segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Genesis 2, 18 - Ou mais uma crônica de fim de ano

Muitas vezes, entre um cochilo e outro, uma crônica brota na minha cabeça como se tivesse sido enviada pelos Anjos (sabe-se lá de se do Céu ou do Inferno) via Sedex. Talvez seja isso o que os religiosos chamam de inspiração divina, aquela assinatura mágica que diz quando um texto pode ser considerado santo e quando não pode. A julgar pelo que é considerado livro sagrado, dou graças a Deus por meus textos continuarem sendo tratados como apócrifos, pois se levar em conta o meu modus operandi atual, não é meu modelo de vida que irá mostrar ao rebanho perdido o Reino dos Céus.
Não é que eu me julgue amoral em qualquer sentido do termo. Pelo contrário, sempre fui a favor do mais fraco, sempre preferi dar voz às minorias ao invés de repetir o que já dizem as culturas dominantes. Inteligência existe pra isso. As classes dominantes (nossa, isso soa tão marxista...) dizem muitas coisas estúpidas a fim de manter sua posição de dominantes, mas as classes desfavorecidas também o fazem. As classes pensantes devem procurar dizer o que ainda não foi dito por ninguém, ou pelo menos, dizer aquilo que vem de si mesmo, sem reproduzir a fala de outro.
Contudo, retomando meu primeiro parágrafo, esta crônica não veio como um presente, ela foi tortuosamente trabalhada, assim como aquela que falava da minha amiga Ri... Mas fim de ano merece reflexões, e volta e meia eu me lembro do que escrevia há um ano sobre o Natal e o Ano Novo, e sinto-me arrepiado por ver que tinha guardado dentro de mim tanta mágoa contra um inimigo invisível, que logo se mostrou ser... Eu mesmo!! Um Escritor que se auto-intitulava Maldito não podia esperar ter muita sorte na vida, e após uma sequência memorável de desventuras, chegou ao final do ano, engraçado... mais ou menos como eu chego agora, ou quem sabe dessa vez eu esteja ainda pior, exceto por um detalhe...
Dez quilos mais gordo, tendo entrado na casa dos trinta, ganhando menos, quebrado financeiramente e tão sozinho como no ano passado, 2011 foi um dos anos mais difíceis que já vivi em toda a minha vida. Mas uma vez que eu abri mão de tudo o que eu julgava que me fazia infeliz (esposa, emprego, casa) eu descobri que a felicidade não estava de fato nas coisas, nem na ausência delas. E o maior momento da minha vida foi descobrir que não existe nada de errado em ser fraco, não há vergonha em sofrer. A melhor coisa em ser sozinho, em viver sozinho, é que não é necessário fingir nada pra ninguém. Se quero rir, eu rio, se quero chorar, eu choro. Pelos motivos mais inúteis que se possa existir. Porque meu sentimento é verdadeiro. Dias atrás me peguei numa discussão com uma colega de trabalho, pois estava praguejando contra a chuva que caía há dias. Eu tenho uma implicância pessoal contra chuva, ela não me agrada em momento algum, mesmo quando vem só quando estou me preparando para me deitar. Então, enquanto reclamava, minha amiga evangélica me disse que não devia dizer aquilo, pois a chuva vinha de Deus. Eu retruquei: Eu digo que não gosto, porque NÃO gosto. Posso até dizer pra você que gosto, mas Deus sabe que eu detesto chuva, então pra quê vou dizer em voz alta que gosto e aceito algo que não é o que estou sentindo?
Eu poderia ter dito muito mais, mas aí eu provocaria uma discussão desnecessária, perderia um tempo precioso, e não chegaria a lugar nenhum: vulcões em erupção também vêm de Deus. Podemos reclamar deles? E dos relâmpagos? E dos terremotos? E do veneno das cobras? Detesto quando me dizem que devo gostar de tudo o que é porcaria que acaba com a vida da gente porque é natural, “vem de Deus”, aff... façam –me o favor, sejam honestos consigo mesmos, e admitam que também tem aversão à certas “coisas de Deus”.
Por muito tempo eu imaginava que pra ter o direito de sofrer, eu precisava entrar numa fila e esperar minha vez. A cada situação nova que se abatia sobre mim, era inundado com mensagens de que eu deveria era estar feliz por ter braços e pernas e olhos. Eu agradeço por ter braços e pernas e olhos, mas eu sofro de vez em quando. Sofro quando não consigo pagar minhas contas em dia. Sofro quando magôo uma pessoa que gosto muito. Sofro quando tiro notas baixas na faculdade, e sou reprovado. E nem meus braços e pernas conseguem me tornar mais felizes nesses momentos. É egoísmo da minha parte querer extravasar minhas frustrações em momentos como estes?
Deus não rejeita sofrimento. Aprendi isso, e acho que devemos repetir todas as vezes em que achamos que nossos motivos não são suficientes pra nos fazer sofrer. Se estamos sofrendo, estamos sofrendo. Sofro porque minha namorada me deu um fora, e a solidão que eu sentia antes dela se tornou insuportavelmente maior. Sofro porque meu carro me trouxe muitos problemas, exigiu grandes investimentos para que estivesse em condições de me transportar e agora não disponho de recursos para usufruir desse benefício, sofro porque desapontei uma pessoa muito especial que conheci esse ano, e não consegui me dirigir a ela pra dizer o quanto eu sinto, o quanto ela me faz falta...
Mas nada disso me faz chegar ao fim de 2011 cheio de ódio no coração. O Natal na Casa do Saci foi de uma simplicidade ímpar, conseguimos mais uma vez iluminar os sonhos da minha filha de seis anos, e pudemos dar a ela o maior dos presentes, a oportunidade de ter papai e mamãe juntos na casa da vovó, como uma família... como a família que somos. Não há nada que pague sua alegria, seu sorriso que ainda conserva o brilho inocente, que tem se esvaído com o passar dos anos, mas que nesse 25 de dezembro voltou a brilhar com toda a intensidade.
Continuo precisando de mensagens de paz durante todos os dias do ano, mas é verdade que tenho uma fé enorme nesse ano de 2012, pois consegui cumprir em 2011 todas as metas que me propus, ainda que o preço tenha sido alto. Na pior das hipóteses, em pouco menos de 365 dias, deixei para trás um escritor maldito, que odiava o Natal, o Ano Novo e tudo o que as festas representam, para chegar nesse fim de ano sorrindo, não pelo que passou, mas por aquilo que tenho certeza que vem por aí. Com lágrimas nos olhos, é verdade, mas elas são o preço de quem optou por não desistir dos sonhos que brotaram no seu coração.
Feliz Ano Novo Meus Queridos.
Reencontraremo-nos em 2012, no meu próximo post.
Gustavo Jonathan Costa
“Porque a vida vale a pena HOJE!”

