumoral.
A gente sempre acredita que, aos 30 anos, estaremos colhendo frutos do sucesso (a não ser que se esteja com 29 e já se saiba que a vida é um fracasso mesmo...). Muitas vezes, eu acho que fiz as escolhas erradas, principalmente quando me comparo ao restante da minha família, quando vejo onde meus irmãos mais novos puderam chegar. Ingressar em um curso de nível superior nessa idade, em ciências exatas, é conviver todo dia com o fracasso e a derrota. Diferente de um curso de Letras, ou daqueles passageiros encrenqueiros do ônibus lotado, em um bom curso de exatas não dá pra empurrar com a barriga. Como diz minha amiga Júlia: “ou você se entende com as exatas, ou desiste delas”.
Enfrentar, e superar, o fracasso diário que é cursar pelo terceiro semestre consecutivo as disciplinas de Cálculo I e Geometria Analítica não tem se mostrado tarefa fácil. É constrangedor, embora seja a realidade de muitos, e finalmente eu percebo que estou me envolvendo com as disciplinas, com a “idéia” da coisa. Estou adquirindo a maturidade necessária pra seguir em frente nesse caminho. Acho que esse é o ensinamento mais importante... Ou talvez o mais importante seja aprender a calcular área sobre gráficos e ortogonalizar vetores, e esse seja o segundo mais importante...
Se a vida não sorriu pra mim durante todos esses anos, ela me presenteou com uma filha muito especial, com amigos que posso contar nos dedos, mas que valem por uma tropa de elite, e com uma força de vontade que só consegue me guiar em direção ao alto e avante. Pois se existe um conceito que definitivamente estou abolindo do meu vocabulário é o de “desistir”. Acredito que a palavra “desistir” só devia vir acompanhada de “nunca”, da forma como dizia minha antiga professora de inglês, quando ficou sabendo que tinha sido demitida e não podia contar aos seus alunos, em sua última aula ela insistia: “Never give up!”
Meu irmão Leo acha que sou louco. Porque só um doidão de pedra mesmo desiste de uma carreira na área de humanas – pra qual é vocacionado – pra cursar exatas. Ou vice-versa. E eu sou doidão. De pedra. Daquelas duras mesmo. Sou daqueles caras que tempera feijão com mel (Rsrs... não foi metáfora). Porque eu sei onde quero chegar, e vou insistir nisso, ainda que tudo pareça querer dizer que é hora de desistir. Se eu fosse te dar algum conselho, leitor, diria pra nunca dizer a alguém que é hora de desistir. Os mineiros do Chile não desistiram. O meu Galo não desistiu. O América não desistiu. E o Cruzeiro (infelizmente...) também não vai desistir.
E se lutar sempre é a ordem do dia, que ela seja realizada com um maravilhoso sorriso no rosto, compartilhada com uma verdadeira tropa de elite, e coroada, se Deus quiser, com diagnósticos de saúde, sucesso e paz!
Até meu próximo post... porque também não desisto desse blog.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
DE REPENTE... TRINTA (E UM DE JULHO)!!!
Engraçado como acho que poderia justificar de várias formas a minha ausência durante esses (quase) dois meses, mas o fato de não me aventurar a postar crônicas nesse período não se deu pela ausência de reflexões da vida, pelo contrário... Nunca tive tanta necessidade de repensar a sociedade moderna pós Amy Winehouse como agora, mas as pressões com a faculdade, a necessidade do ócio e (pasmem!) a falta das palavras certas me fizeram afastar dessa que é uma das minhas atividades preferidas (não, não mais do que SEXO, espero que já tenha deixado isso claro!). Mas acho que essa semana tenho motivos mais do que especiais para voltar a dirigir-me a esse querido blog e a meus fiéis seguidores, e não posso deixar passar essa belíssima oportunidade...
No próximo domingo, dia 31 de julho, completarei 30 anos de existência. Quando adolescente, achava que estaria milionário aos 30 anos e que todos os meus problemas estariam resolvidos, como num filme teen, em que numa fração de segundos o diretor avança a história quinze anos no tempo, e o garoto imberbe de pernas tortas é trocado por um ator forte, sarado, tendo finalmente conquistado sua paixão da adolescência... Na vida real não é assim que as coisas funcionam. Nós, seres humanos, pertencentes ao gênero dos homo sapiens, pansexuais, onívoros e pluricelulares não somos criaturas saídas do filme Avatar, ou de qualquer outra comédia romântica da Disney... não vivemos felizes para sempre, mas é engraçado como muitas vezes nos apegamos à situações circunstanciais para justificar a incapacidade de sermos felizes agora, como se algo de realmente relevante precisasse acontecer para que pudéssemos fugir de nossa responsabilidade com aquilo que acreditamos ser a plena felicidade. Cada dia que passa, vamos idealizando fatos que, se ocorressem, nos fariam acreditar na vida, nas pessoas, no amanhã... e vamos adiando nossos momentos de paz interior, de realizações, de compartilhamento, para que venham quando formos promovidos, ou quando concluirmos a faculdade, ou quando conseguirmos aquele emprego... e por aí vai.