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DEUS CACAU

Se eu fosse fundar uma religião que definisse a nova ordem mundial, fundaria uma que aceitasse todos os seres humanos , independente de raça, costumes, origens ou time de futebol. Seria uma seita global, onde todos seriam aceitos, teriam suas vozes ouvidas e a todos seria garantido o acesso ao Paraíso. Haveria apenas uma exceção. Em meus templos, e da minha vida social, iria excluir os compulsivos comedores de chocolate, e a eles iria legar somente choro e ranger de dentes.

É cientificamente comprovado que o chocolate atua na liberação dos hormônios ocitocina e serotonina, responsáveis pelas sensações de prazer e bem estar. Estes hormônios também são liberados após o ato sexual. Algumas pessoas, principalmente mulheres, tem com o chocolate uma relação quase passional. As sensações provocadas pela ingestão de um Ferrero Roche podem ser descritas quase como um orgasmo. Um marido que, ao chegar em casa, pega sua mulher atacando uma barra de chocolates Garoto pode acusá-la de pedofilia e traição. Portanto, pela incontrolabilidade da compulsão de comer chocolates, em meu mundo virtualmente perfeito, os chocólatras seriam banidos.

Imagino muitos leitores se indagando nesse momento: “mas qual é o pecado que existe em comer chocolate?” De fato, o questionamento é válido. Ser chocólatra não é o que define o caráter e as virtudes de uma pessoa. Você acorda todos os dias pela manhã, trata bem seus familiares, trabalha, paga seus impostos, é generoso com os amigos e vizinhos, evita fofocas, faz exercícios físicos, estuda, recicla seu lixo, faz tudo direitinho, ou quase tudo, mas o que faz com uma barra de Talento joga por terra todas as suas virtudes, e você é classificado como pária social por causa do relativismo injusto de alguns.

Se ao invés de chocólatras eu tivesse dito que deixaria de fora os homossexuais, acredito que muitos teriam concordado logo de cara que a eles eu deveria de fato negar o Reino dos Céus. Acontece que, assim como os chocólatras, os homossexuais acordam pela manhã, tratam bem seus familiares, trabalham, pagam impostos, são generosos com os amigos e vizinhos, evitam fofocas e etc. etc. etc... Ou não. Alguns tratam mal seus amigos e familiares, causam intrigas, são invejosos, maliciosos, promíscuos... Assim como muitos heterossexuais. Querer classificá-los, rotulá-los como uma classe à parte, definindo seus modos e comportamentos, é de um reducionismo burro que só pode se submeter pessoas extremamente pouco esclarecidas que acham que uma pessoa pode ser definida pelo que faz sexualmente. E na ânsia de ficar exultando as maravilhas das virtudes cristãs, muitas pessoas esquecem de que a mesma Bíblia que combatia o homossexualismo era a favor de guerras em nome de Deus, defendia a escravidão e ordenava que os infiéis arrancassem fora seus olhos se eles o fizessem pecar.

Tenho uma relação muito pessoal com Deus, mas tenho muita pena de quem acha que umas poucas mil páginas escritas a mais de dois mil anos atrás podem conter todas as verdades do Universo, e por conhecerem de cor alguns versículos soltos e descontextualizados, saem pelas ruas e pelas redes sociais emulando o comportamento dos fariseus que o Deus deles tanto combateu. No meio de suas rodinhas, batem no peito e se dizem os maiores pecadores, mas em sociedade não conseguem se misturar às pessoas que não compartilham com eles das mesmas “verdades”. Parafraseando André Gide, eu realmente creio naquelas pessoas que buscam a verdade, mas duvido dos que a encontraram. Pois se esse a quem chamam de Deus é tudo mesmo que dizem, Ele nos deu inteligência suficiente pra questionar, duvidar, colocar o dedo no nariz Dele e dizer: PROVA!! Isso não diminui sua divindade, se foi Ele quem nos fez, está preparado pra isso. Ele não vai ficar sofrendo e chorando como gostamos de imaginar que a cada queda nossa ele sofre junto conosco. Se ele controla nosso destino, não precisa sofrer, a não ser que seja masoquista. Se tudo o que acontece está nas mãos Dele, por quê então diabos um cara passa onze meses estudando para um vestibular para ser aprovado e morrer atropelado por uma manada de búfalos na semana seguinte, sem ao menos ingressar na faculdade?

São estes questionamentos que sempre me pego fazendo, sem o menor sentimento de culpa ou temor por castigos divinos. Infelizmente por isso, ou talvez graças a isso, não consigo me encontrar em nenhum grupo religioso. Em compensação, durante toda a minha vida, fiz amigos entre os homossexuais, prostitutas e intelectuais, sem que pra isso eu tenha que ter me tornado homossexual, me prostituído ou ficado mais inteligente... Isso simplesmente porque eu gosto de pessoas boas. Cada um traz dentro de si o que acha que são pessoas boas, e elas estão por toda a parte, assim como as pessoas más, elas podem ser encontradas tanto nas igrejas quanto nas zonas de prostituição, tanto entre os atleticanos quanto entre os cruzeirenses, ou entre os evangélicos e os espíritas.

Quando levanto as mãos pro alto e agradeço a Deus pela sorte que tenho: profissão, filha, emprego, família, amigos, faculdade eu penso: então qual deveria ser a atitude daqueles que não tem nada disso? Ódio? Revolta? Afinal de contas, não fiz necessariamente nada para Deus para merecer o que tenho... fiz por mim e para mim mesmo. O que me torna especial? O que torna outras pessoas menos especiais? Ter pernas, olhos e saúde enquanto outros não tem... é vontade de Deus? Por que as coisas boas que acontecem no mundo são obras de Deus, e as desgraças são culpa nossa?

Descobrir Deus é muito bom, mas não se faz isso sem passar pelas coisas que Ele criou. Limitar sua inteligência para deixar tudo nas mãos Dele é devolver uma responsabilidade que Ele já deixou pra você. Se vira. Ele não quer que deixemos de lado nossa inteligência, nossa criatividade, nossas dúvidas, em troca de uma fé cega, uma fé em nada... Deus não faz isso. Quem está dizendo isso são homens ignorantes, ou por ingenuidade ou por malícia.