Cerca de nove anos atrás, eu vivia no mundo das certezas. Com vinte e um anos, TINHA CERTEZA que tinha encontrado a mulher da minha vida, que nunca mais estudaria matemática de novo, que minha orientação era 100% católica... Hoje em dia, cursando Química na UFMG, com um casamento desfeito vivendo longe de qualquer preceito religioso (embora muito mais longe ainda de ser agnóstico... ), tudo o que sei é que as certezas que temos são grandes armadilhas das quais devemos fugir, ou nos prevenir, para evitar que grandes decepções se abatam sobre nossas cabeças...
Uma das minhas últimas certezas se esvaiu recentemente, mais precisamente no dia 01 de junho. Fui demitido de uma empresa para a qual trabalhei por oito anos. Coincidentemente, ingressei na companhia na mesma época em que comecei meu curso de Letras e me preparava para o casamento. Na época, eu TINHA CERTEZA de que não duraria mais do que seis meses naquele lugar, mas oito anos se passaram e tudo se tornou diferente. De alguma forma, o trabalho me absorveu a ponto de me definir pelo que eu fazia... e sabia fazer. Eu tinha respeito, status, um cargo elevado, tinha poder... e era extremamente infeliz!
A última razão para que eu não fosse feliz residia no fato de estar ali, fazendo o que estava fazendo. Então, com a demissão, fui forçado a encarar uma difícil realidade: não existia mais motivo para não ser feliz! Tudo dependia de mim agora. E eis que pairava a pergunta: ONDE está a felicidade? O que fazer para encontrar a felicidade?
Demorou alguns dias para eu perceber a vida não tinha ficado milagrosamente mais fácil por ter perdido o emprego e repentinamente estar livre para... fazer o que eu quisesse, ainda que não fosse nada! A cada dia eu precisava – e preciso – reinventar minha rotina porque quando acordo de manhã não sei o que fazer absolutamente. Foi amedrontador... abalou meu desempenho na faculdade (eu achava quer ia ajudar, mas só piorou!) o que me fez sentir ainda mais culpa, e pior de tudo agora era não ter a quem responsabilizar pela minha infelicidade.
Então passa o tempo e eu percebo – graças às 8 horas de sono por noite, até que enfim! – que felicidade é um conceito abstrato e subjetivo sim, mas que pode ser conquistada nas coisas do dia-a-dia que não necessariamente dependem do marco de grandes conquistas na vida. Ganhar muito dinheiro de uma vez só, ser aprovado em um concurso, conquistar alguém, traz uma enorme euforia, é verdade, mas sabemos que com o passar do tempo, voltamos ao nosso estado “normal”... não vivemos felizes para sempre! Assim como grandes tristezas não nos abalam eternamente ( a não ser que caracterizem traumas). O que nos faz viver felizes é o que fazemos com o que nos é oferecido todo dia, uma conversa com algum amigo que não se vê há algum tempo, ver um belo filme, decorar a casa, lavar o carro, tomar uma cerveja na companhia do pai, levar a filha ao parquinho e ficar empurrando-a no balanço, pagar aquela dívida de meses, dizer a alguém importante o quanto ela é especial na sua vida, comprar aquela camisa cara que você tava namorando a um tempão, fazer exercícios com prazer...
Engraçado como pequenas atitudes diárias me fizeram perceber que buscar um estado de total felicidade é inútil. É como ficar perseguindo o final do arco-íris, a gente vê lá longe, acha que está perto, mas nunca o alcança, sempre é necessário ir mais além, e esperar pela próxima chuva. E nessa inapetência, vamos culpando as circunstâncias da vida por algo que depende exclusivamente de nós. Porque no fundo, é mais fácil lamentar a própria sorte do que assumir o fardo da felicidade. Nascemos para sermos felizes, mas a inércia nos conduz a um estado de total apatia, tristeza, depressão e morte.
Não foi à toa que alguns meses atrás adotei como dogma o lema de que “A vida vale a pena HOJE”. Percebi desde minha última promoção que não era o status, não era dinheiro, ou o poder de decidir a vida das pessoas que me trariam o equilíbrio necessário para superar minhas angústias, pelo contrário. Descobri que felizes mesmo eram aqueles que ocupavam as categorias de base, que sofriam suas dificuldades financeiras mas conquistavam amizades sinceras, programavam happy hours toda sexta-feira após o expediente (eu nunca sabia a que horas ia sair da empresa, especialmente às sextas-feiras) e que conseguiam separar a vida profissional da vida pessoal. Não que eu não pudesse fazer o mesmo, para o bem de todos e da minha própria sanidade deveria tê-lo feito, mas descobri à duras penas as grandes responsabilidades que vêm com grandes poderes.