E se ainda tiver dúvidas, pode comer seu chocolate à vontade. A não ser que você seja alérgico a tal iguaria, nada de mal pode lhe acontecer, além de uns quilinhos a mais... e muito prazer, é claro! Se não acredita, questione, e prove o contrário.

Até meu próximo post.

Gustavo Jonathan Costa

“Porque a vida vale a pena HOJE!”

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Never give up!!!

Na correria do dia-a-dia eu fico imaginando qual será a última vez em que me atrevo a postar mais uma crônica nesse meu blog. Se as vertentes do Naturalismo estiverem corretas, é fato que o homem é determinado pelo meio onde vive, e no mundo das ciências exatas, é mais fácil calcular integrais do que voltar pra mim mesmo e traduzir em palavras o que se encontra na alma humana. Mas algumas características são essenciais, transcendem qualquer determinismo, e ainda que sejam raras minhas aventuras neste blog, elas podem tender a zero sem nunca serem iguais a zero.

O tempo passa e a vida deixa marcas nas pessoas. Sempre achei que isso fosse uma metáfora, mas é um fato. E não falo somente de rugas, estrias e pés de galinha, ou barrigas de chope. Minha filha tem só seis anos, e seus olhos já são muito diferentes dos que ela tinha aos dois e três. Ela já tem maturidade pra saber que os pais dela falham, e falharam com ela quando não souberam manter viva a união de sua família. Ela sabe que pode ser castigada quando diz a verdade, mesmo quando insistimos que ela deve sempre dizer o que pensa e sente. Sabe que não adianta chorar e implorar pra não ser “abandonada” numa escola cheia de pessoas estranhas, porque ela vai ser deixada lá de qualquer jeito... E cada decepção, cada estrago, diminui um pouco aquele brilhinho que ela carregava ao nascer, aquela inocência...

Quando vejo minhas fotos de infância, reconheço quase tudo em mim: as mãos, o nariz, o cabelo... exatamente como são agora (com mais pêlos hoje, diga-se de passagem). Mas os olhos, aah... mudaram muito. É praticamente impossível emular aquelas expressões, elas vinham de uma alma que ainda não sabia o que era se decepcionar com as falhas dos pais, dos amigos, dos colegas de trabalho e principalmente com as minhas próprias...

Eram olhos de quem não sabia ou não precisava lidar com perdas...

Perder é uma das lições mais duras e mais valiosas da vida. A experiência da morte, de perder pessoas queridas, de perder um amor, de perder um ano escolar, nos massacra, oprime, e nada há que nos faça recuperar o que perdemos. Se não sobrevivemos, nos perdemos também, mas o processo de sobrevivência exige algo de nós, e o preço é parte do brilho que carregávamos quando nascemos.

Felizmente, perder o brilho não nos faz mais fracos, pelo contrário. Cada vez que sobrevivemos, nos tornamos mais fortes. E serenos. Sobreviver é acreditar na vida. Porque se lutamos pra sobreviver é porque acreditamos que existe algo de bom pelo que vale a pena continuar tentando. E ainda que as marcas da decepção se salientem em nossos rostos, nosso sorriso se torna cada vez mais sincero, mais valioso, mais saboroso.

Sempre desdenhei a importância que a televisão e os meios de comunicação dão à beleza estética, mas não posso deixar de comentar o quanto achei bonito ver o sorriso de Reinaldo Gianechinni após ter raspado os cabelos para enfrentar a luta contra o câncer. Ou mesmo o sorriso do ex-Presidente Lula. Porque só Deus (e quem assistiu o filme “O Filho do Brasil”) sabe o que esse homem, ou esses homens, já tiveram que enfrentar e que deixaram marcas, e que a essa altura da vida são coroadas com um diagnóstico tumoral.

A gente sempre acredita que, aos 30 anos, estaremos colhendo frutos do sucesso (a não ser que se esteja com 29 e já se saiba que a vida é um fracasso mesmo...). Muitas vezes, eu acho que fiz as escolhas erradas, principalmente quando me comparo ao restante da minha família, quando vejo onde meus irmãos mais novos puderam chegar. Ingressar em um curso de nível superior nessa idade, em ciências exatas, é conviver todo dia com o fracasso e a derrota. Diferente de um curso de Letras, ou daqueles passageiros encrenqueiros do ônibus lotado, em um bom curso de exatas não dá pra empurrar com a barriga. Como diz minha amiga Júlia: “ou você se entende com as exatas, ou desiste delas”.

Enfrentar, e superar, o fracasso diário que é cursar pelo terceiro semestre consecutivo as disciplinas de Cálculo I e Geometria Analítica não tem se mostrado tarefa fácil. É constrangedor, embora seja a realidade de muitos, e finalmente eu percebo que estou me envolvendo com as disciplinas, com a “idéia” da coisa. Estou adquirindo a maturidade necessária pra seguir em frente nesse caminho. Acho que esse é o ensinamento mais importante... Ou talvez o mais importante seja aprender a calcular área sobre gráficos e ortogonalizar vetores, e esse seja o segundo mais importante...

Se a vida não sorriu pra mim durante todos esses anos, ela me presenteou com uma filha muito especial, com amigos que posso contar nos dedos, mas que valem por uma tropa de elite, e com uma força de vontade que só consegue me guiar em direção ao alto e avante. Pois se existe um conceito que definitivamente estou abolindo do meu vocabulário é o de “desistir”. Acredito que a palavra “desistir” só devia vir acompanhada de “nunca”, da forma como dizia minha antiga professora de inglês, quando ficou sabendo que tinha sido demitida e não podia contar aos seus alunos, em sua última aula ela insistia: “Never give up!”

Meu irmão Leo acha que sou louco. Porque só um doidão de pedra mesmo desiste de uma carreira na área de humanas – pra qual é vocacionado – pra cursar exatas. Ou vice-versa. E eu sou doidão. De pedra. Daquelas duras mesmo. Sou daqueles caras que tempera feijão com mel (Rsrs... não foi metáfora). Porque eu sei onde quero chegar, e vou insistir nisso, ainda que tudo pareça querer dizer que é hora de desistir. Se eu fosse te dar algum conselho, leitor, diria pra nunca dizer a alguém que é hora de desistir. Os mineiros do Chile não desistiram. O meu Galo não desistiu. O América não desistiu. E o Cruzeiro (infelizmente...) também não vai desistir.

E se lutar sempre é a ordem do dia, que ela seja realizada com um maravilhoso sorriso no rosto, compartilhada com uma verdadeira tropa de elite, e coroada, se Deus quiser, com diagnósticos de saúde, sucesso e paz!

Até meu próximo post... porque também não desisto desse blog.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

DE REPENTE... TRINTA (E UM DE JULHO)!!!

Engraçado como acho que poderia justificar de várias formas a minha ausência durante esses (quase) dois meses, mas o fato de não me aventurar a postar crônicas nesse período não se deu pela ausência de reflexões da vida, pelo contrário... Nunca tive tanta necessidade de repensar a sociedade moderna pós Amy Winehouse como agora, mas as pressões com a faculdade, a necessidade do ócio e (pasmem!) a falta das palavras certas me fizeram afastar dessa que é uma das minhas atividades preferidas (não, não mais do que SEXO, espero que já tenha deixado isso claro!). Mas acho que essa semana tenho motivos mais do que especiais para voltar a dirigir-me a esse querido blog e a meus fiéis seguidores, e não posso deixar passar essa belíssima oportunidade...

No próximo domingo, dia 31 de julho, completarei 30 anos de existência. Quando adolescente, achava que estaria milionário aos 30 anos e que todos os meus problemas estariam resolvidos, como num filme teen, em que numa fração de segundos o diretor avança a história quinze anos no tempo, e o garoto imberbe de pernas tortas é trocado por um ator forte, sarado, tendo finalmente conquistado sua paixão da adolescência... Na vida real não é assim que as coisas funcionam. Nós, seres humanos, pertencentes ao gênero dos homo sapiens, pansexuais, onívoros e pluricelulares não somos criaturas saídas do filme Avatar, ou de qualquer outra comédia romântica da Disney... não vivemos felizes para sempre, mas é engraçado como muitas vezes nos apegamos à situações circunstanciais para justificar a incapacidade de sermos felizes agora, como se algo de realmente relevante precisasse acontecer para que pudéssemos fugir de nossa responsabilidade com aquilo que acreditamos ser a plena felicidade. Cada dia que passa, vamos idealizando fatos que, se ocorressem, nos fariam acreditar na vida, nas pessoas, no amanhã... e vamos adiando nossos momentos de paz interior, de realizações, de compartilhamento, para que venham quando formos promovidos, ou quando concluirmos a faculdade, ou quando conseguirmos aquele emprego... e por aí vai.

Cerca de nove anos atrás, eu vivia no mundo das certezas. Com vinte e um anos, TINHA CERTEZA que tinha encontrado a mulher da minha vida, que nunca mais estudaria matemática de novo, que minha orientação era 100% católica... Hoje em dia, cursando Química na UFMG, com um casamento desfeito vivendo longe de qualquer preceito religioso (embora muito mais longe ainda de ser agnóstico... ), tudo o que sei é que as certezas que temos são grandes armadilhas das quais devemos fugir, ou nos prevenir, para evitar que grandes decepções se abatam sobre nossas cabeças...

Uma das minhas últimas certezas se esvaiu recentemente, mais precisamente no dia 01 de junho. Fui demitido de uma empresa para a qual trabalhei por oito anos. Coincidentemente, ingressei na companhia na mesma época em que comecei meu curso de Letras e me preparava para o casamento. Na época, eu TINHA CERTEZA de que não duraria mais do que seis meses naquele lugar, mas oito anos se passaram e tudo se tornou diferente. De alguma forma, o trabalho me absorveu a ponto de me definir pelo que eu fazia... e sabia fazer. Eu tinha respeito, status, um cargo elevado, tinha poder... e era extremamente infeliz!

A última razão para que eu não fosse feliz residia no fato de estar ali, fazendo o que estava fazendo. Então, com a demissão, fui forçado a encarar uma difícil realidade: não existia mais motivo para não ser feliz! Tudo dependia de mim agora. E eis que pairava a pergunta: ONDE está a felicidade? O que fazer para encontrar a felicidade?

Demorou alguns dias para eu perceber a vida não tinha ficado milagrosamente mais fácil por ter perdido o emprego e repentinamente estar livre para... fazer o que eu quisesse, ainda que não fosse nada! A cada dia eu precisava – e preciso – reinventar minha rotina porque quando acordo de manhã não sei o que fazer absolutamente. Foi amedrontador... abalou meu desempenho na faculdade (eu achava quer ia ajudar, mas só piorou!) o que me fez sentir ainda mais culpa, e pior de tudo agora era não ter a quem responsabilizar pela minha infelicidade.

Então passa o tempo e eu percebo – graças às 8 horas de sono por noite, até que enfim! – que felicidade é um conceito abstrato e subjetivo sim, mas que pode ser conquistada nas coisas do dia-a-dia que não necessariamente dependem do marco de grandes conquistas na vida. Ganhar muito dinheiro de uma vez só, ser aprovado em um concurso, conquistar alguém, traz uma enorme euforia, é verdade, mas sabemos que com o passar do tempo, voltamos ao nosso estado “normal”... não vivemos felizes para sempre! Assim como grandes tristezas não nos abalam eternamente ( a não ser que caracterizem traumas). O que nos faz viver felizes é o que fazemos com o que nos é oferecido todo dia, uma conversa com algum amigo que não se vê há algum tempo, ver um belo filme, decorar a casa, lavar o carro, tomar uma cerveja na companhia do pai, levar a filha ao parquinho e ficar empurrando-a no balanço, pagar aquela dívida de meses, dizer a alguém importante o quanto ela é especial na sua vida, comprar aquela camisa cara que você tava namorando a um tempão, fazer exercícios com prazer...

Engraçado como pequenas atitudes diárias me fizeram perceber que buscar um estado de total felicidade é inútil. É como ficar perseguindo o final do arco-íris, a gente vê lá longe, acha que está perto, mas nunca o alcança, sempre é necessário ir mais além, e esperar pela próxima chuva. E nessa inapetência, vamos culpando as circunstâncias da vida por algo que depende exclusivamente de nós. Porque no fundo, é mais fácil lamentar a própria sorte do que assumir o fardo da felicidade. Nascemos para sermos felizes, mas a inércia nos conduz a um estado de total apatia, tristeza, depressão e morte.