Não quero dizer contudo que a descoberta de mim mesmo fez com que eu tenha desistido de dar grandes saltos na carreira, de jeito nenhum. Por tudo o que aprendi na vida e com meus pais, acredito que somente o céu é o limite para quem não tem medo de sonhar! Mas a jornada até lá passou a ser encarada com outros olhos, pois na verdade é ela o grande desafio, muito maior do que o lugar onde se chega finalmente. Atingir a maturidade, saborear os anos que se vão, sentir que se aprendeu algo ao longo da vida, transmitir com sabedoria aos mais jovens o que se adquiriu, tudo isso traz um prazer imenso, e para os que tem medo que o tempo passe, eu sempre me lembro que envelhecer não é tão ruim quando se pensa nas alternativas...
E que venham mais trinta anos!!
Gustavo Jonathan Costa
“Por que, mais do que nunca, a vida vale a pena HOJE!”
PS: A propósito, na segunda-feira, dia 01 de agosto, começo a trabalhar novamente. Desejem-me boa sorte!
terça-feira, 3 de maio de 2011
DIA DO BEIJO
Como bom representante do gênero masculino, tenho uma obsessão quase obsessiva por sexo. Desgraçadamente, como não compartilho da mesma afinidade que meus congêneres por futebol, acabo não tendo outro tipo de assunto ou idéia fixa. Felizmente, o mundo moderno permite que a Síndrome de Pavo seja direcionada em prol da humanidade, na construção de aeronaves espaciais e nos fundamentos do princípio de incerteza de Heisenberg.
Também no desenvolvimento da arte de se relacionar fomos beneficiados com a Síndrome do Pavo e com a emancipação feminina, que até onde me consta, tem agraciado mais homens do que mulheres, pois se tal fenômeno social não houvesse ocorrido, não teríamos tantas beldades posando nuas nas revistas masculinas (e ainda sendo consideradas modelos sociais). Como um selvagem domesticado, aprendi a direcionar minha obsessão obsessiva para outras nuances do corpo feminino, capazes de me transmitir tanto ou mais prazer do que a simples prática sexual.
A boca por exemplo... esse órgão enaltecido por poetas e poeteiros desde a Antiguidade - e cuja utilidade também para os "atos orais" é bem apreciada - consegue despertar nesse escritor nostálgico sentimentos que vão desde as mais inconfessáveis manifestações instintivas aos mais sublimes sentimentos. Não há quem possa negar que a maior invenção humana, superando a própria Mona Lisa, é o ósculo propriamente dito. Pois correndo o risco de parecer um grande 171, obrigo-me a dizer que a prática do beijo me seduz ainda mais do que o sexo stricto senso. Sexo é orgânico. Preciso dele, como de água e alimento todos os dias. Também é efêmero, fácil de ser conseguido se a prioridade é tão somente o atendimento a uma necessidade primitiva. É claro que, como para satisfazer a qualquer outro instinto aprimoramos e sofisticamos as manifestações de nossos prazeres. Envolvemo-nos sentimentalmente com os objetos de nossos desejos - e com as donas dos objetos. Desenvolvemos formas de conquista. Estudamos o outro, nos interessamos sinceramente pelo que pensa e sente, e somos recompensados com orgasmos múltiplos, ainda que para nós homens sejam um a cada vinte minutos, no mínimo.
Porém, pra gozar por gozar, nem é necessário parceiro. Homens e mulheres são auto-suficientes na auto-compensação mecânica da falta de sexo. Já para o beijo não. Esse requer necessariamente e obrigatoriamente uma segunda pessoa, exige que haja consentimento, e ainda que não haja amor, é necessário que haja tesão, desejo, química. Beijo tem que ter afinidade. Tem que começar com aquele leve toque nos lábios, que faz a gente sentir o gosto gostoso do batom ou do brilho, sentir a boca da garota ligeiramente mais fria que a nossa. Então, depois do primeiro selinho, vem outro, e de repente uma energia eletromagnética começa a te puxar para mais perto, e você não vê mais os olhos, o cabelo, somente aqueles lábios na sua frente.
Então alguém dá um tranco no corpo do outro. Pode ser você, pode ser ela, ninguém mais sabe, pois quando se dão conta, já estão de olhos fechados, sentindo bem de perto a respiração ofegante, um gemidinho que vem lá do fundo da alma, e por fim você quer de repente sentir tudo, as mãos envolvem as costas, o pescoço, glúteos, enquanto línguas se entrelaçam, atrevidas, uma penetrando o esconderijo da outra, em ritmo sincronizado, combinado, acordado, elas se impõem e se subjugam, dominam e se deixam dominar...
Diferente do sexo, o beijo não define papéis sexuais. Não tem regras, não tem posições, só exige que duas bocas estejam suficientemente próximas para se devorarem umas às outras. Ele pode ser comportado, por pudor, mas um beijo de verdade não consegue ser fingido, dissimulado. Prostitutas abrem suas borboletas para seus clientes, mas não conseguem beijá-los na boca. E mesmo casais cuja relação esfriou há vários anos continuam fazendo sexo embora raramente seus lábios entrem em contato.