Não foi à toa que alguns meses atrás adotei como dogma o lema de que “A vida vale a pena HOJE”. Percebi desde minha última promoção que não era o status, não era dinheiro, ou o poder de decidir a vida das pessoas que me trariam o equilíbrio necessário para superar minhas angústias, pelo contrário. Descobri que felizes mesmo eram aqueles que ocupavam as categorias de base, que sofriam suas dificuldades financeiras mas conquistavam amizades sinceras, programavam happy hours toda sexta-feira após o expediente (eu nunca sabia a que horas ia sair da empresa, especialmente às sextas-feiras) e que conseguiam separar a vida profissional da vida pessoal. Não que eu não pudesse fazer o mesmo, para o bem de todos e da minha própria sanidade deveria tê-lo feito, mas descobri à duras penas as grandes responsabilidades que vêm com grandes poderes.

Não quero dizer contudo que a descoberta de mim mesmo fez com que eu tenha desistido de dar grandes saltos na carreira, de jeito nenhum. Por tudo o que aprendi na vida e com meus pais, acredito que somente o céu é o limite para quem não tem medo de sonhar! Mas a jornada até lá passou a ser encarada com outros olhos, pois na verdade é ela o grande desafio, muito maior do que o lugar onde se chega finalmente. Atingir a maturidade, saborear os anos que se vão, sentir que se aprendeu algo ao longo da vida, transmitir com sabedoria aos mais jovens o que se adquiriu, tudo isso traz um prazer imenso, e para os que tem medo que o tempo passe, eu sempre me lembro que envelhecer não é tão ruim quando se pensa nas alternativas...

E que venham mais trinta anos!!

Gustavo Jonathan Costa

“Por que, mais do que nunca, a vida vale a pena HOJE!”

PS: A propósito, na segunda-feira, dia 01 de agosto, começo a trabalhar novamente. Desejem-me boa sorte!

terça-feira, 3 de maio de 2011

DIA DO BEIJO

Como bom representante do gênero masculino, tenho uma obsessão quase obsessiva por sexo. Desgraçadamente, como não compartilho da mesma afinidade que meus congêneres por futebol, acabo não tendo outro tipo de assunto ou idéia fixa. Felizmente, o mundo moderno permite que a Síndrome de Pavo seja direcionada em prol da humanidade, na construção de aeronaves espaciais e nos fundamentos do princípio de incerteza de Heisenberg.

Também no desenvolvimento da arte de se relacionar fomos beneficiados com a Síndrome do Pavo e com a emancipação feminina, que até onde me consta, tem agraciado mais homens do que mulheres, pois se tal fenômeno social não houvesse ocorrido, não teríamos tantas beldades posando nuas nas revistas masculinas (e ainda sendo consideradas modelos sociais). Como um selvagem domesticado, aprendi a direcionar minha obsessão obsessiva para outras nuances do corpo feminino, capazes de me transmitir tanto ou mais prazer do que a simples prática sexual.

A boca por exemplo... esse órgão enaltecido por poetas e poeteiros desde a Antiguidade - e cuja utilidade também para os "atos orais" é bem apreciada - consegue despertar nesse escritor nostálgico sentimentos que vão desde as mais inconfessáveis manifestações instintivas aos mais sublimes sentimentos. Não há quem possa negar que a maior invenção humana, superando a própria Mona Lisa, é o ósculo propriamente dito. Pois correndo o risco de parecer um grande 171, obrigo-me a dizer que a prática do beijo me seduz ainda mais do que o sexo stricto senso. Sexo é orgânico. Preciso dele, como de água e alimento todos os dias. Também é efêmero, fácil de ser conseguido se a prioridade é tão somente o atendimento a uma necessidade primitiva. É claro que, como para satisfazer a qualquer outro instinto aprimoramos e sofisticamos as manifestações de nossos prazeres. Envolvemo-nos sentimentalmente com os objetos de nossos desejos - e com as donas dos objetos. Desenvolvemos formas de conquista. Estudamos o outro, nos interessamos sinceramente pelo que pensa e sente, e somos recompensados com orgasmos múltiplos, ainda que para nós homens sejam um a cada vinte minutos, no mínimo.


Porém, pra gozar por gozar, nem é necessário parceiro. Homens e mulheres são auto-suficientes na auto-compensação mecânica da falta de sexo. Já para o beijo não. Esse requer necessariamente e obrigatoriamente uma segunda pessoa, exige que haja consentimento, e ainda que não haja amor, é necessário que haja tesão, desejo, química. Beijo tem que ter afinidade. Tem que começar com aquele leve toque nos lábios, que faz a gente sentir o gosto gostoso do batom ou do brilho, sentir a boca da garota ligeiramente mais fria que a nossa. Então, depois do primeiro selinho, vem outro, e de repente uma energia eletromagnética começa a te puxar para mais perto, e você não vê mais os olhos, o cabelo, somente aqueles lábios na sua frente.


Então alguém dá um tranco no corpo do outro. Pode ser você, pode ser ela, ninguém mais sabe, pois quando se dão conta, já estão de olhos fechados, sentindo bem de perto a respiração ofegante, um gemidinho que vem lá do fundo da alma, e por fim você quer de repente sentir tudo, as mãos envolvem as costas, o pescoço, glúteos, enquanto línguas se entrelaçam, atrevidas, uma penetrando o esconderijo da outra, em ritmo sincronizado, combinado, acordado, elas se impõem e se subjugam, dominam e se deixam dominar...

Diferente do sexo, o beijo não define papéis sexuais. Não tem regras, não tem posições, só exige que duas bocas estejam suficientemente próximas para se devorarem umas às outras. Ele pode ser comportado, por pudor, mas um beijo de verdade não consegue ser fingido, dissimulado. Prostitutas abrem suas borboletas para seus clientes, mas não conseguem beijá-los na boca. E mesmo casais cuja relação esfriou há vários anos continuam fazendo sexo embora raramente seus lábios entrem em contato.

Um beijo pode durar uma eternidade. De tão prazeroso, ele jamais sacia a si mesmo. Após o sexo, trocam-se algumas carícias, dizem-se algumas besteiras e logo o corpo cede, e acaba-se dormindo... (ou pula-se toda a parte das carícias e dorme-se imediatamente). Mas o beijo dificilmente nos deixa desvencilharmos dele. Ao nos despedirmos, gastamos horas trocando os últimos selinhos da noite (ou do dia). Nostálgico que sou, tenho registrado 69 minutos ininterruptos em um longo e demorado sorver de lábios, dentes e língua... do qual jamais me esqueço.

Sexo é bom, mas se torna ótimo quando começa com beijo. Aquele beijo que não te desgruda enquanto você a joga na parede, e se despe de camisas, shorts, sapatos, mochilas, agendas e cordões... E continua rolando solto, os corpos já nus um sobre o outro, lambendo saliva, maquiagem , suor e fios de cabelo. E quando se desgrudam os lábios, vão logo ao encontro de orelhas, de pescoços, de seios, tal a vontade e o desejo de continuar sorvendo toda a transpiração do outro corpo. Muitas vezes é acompanhado de mordidas discretas em lugares estratégicos, suplementando dessa maneira o prazer mútuo proporcionado pela boca.

Mas beijo não termina necessariamente em sexo. Depende de clima, de lugar, de ambiente, de expectativas que temos em relação à parceira ou parceiro. É claro que, se beijamos, queremos. Mas ainda que não façamos, só pelo beijo, vale a pena. A gente fica com aquela lembrança, aquela saudade, aquela vontade do reencontro, só para beijar mais, muito mais... e fazer todo o resto que ficou pra trás.

Beijo é assim. Pode ser seco, molhado, combinado ou roubado, mas tem que ter. E se for todos os dias, não enjoa não. Mas se der saudade, tanto melhor! Por isso todo dia deveria ser declarado Dia do Beijo, para que todo individuo com sangue nas veias e calor nos lábios esquecesse um pouco seus problemas e beijasse... beijasse e se deixasse beijar!

Até meu próximo post.

Gustavo Jonathan Costa

Porque a vida vale a pena HOJE!