Um beijo pode durar uma eternidade. De tão prazeroso, ele jamais sacia a si mesmo. Após o sexo, trocam-se algumas carícias, dizem-se algumas besteiras e logo o corpo cede, e acaba-se dormindo... (ou pula-se toda a parte das carícias e dorme-se imediatamente). Mas o beijo dificilmente nos deixa desvencilharmos dele. Ao nos despedirmos, gastamos horas trocando os últimos selinhos da noite (ou do dia). Nostálgico que sou, tenho registrado 69 minutos ininterruptos em um longo e demorado sorver de lábios, dentes e língua... do qual jamais me esqueço.
Sexo é bom, mas se torna ótimo quando começa com beijo. Aquele beijo que não te desgruda enquanto você a joga na parede, e se despe de camisas, shorts, sapatos, mochilas, agendas e cordões... E continua rolando solto, os corpos já nus um sobre o outro, lambendo saliva, maquiagem , suor e fios de cabelo. E quando se desgrudam os lábios, vão logo ao encontro de orelhas, de pescoços, de seios, tal a vontade e o desejo de continuar sorvendo toda a transpiração do outro corpo. Muitas vezes é acompanhado de mordidas discretas em lugares estratégicos, suplementando dessa maneira o prazer mútuo proporcionado pela boca.
Mas beijo não termina necessariamente em sexo. Depende de clima, de lugar, de ambiente, de expectativas que temos em relação à parceira ou parceiro. É claro que, se beijamos, queremos. Mas ainda que não façamos, só pelo beijo, vale a pena. A gente fica com aquela lembrança, aquela saudade, aquela vontade do reencontro, só para beijar mais, muito mais... e fazer todo o resto que ficou pra trás.
Beijo é assim. Pode ser seco, molhado, combinado ou roubado, mas tem que ter. E se for todos os dias, não enjoa não. Mas se der saudade, tanto melhor! Por isso todo dia deveria ser declarado Dia do Beijo, para que todo individuo com sangue nas veias e calor nos lábios esquecesse um pouco seus problemas e beijasse... beijasse e se deixasse beijar!
Até meu próximo post.
Gustavo Jonathan Costa
Porque a vida vale a pena HOJE!
quarta-feira, 20 de abril de 2011
ÚNICA DO MUNDO
domingo, 10 de abril de 2011
A BOLA DA VEZ
(segunda crônica desse final de semana. Se ainda não leu a primeira, veja logo abaixo)
Por muitas vezes nesse mesmo blog já fiz relatos apaixonados de minha infância e minha juventude. É bem provável que a essa altura, o leitor já acostumado com meus posts consiga compreender um pouco da formação do meu caráter, entende as dificuldades que enfrentei, os conflitos que vivi, o que eu era e o que eu sou e porque eu sou. Ora, muitas vezes já me senti perseguido pelo destino, como se houvesse sido colocado no centro de uma grande piada cósmica, aos serviços de divertir algum Criador cujo senso de humor fosse completamente questionável.
O tempo passou e me dei conta de que não sou lá tão especial assim pra merecer a atenção de quem não tem mais nada pra fazer a não ser assistir pra onde vai essa merda toda que ele criou. De repente, a gente começa a olhar para os lados e vê que no fundo só existe vida miserável e cheia de dificuldades, e que comparada a outras histórias, a gente acaba tendo motivo de sobra pra rir à beça de alegria, e no fundo se sentir até mesmo um pouco privilegiado.
Nunca fiz nada pra merecer enfoque exclusivo. Reconheço minha mediocridade nas minhas feições mestiças, na minha inteligência limitada e até no meu tipo sanguíneo, de longe o mais abundante na face da terra. Se tiver algo especial, é uma verruga na virilha que preciso queimar o quanto antes. Até o ordinário molde do meu rosto só ficou bonito quando usado na minha filha... Fora isso não me destaco por nada exatamente, e foi assim durante toda a minha vida, mesmo naqueles anos em que a aceitação pelos outros era tema central da minha torturada existência social. Durante a adolescência foi difícil aceitar minhas limitações. A religiosidade, o fato de não ser bom nos esportes, as mãos pequenas, estar sempre acima do peso, tudo isso contribuiu para que eu me desenvolvesse com uma personalidade um pouco mais retraída, subjetiva, romântica e ligeiramente depressiva...