quarta-feira, 20 de abril de 2011

ÚNICA DO MUNDO

Até mesmo um escritor nostálgico (que já foi chamado de Maldito por ele mesmo...) sofre seus vazios às vezes... poucas coisas são tão dolorosas como um parto, e isso pelo menos eu nunca vou entender o quanto, pois em sua perfeição, Deus me privou dessa responsabilidade. Mas escrever esse post foi, e está sendo tortuoso, porque diversas vezes ele foi iniciado e apagado... como se de repente me faltassem as palavras para escrever, e eis uma sensação à qual eu não estou acostumado. A verdade é que ainda que eu acredite que possa exprimir com minhas palavras o que eu bem entender, existem coisas dentro de mim que me colocam num impasse, por incapacidade, limitação humana, ou mesmo a limitação do próprio gênero crônica, lamentavelmente considerado menor dentro das classes literárias.
Geralmente dedico umas duas ou três horas para escrever minhas crônicas. Eu faço um esboço, escrevo tudo o que eu quero, sem me preocupar com correções, gramatiquices e bobagens do tipo. Meu discurso é Livre e Direto. Feito o texto, leio uma vez. Se ficou bom, não altero nada. Se for muito tarde da noite, deixo para publicá-lo no dia seguinte. Então, na hora de publicar, leio de novo. Aí começo a fazer algumas correções... elimino redundâncias, acerto concordâncias, coisas do tipo. Então publico. Aí leio de novo, porque depois de publicado é sempre possível achar alguma coisa errada. Então quando eu acho, tiro o post do ar, e edito de novo. Simples assim.
Mas essa crônica tem me custado muito mais do que qualquer outra que eu tenha escrito anteriormente, porque quando me sentei em frente ao computador eu tinha mil assuntos para expor, e caramba... eis que eu abro um Novo Documento do Word e tudo o que eu consigo ver na minha frente é uma tela em branco. O que antes era uma promessa de repente tornou-se um vazio assustador...
Eu senti como se houvessem colocado um espelho diante da minha alma...
Porque diante de tantos acontecimentos polêmicos que giram ao redor do mundo, de repente eu caí em mim sentindo que estou cansado de dar murros em ponta de faca. Simplesmente senti que não tenho forças pra me posicionar contra ou a favor do que quer que seja, preciso nesse exato momento da minha vida fazer uma pausa de espírito e cuidar de mim... Pois é bem verdade que morar sozinho traz vantagens extraordinárias, quando se trabalha e é dono do próprio nariz, mas a solidão tem seu preço, e mesmo um sujeito introspectivo como eu muitas vezes sou testado ao extremo da tolerância. Se por um lado tenho meu lar como um refúgio, um lugar onde sempre posso embalsamar minha alma e me preparar para o próximo desafio, por outro, existem ocasiões em que dizer tchau para um amigo ou colega de trabalho ao final do expediente ou da aula traz um sentimento terrível, pois sei que as cordas vocais que vibraram às seis ou sete da noite muito provavelmente só voltarão a ser usadas no dia seguinte as oito da manhã, cerca de doze horas depois.
Felizmente, a vida moderna permite que algumas janelas para o mundo sejam abertas ainda que a gente nem precise sair de casa. Escrever em um blog é uma experiência libertadora, mas não substitui o convívio pessoal, e eu considero lastimável ver que muitas pessoas acham que, se podem “ver” seus amigos todos os dias no MSN, por exemplo, então estão entrando em contato. Não percebem que no fundo não estão interagindo com ninguém de fato, apenas com uma máquina animada que reproduz o que seu amigo está digitando do outro lado do teclado.
O contato pessoal te obriga a olhar os olhos do outro, faz suas mãos tremerem, faz a gente se preocupar com a aparência, com o cheiro... até com a saúde... A gente consegue ouvir a risada do outro, o ronco da barriga, descobre para onde ele olha quando está distraído, o que diz quando bebe algumas, vê as marcas que tem no rosto, como cuida das unhas, do cabelo... se está feliz ou triste, se ainda acredita na vida ou se apenas espera algum milagre acontecer...
A experiência da solidão tem me feito uma pessoa mais sensível a algumas coisas que passam despercebidas àquelas que sempre tiveram com quem contar. Eu procuro valorizar pequenos gestos, como um aperto de mão bem forte, um toque nos cabelos, ou um beijo no rosto, porque preciso sentir as pessoas que estão ao meu redor, e preciso ser presente. Uma mensagem pelo celular, um telefonema, um e-mail ou mesmo um scrap que não tenha sido enviado para mim e para mais 387 amigos... são coisas pequenas que podem fazer toda a diferença no dia de quem passou 24 horas esperando por nada (e só recebeu sms da operadora...)
Minha filhinha sabe que todas as vezes em que conversamos, ao nos despedirmos eu devo dizer “te amo muito, mais que tudo”, ao que ela responde da mesma forma. E ainda desenha no ar um coração, beija as mãos e sopra pra mim dizendo: “um coração pra você”. Porque eu quero ensiná-la desde criança que bonito mesmo é dizer o que se sente, é expressar quando se gosta de alguém, e não ficar se escondendo atrás de máscaras de indiferença e aspereza. Aprendemos e reforçamos, principalmente na adolescência e juventude, que estar apaixonado é motivo de vergonha, e deve ser escondido, quando feio mesmo deveria ser a atitude de quem não gosta, não se apaixona, porque a paixão nos faz sentir vivos, plenos, pois (putz, vai soar meio clichê) só quem ama consegue viver intensamente. Ainda que se sofra por amor, mesmo que a princípio isso pareça uma alienação, mas vale mais sofrer por uma paixão do que o sofrimento de nunca ter se apaixonado.
Certas coisas a gente só dá valor quando se perde. Perdi muitas coisas na vida, algumas pra sempre, outras não. Lembro-me de uma pessoa muito querida, que conheci há muitos anos, num retiro de grupo de jovens em Areias, que participei quando tinha entre dezoito e dezenove anos. O apelido dela era Ri, ela tinha um nome diferente e se auto-intitulava Ri, Única do Mundo. Tornamo-nos grandes amigos naquela época, a internet ainda não era uma realidade como hoje e trocávamos cartas feitas à mão mesmo. Nós ficamos algumas vezes, mas o que era mais importante pra gente era nossa amizade, nossa cumplicidade e companheirismo. Ela gostava das mesmas coisas que eu, queria estudar Química (eu já fazia o curso técnico) e simplesmente vibrava com minhas conquistas, e eu com as dela.
Depois passamos algum tempo sem nos ver, os anos se passaram e eu me casei, a vida tomou outros rumos, quando encontro a Ri de novo em 2003, num ponto de ônibus próximo à UFMG. Estava casado havia apenas um ano, contamos as novidades, trocamos e-mails (aaah, agora sim!) e prometemos manter contato a partir de então. O importante era saber que estávamos bem, e sempre seríamos amigos.
Eu não mandei os e-mails a princípio, mas com o passar dos anos me veio a saudade daquela pessoa que sempre me apoiava em tudo, e então comecei a enviar mensagens para saber das novidades, como ela estava, se tinha conseguido entrar para o curso de Engenharia de Minas que era seu sonho, enfim... por onde ela andava. Mas ela não respondia nenhum dos meus e-mails.
Pensei que ela pudesse ter mudado o endereço ou coisa assim. Eu pelo menos esperava por isso, pois com todas as promessas que já havíamos feito um pro outro de sempre manter viva nossa amizade, achava um absurdo que ela se recusasse a me responder daquela forma ou mesmo não me procurasse, ainda que estivesse namorando alguém, ou casada. Mas então finalmente tive uma idéia de como achá-la. O título de Única do Mundo não era por acaso. Ela já tinha feito uma pesquisa em todos os sites de busca conhecidos por alguém que tivesse o mesmo nome que ela (sim, o Google já existia) e jamais encontrou uma só homônima. Lembrei-me dessa história e sabia que, se digitasse o nome dela no Google, as únicas ocorrências seriam para ela mesma, e eu poderia ter alguma pista de onde minha amiga andava, que não me dava notícias.
E foi assim em 2009 que descobri que, desde o ano em que eu a vira pela última vez, minha amiga está morta, vítima de um aneurisma cerebral. E agora, com inesperadas lágrimas que me saem dos olhos, tudo o que posso afirmar é que a Ri nunca me desapontou, porque eu entendi que só mesmo um motivo muito forte poderia tê-la forçado a não responder uma mensagem minha, ou mesmo ter se ausentado por tanto tempo. Sou grato por ela ter partido sabendo o quanto era importante na minha vida e Ri... onde quer que esteja, peço que perdoe por ter demorado tanto tempo para perceber que você só não estava mais comigo porque não estava mais conosco...
Então aprendi que cada vez que deixo de dizer “eu te amo”, corro o risco de ter perdido a última chance, a derradeira chance, de fazer com que quem eu amo saiba de fato que é amado. A distância entre o que foi e o que nunca mais será é muitíssimo pequena, entretanto, o que nunca será e o que poderia ter sido é infinita. Não há vergonha em ser intenso, se isso implica em ser honesto com os próprios sentimentos. Engraçado como a gente gosta de ouvir, mas tem vergonha de dizer. E de não em não, vamos passando pela vida, fechados em nós mesmos, até que o irônico destino se encarregue de tirar de cena os únicos do mundo pelos quais descobrimos tarde demais que esperaram a vida inteira por um simples gesto nosso.
Abraço a todos e até meu próximo post.
Gustavo Jonathan Costa
Porque a vida vale a pena HOJE.

domingo, 10 de abril de 2011

A BOLA DA VEZ

(segunda crônica desse final de semana. Se ainda não leu a primeira, veja logo abaixo)

Por muitas vezes nesse mesmo blog já fiz relatos apaixonados de minha infância e minha juventude. É bem provável que a essa altura, o leitor já acostumado com meus posts consiga compreender um pouco da formação do meu caráter, entende as dificuldades que enfrentei, os conflitos que vivi, o que eu era e o que eu sou e porque eu sou. Ora, muitas vezes já me senti perseguido pelo destino, como se houvesse sido colocado no centro de uma grande piada cósmica, aos serviços de divertir algum Criador cujo senso de humor fosse completamente questionável.

O tempo passou e me dei conta de que não sou lá tão especial assim pra merecer a atenção de quem não tem mais nada pra fazer a não ser assistir pra onde vai essa merda toda que ele criou. De repente, a gente começa a olhar para os lados e vê que no fundo só existe vida miserável e cheia de dificuldades, e que comparada a outras histórias, a gente acaba tendo motivo de sobra pra rir à beça de alegria, e no fundo se sentir até mesmo um pouco privilegiado.