Então a gente cresce, vira homem, assume responsabilidades, descobre nossas aptidões, manda o mundo tomar no cu, e segue andando pela selva de pedra em busca de sobrevivência, compartilhando experiências e descobrindo que todos esses medos e incertezas são tão universais quanto umbigo... todo mundo tem, teve e terá. Em muitos casos, torna-se difícil superar certas limitações, e às vezes a ajuda de amigos apenas não é suficiente, precisamos recorrer à ajuda profissional. Psicólogos, psiquiatras e psicanalistas estudam durante anos pra ficar escutando e analisando a condição ruim de gente que não conseguiu superar esse sentimento de frustração e passou a vida inteira se sentindo mais na merda do que todo mundo. Esses deveriam assumir logo suas fraquezas, colocar o rabinho entre as pernas e procurar a ajuda desses profissionais...
Isso o cara deve fazer ANTES de ter uma piração total, pegar uma arma e entrar numa escola para atirar em meninas de dez anos à queima-roupa porque o miserável era desprezado durante a infância. Porque quando o filho da puta começa a achar que sua vida é pior do que a dos outros, é geralmente isso o que acontece. O cara não se trata, se sente sozinho, humilhado, e acha que a culpa disso tudo é do mundo, e não dele que não teve competência suficiente para se socializar adequadamente. E aí quer notoriedade, vai matar os filhos de quem não tem nada a ver com sua existência medíocre e SÓ DEPOIS estoura os próprios miolos. Meu amigo, você leitor que se por algum motivo estiver vivendo drama semelhante, faça um favor para mim e pra toda a humanidade, ESTOURA A SUA CABEÇA AGORA, antes de fazer qualquer besteira. Porque pra todo mundo já é difícil demais lutar todos os dias para sobreviver financeiramente, sustentar os filhos e o governo, agüentar jornalista falando que pobre não pode ter carro e ainda ter que chegar em casa e ver certas notícias na televisão. Todo mundo tem vontade de descarregar tudo num Dia de Fúria, mas é de ficar puto quando a gente vê um retardado fazer isso. Eu já me sentia indignado quando escrevi minha crônica Big Brother 174, e agora parece até que pressentia que outra tragédia como essa ia acontecer, porque no momento em que soube do que houve naquela escola do Rio de Janeiro eu só pude pensar em minha filha de 5 anos sozinha em uma escola... e de novo aquele sentimento de impotência se abateu sobre mim.
Se tem gente tentando entender a cabeça desse desgraçado Wellington, não sou eu. Lamento apenas que ele tenha morrido antes da hora. Não há o que entender, o rapaz se saía bem na escola, era bom nos esportes, e não conseguia se socializar. Se estava enlouquecendo, PROCURASSE AJUDA, não esperasse o mundo conspirar pra salvá-lo, porque ele NÃO FAZ ISSO. A felicidade de cada um de nós está em nossas próprias mãos, ainda que nossa destruição possa estar nas mãos de outros. É assim, é a vida, é cruel mas é a lei do universo, e ela vale pra todo mundo.
Se a cada sentimento de rejeição eu fosse estourar os miolos de alguém, não haveria mundo que chegasse. Mas com o tempo, a gente começa a enxergar as compensações, e vê que o mundo não é tão injusto assim. Eu tenho saúde. Posso comer de tudo e não passo mal. Sei nadar. Tenho pai, mãe, irmãos e filha. Todos eles sabem que os amo porque já ouviram isso da minha boca. Sei também que a recíproca é 100% verdadeira porque já ouvi deles declarações igualmente apaixonadas, quer coisa melhor do que isso?
Antes de enlouquecer, procuro pensar que existem pessoas que contam comigo, e precisam de mim bem e feliz. Essa cambada da família aí vibra e torce pelo meu sucesso. Tenho amigos onde trabalho que precisam que eu execute bem minhas tarefas para que as deles não sejam prejudicadas. Tenho uma filha que acha que eu sou o Super-Homem. Para aquelas pessoas que conheci e vivi por tempo suficiente para fazer a diferença eu preciso tomar uma atitude positiva, vencer minhas barreiras, minhas limitações, e aceitar minhas mediocridades para não mergulhar na insanidade, pois minha vida não pertence só a mim, embora seja de minha total responsabilidade.
Mas hipoteticamente falando, ainda que a consciência de tudo isso me fugisse um dia, ainda que o fardo da minha existência fosse tão grande que eu já não conseguisse suportar, que nenhuma psicanálise ou Rivotril tenha surtido efeito além da eventual brochada, que eu acabe somente comigo mesmo sem pra isso ter que atrapalhar a vida de ninguém que não tenha nada a ver com isso. E fica a dica, meu amigo. Se você tá sozinho, se sentindo desprezado pelo mundo, pare de achar que estão menosprezando você, às vezes é só pelo fato de você ser um babaca mesmo, vai se tratar, ler, estudar, descobrir que existem outros como você, desabafar, ALGUÉM nesse mundo vai querer te ajudar, nem que você tenha que pagar pra isso, procure umas prostitutas, trabalhe, faça exercícios, entre para uma academia de artes marciais pra descarregar a tensão, faça atividades em grupo, TOME UMA ATITUDE...
Ou morra sozinho, o que ainda é muito melhor do que ser lembrado eternamente como um grande filho da puta.
sábado, 9 de abril de 2011
Ascensão e Queda dos Morlocks
Sempre acreditei que querer reduzir toda a realidade do universo ao que nós simples mortais conseguimos perceber com nossos cinco sentidos é um materialismo tolo, pois quanto mais evoluídos nos tornamos, descobrimos que existem mais coisas entre o céu e a terra do que acredita nossa vã filosofia. Com toda a minha criação e formação, sempre me vi como um místico, uma pessoa para o qual os limites da física clássica nunca foram suficientes para explicar os lampejos de uma alma inquieta e a força de um espírito devastador.
Por muitas vezes, e durante muito tempo, e há que se dizer que até os dias de hoje, me senti um desajustado social, ou simplesmente uma pessoa deslocada no tempo e no espaço. Ocultistas orientais me diriam que a energia que emana do meu chakra da terra, o Muladhara, está enfraquecida, por isso não consigo firmar raízes no chão onde piso. Alguns espíritas me diriam que é um vazio deixado em vidas passadas, algo que preciso compensar nessa vida. Meus irmãos diriam que sou doido mesmo. Acontece que, onde quer que eu viva e onde quer que eu esteja, em algum lugar e algum momento sempre senti algo errado, uma sensação de desapego, de não pertencer ao momento presente, de estar assistindo minha vida na terceira pessoa.
Mas entre o me entender como gente e os dias de hoje houve um hiato reconfortante nesse ligeiro incômodo. Aconteceu entre os anos de 1997 e 1999, no período em que estudei no Colégio Técnico da UFMG. Eu tinha 17 anos, e naquela época fiz parte de um grupo de pessoas que ao longo de sua vida se sentiram tão excêntricos quanto eu.
Aconteceu numa manhã normal quando surpreendi uma disputa de olhares entre duas conhecidas. Elas sempre faziam isso, mas naquele dia, enquanto observava a disputa, vi nos olhos de uma delas um brilho vermelho intenso e incomum...
Eu me assustei, pois nunca tinha visto nada assim, senti arrepiar o corpo inteiro, fugi correndo, o grupo não entendeu nada. As meninas vieram até mim, com o namorado de uma delas, e me perguntaram o que tinha acontecido. Eu não conseguia encarar a menina dos olhos vermelhos, ela olhava para mim e ria muito, mas eu simplesmente a estava vendo de forma diferente, mais forte, capaz de me esmagar só de olhar pra mim. Era estranho, intenso, inexplicável. Confessei quase sem voz que os olhos dela brilharam quando ela encarava a outra, e que eu nunca tinha visto nada assim... “como você fez aquilo?”
Com a segurança de um adulto que explica para uma criança as lições mais simples da vida, ela me disse: “Não fui eu quem fez você ver aquilo, Gustavo. Foi você mesmo. Você também é sensitivo... “
Aquele momento marcou minha vida de uma forma inesperada. Depois de algumas explicações, cada um do grupo começou a me contar histórias surpreendentes de coisas que já tinham visto e ouvido desde que “descobriram” que tinham uma sensibilidade fora do comum. Éramos cinco pessoas, a Pat - a menina dos olhos vermelhos; o namorado dela; a Amanda, cuja ligação com ela vinha do fato de termos nascido no mesmo dia e outro amigo meu, o Marco Túlio, um especialista em assuntos exotéricos. “Nossa”, eu comentei, “vocês são tão estranhos, parecem um grupo de Morlocks”.
Tive que explicar para as meninas que os Morlocks eram um grupo mutante do universo em quadrinhos dos X-Men, degenerados demais para viver em sociedade, eles se escondiam nos esgotos e sofriam todo o tipo de preconceito. E nosso grupo estava batizado, a alcunha de Morlock pegou e nos tratamos assim por longos e maravilhosos dois anos.
Depois nos tornamos adultos, e o cérebro adulto não passa pelas mesmas transformações neuroquímicas que um cérebro adolescente, o que é capaz de fazer-nos enxergar coisas extraordinárias. O excesso de ondas beta aos poucos vai vilipendiando nossa subjetividade, e quando menos esperamos, nos tornamos parte do sistema. Mas por uma dessas razões que a própria razão desconhece, o grupo dos Morlocks nunca morreu de fato. Cada um de nós seguiu sua vida, a Pat não se casou com seu namorado da adolescência, a Amanda continua fazendo aniversário no mesmo dia que eu e o Marco Túlio é o mesmo Marco Túlio de sempre, trilhando o caminho do guerreiro. Inexplicavelmente, eles sempre (mas SEMPRE) surgem na minha vida nos momentos em que eu MAIS PRECISO, não sei explicar como, mas nas minhas fases mais decadentes, como anjos enviados, algo dentro deles faz com que me procurem, sem que eu grite, esperneie ou simplesmente manifeste qualquer sentimento de tristeza.
Eu que depois de onze anos já nem pensava mais nos Morlocks (como Morlocks, claro!) fui surpreendido com a leitura de uma carta que havia escrito a muitos anos atrás, numa época de sonhos que um adolescente chamado Gustavo havia depositado nesse adulto chamado Gustavo. E , apesar de não ter me tornado milionário às vésperas de completar 30 anos eu sei que não decepcionei aquele garoto, porque continuo essencialmente o mesmo sujeito, e conservo as mesmas amizades importantes. E mais maravilhoso ainda, continuo sendo visto por essas pessoas, apesar de todas as besteiras que cometi na vida, com os mesmos olhos puros de quando tinham 17 anos.
A forma como nos tratamos acaba definindo aquilo que somos. Nosso grupo sempre foi estranho, porque assim nos sentíamos, assim nos definimos e assim éramos. Agora adultos, o misticismo não deixou de fazer parte de nossas vidas. Por isso mesmo, os antigos Morlocks vêm me alertando a respeito da minha alcunha de Escritor Maldito, “o que não combina com uma pessoa doce como você”, me disseram. Ser maldito significa ser repleto de maldições, e confesso que não tenho atraído muita sorte pra mim ultimamente. Péssimos negócios financeiros, dificuldades com o carro, apatia com a família, problemas insolúveis no trabalho, foras inexplicáveis, notas baixas na faculdade, bom... minha avaliação dos meses de outubro até agora não tem sido lá muito positiva. E, como nunca aceitei ser um expectador passivo da minha própria vida, sei que para atrair positividade eu preciso tomar atitudes positivas, a começar pela mudança de nome.
Então, peço desculpas a meus seguidores acostumados com o título anterior e que por algum motivo tenham encontrado dificuldades para voltar a esse blog (por causa da mudança no link, e tudo o mais). Mas não há o que se lamentar por deixar de ser maldito... no mal sentido da palavra. Malditos estão espalhados por toda a parte, no elenco do meu Big Brother, ou nas câmaras dos deputados proferindo em público baboseiras que já deveriam ter sido enterradas junto com aquelas pobres crianças no Rio de Janeiro...
Assuntos para o próximo post... de AMANHÃ.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
ESCRITOR MALDITO
Cada dia que passa eu chego à conclusão que meu negócio mesmo é escrever... No início, foram as aulas de Cálculo Diferencial e Integral e Geometria Analítica e Álgebra Linear que me fizeram pensar assim, afinal de contas essas disciplinas são uma afronta à qualquer brasileiro mal iniciado nas artes matemáticas, algo que hoje em dia gira em torno de 95% da população.
Ao contrário do que pensam alguns, escrever é uma arte. Diferente da lógica matemática, em que os doutores do ICEx(Instituto de Ciências Exatas da UFMG) conseguem fazer tudo se encaixar perfeitamente, fazendo-nos nos sentir uns completos idiotas, o encaixe das letras não depende do conhecimento de regras pré-estabelecidas. Ou você sabe, ou não sabe. Se não sabe, nada fará com que saiba. Se sabe pouco, pode melhorar muito, e vir a saber. Eu sempre gostei de escrever, embora soubesse pouco. Ter feito Letras na UFMG não me tornou cronista, isso é algo que eu sempre gostei de fazer, mas não num blog como faço hoje. Até porque antes de 2002 os blogs não eram tão famosos como atualmente...
Infelizmente, escrever não tem lá o prestígio de outras formas de arte em nossa sociedade brasileira. Isso pelo simples fato de que nós brasileiros temos preguiça de ler. Eu, particularmente, acho uma arte estranha mesmo. Ela não tem beleza em si... você pega um texto e olha de longe... putz, que preguiça, não vou ler isso não. Diferente de uma imagem que te atinge no ato, em suas diferentes tonalidades. Atualmente as editoras “apelam” para capas de livros cada vez mais chamativas, cheias de cores e ilustrações, até alto relevo, para atrair os leitores para o mesmo fundo branco repleto de letras pretas formando palavras que compõem todos os livros desde a Antiguidade.
A música consegue ser ainda mais sensacional. Você não precisa encará-la pra perceber sua essência... ela te pega pelas costas, de olhos fechados. E quando é mesclada à dança, que é a própria representação visual das músicas... bem, talvez mil palavras não sejam suficientes para descrever essa forma de arte...
O cinema consegue mesclar todas essas formas e criar a sua própria linguagem... imagem, música, dança... e uma série de outros recursos que provocam nos expectadores passivos múltiplas sensações. A escrita não. Para alcançar o efeito da arte da escrita é preciso um esforço inicial do leitor... ele precisa olhar para o texto, começar a decodificar as primeiras palavras, sentir do que se trata a história... ir imaginando aos poucos. É necessário um esforço ativo do leitor, por isso mesmo, um texto pra ficar realmente famoso, atingir várias pessoas, provocar diversas emoções, tem que ser realmente bom. Tem que convencer o leitor mais preguiçoso, ele tem que ter escutado falar desse texto em algum lugar, gostar do escritor, ter lido algo dele antes... coisas do tipo.
Por isso mesmo eu fiquei emocionado com as manifestações de admiração que vieram da leitura do meu último post (Auréola). Não só recebi comentários no próprio blog, mas recebi telefonemas, scraps e torpedos de leitores que se envolveram com uma de minhas grandes histórias. Inclusive da própria Bia. E esse foi um dos motivos que me levaram a chegar à conclusão de que meu dom mesmo é escrever.
É também minha maldição.
Poucas pessoas entendem que ser um artista não quer dizer necessariamente que somos artistas da vida. Engraçado como muitos acabam me procurando para conhecer quem é o cara que escreveu tal coisa, de repente com a idéia errada de que eu posso ter algum tipo de aura especial... e acabam se decepcionando, porque na minha mediocridade, eu sou um ser humano normal, que sua, tem gases e cheira mal se não tomar banho todos os dias.
Ora, invariavelmente trombamos na rua com dezenas e centenas de cantores, atores, escritores, pintores e cineastas sem que a simples presença deles não nos cause o mínimo espanto. Ás vezes eles estão no nosso caminho quando precisamos atravessar uma avenida movimentada e o fato de estarem ali só nos causa incômodo. A arte não nos marca de maneira especial... nós somos simplesmente o que somos. Então, torna-se frustrante para qualquer artista ser abordado por algum dos admiradores da sua arte e perceber nesses a decepção por não ver no autor a própria arte.
É claro que meus textos são a pura expressão do que eu guardo dentro de mim. Isso por si só pode levar alguns a querer ver em mim a força que vê nos textos. Mas não é bem assim. Minha forma de expressão pessoal, social e profissional é diferente...Eu não sou minhas crônicas, assim como James Cameron não é Avatar, e Elis Regina não era como nossos pais... Auréola é capaz de arrancar lágrimas e suspiros de admiração porque a história arranca lágrimas... e isso é algo que não dependia só de mim. Saber transmitir isso, fazer com que você, leitor, sinta o que eu senti e o que aprendi com a Bia, sim, é um talento desse artista, mas a natureza tem suas compensações, e pode ter certeza que você realiza muitas coisas admiráveis aos meus olhos, mesmo que com seu texto você não seja capaz de me contar.
Escrever bem muitas vezes é uma maldição, porque abre caminhos que o escritor não é capaz de percorrer. Imagine você leitor que a Cameron Diaz lesse uma de minhas crônicas (hipoteticamente falando, claro. Vamos supor que ela tenha aprendido português com o Rodrigo Santoro!) e tenha achado o máximo o que eu disse sobre a Síndrome do Pavo. Ela continua lendo mais alguns textos, detesta o Big Brother 174 e não curte muito o A favor do coletivo. Fica meio em cima do muro quando o assunto é Desligião mas vai à loucura quando lê Auréola. Então ela deixa um comentário. Me manda um e-mail. Eu respondo, achando engraçado, ou no mínimo que é um fake qualquer...
Ela não desiste, me adiciona no seu MSN. Com muito custo, consegue provar que é de fato a Cameron Diaz e que adora a forma como eu escrevo. Ora, pelo MSN um escritor que se preze escreve tão bem quanto em qualquer outro lugar... Eu interajo magistralmente com a atriz hollywoodiana e ela fica impressionada com minhas respostas, minha criatividade, meu jeito de “falar”...
Então finalmente ela vem para o Brasil e quer me conhecer...
Caras... eu vou fazer o quê??? Ficar de frente para a Cameron Diaz, aquela blond girl fantástica... e começar a suar como um louco, minha voz vai falhar, minhas mãos vão tremer... Imagina se ela chega num domingo – naqueles dias em que eu não faço barba e fico de bobeira em casa sem me produzir pra nada. Que fiasco! Lá se vai a imagem do Escritor Maldito por água abaixo. Ou no mínimo, ia me tornar ainda mais maldito...
Talvez eu não tenha sido preparado pro assédio... algumas pessoas tem esse dom. Eu não. A admiração sim,é uma coisa louvável, e faz bem. Mesmo que comentários completamente discordantes nos fazem sentir que produzimos um efeito. Ninguém escreve pra jogar seu texto no vazio, por mais miserável que seja. A indiferença completa, essa sim é deprimente. Como é deprimente a indiferença de algumas pessoas que não vêem o escrito no escritor... Porque ainda que o escritor não tenha lá as mesmas qualidades que se percebem quando se lê seu texto, ele é uma pessoa única, com qualidades suficientes para se tornar na vida de qualquer um uma pessoa inesquecível...
Que o digam aqueles que convivem com ele há muitos anos, e ainda que admirem profundamente o Escritor Maldito, amam ao Gustavo incondicionalmente...
Gustavo Jonathan Costa
“Porque a vida vale a pena HOJE!”