Nunca fiz nada pra merecer enfoque exclusivo. Reconheço minha mediocridade nas minhas feições mestiças, na minha inteligência limitada e até no meu tipo sanguíneo, de longe o mais abundante na face da terra. Se tiver algo especial, é uma verruga na virilha que preciso queimar o quanto antes. Até o ordinário molde do meu rosto só ficou bonito quando usado na minha filha... Fora isso não me destaco por nada exatamente, e foi assim durante toda a minha vida, mesmo naqueles anos em que a aceitação pelos outros era tema central da minha torturada existência social. Durante a adolescência foi difícil aceitar minhas limitações. A religiosidade, o fato de não ser bom nos esportes, as mãos pequenas, estar sempre acima do peso, tudo isso contribuiu para que eu me desenvolvesse com uma personalidade um pouco mais retraída, subjetiva, romântica e ligeiramente depressiva...

Então a gente cresce, vira homem, assume responsabilidades, descobre nossas aptidões, manda o mundo tomar no cu, e segue andando pela selva de pedra em busca de sobrevivência, compartilhando experiências e descobrindo que todos esses medos e incertezas são tão universais quanto umbigo... todo mundo tem, teve e terá. Em muitos casos, torna-se difícil superar certas limitações, e às vezes a ajuda de amigos apenas não é suficiente, precisamos recorrer à ajuda profissional. Psicólogos, psiquiatras e psicanalistas estudam durante anos pra ficar escutando e analisando a condição ruim de gente que não conseguiu superar esse sentimento de frustração e passou a vida inteira se sentindo mais na merda do que todo mundo. Esses deveriam assumir logo suas fraquezas, colocar o rabinho entre as pernas e procurar a ajuda desses profissionais...

Isso o cara deve fazer ANTES de ter uma piração total, pegar uma arma e entrar numa escola para atirar em meninas de dez anos à queima-roupa porque o miserável era desprezado durante a infância. Porque quando o filho da puta começa a achar que sua vida é pior do que a dos outros, é geralmente isso o que acontece. O cara não se trata, se sente sozinho, humilhado, e acha que a culpa disso tudo é do mundo, e não dele que não teve competência suficiente para se socializar adequadamente. E aí quer notoriedade, vai matar os filhos de quem não tem nada a ver com sua existência medíocre e SÓ DEPOIS estoura os próprios miolos. Meu amigo, você leitor que se por algum motivo estiver vivendo drama semelhante, faça um favor para mim e pra toda a humanidade, ESTOURA A SUA CABEÇA AGORA, antes de fazer qualquer besteira. Porque pra todo mundo já é difícil demais lutar todos os dias para sobreviver financeiramente, sustentar os filhos e o governo, agüentar jornalista falando que pobre não pode ter carro e ainda ter que chegar em casa e ver certas notícias na televisão. Todo mundo tem vontade de descarregar tudo num Dia de Fúria, mas é de ficar puto quando a gente vê um retardado fazer isso. Eu já me sentia indignado quando escrevi minha crônica Big Brother 174, e agora parece até que pressentia que outra tragédia como essa ia acontecer, porque no momento em que soube do que houve naquela escola do Rio de Janeiro eu só pude pensar em minha filha de 5 anos sozinha em uma escola... e de novo aquele sentimento de impotência se abateu sobre mim.

Se tem gente tentando entender a cabeça desse desgraçado Wellington, não sou eu. Lamento apenas que ele tenha morrido antes da hora. Não há o que entender, o rapaz se saía bem na escola, era bom nos esportes, e não conseguia se socializar. Se estava enlouquecendo, PROCURASSE AJUDA, não esperasse o mundo conspirar pra salvá-lo, porque ele NÃO FAZ ISSO. A felicidade de cada um de nós está em nossas próprias mãos, ainda que nossa destruição possa estar nas mãos de outros. É assim, é a vida, é cruel mas é a lei do universo, e ela vale pra todo mundo.

Se a cada sentimento de rejeição eu fosse estourar os miolos de alguém, não haveria mundo que chegasse. Mas com o tempo, a gente começa a enxergar as compensações, e vê que o mundo não é tão injusto assim. Eu tenho saúde. Posso comer de tudo e não passo mal. Sei nadar. Tenho pai, mãe, irmãos e filha. Todos eles sabem que os amo porque já ouviram isso da minha boca. Sei também que a recíproca é 100% verdadeira porque já ouvi deles declarações igualmente apaixonadas, quer coisa melhor do que isso?

Antes de enlouquecer, procuro pensar que existem pessoas que contam comigo, e precisam de mim bem e feliz. Essa cambada da família aí vibra e torce pelo meu sucesso. Tenho amigos onde trabalho que precisam que eu execute bem minhas tarefas para que as deles não sejam prejudicadas. Tenho uma filha que acha que eu sou o Super-Homem. Para aquelas pessoas que conheci e vivi por tempo suficiente para fazer a diferença eu preciso tomar uma atitude positiva, vencer minhas barreiras, minhas limitações, e aceitar minhas mediocridades para não mergulhar na insanidade, pois minha vida não pertence só a mim, embora seja de minha total responsabilidade.

Mas hipoteticamente falando, ainda que a consciência de tudo isso me fugisse um dia, ainda que o fardo da minha existência fosse tão grande que eu já não conseguisse suportar, que nenhuma psicanálise ou Rivotril tenha surtido efeito além da eventual brochada, que eu acabe somente comigo mesmo sem pra isso ter que atrapalhar a vida de ninguém que não tenha nada a ver com isso. E fica a dica, meu amigo. Se você tá sozinho, se sentindo desprezado pelo mundo, pare de achar que estão menosprezando você, às vezes é só pelo fato de você ser um babaca mesmo, vai se tratar, ler, estudar, descobrir que existem outros como você, desabafar, ALGUÉM nesse mundo vai querer te ajudar, nem que você tenha que pagar pra isso, procure umas prostitutas, trabalhe, faça exercícios, entre para uma academia de artes marciais pra descarregar a tensão, faça atividades em grupo, TOME UMA ATITUDE...

Ou morra sozinho, o que ainda é muito melhor do que ser lembrado eternamente como um grande filho da puta.

sábado, 9 de abril de 2011

Ascensão e Queda dos Morlocks

Sempre acreditei que querer reduzir toda a realidade do universo ao que nós simples mortais conseguimos perceber com nossos cinco sentidos é um materialismo tolo, pois quanto mais evoluídos nos tornamos, descobrimos que existem mais coisas entre o céu e a terra do que acredita nossa vã filosofia. Com toda a minha criação e formação, sempre me vi como um místico, uma pessoa para o qual os limites da física clássica nunca foram suficientes para explicar os lampejos de uma alma inquieta e a força de um espírito devastador.

Por muitas vezes, e durante muito tempo, e há que se dizer que até os dias de hoje, me senti um desajustado social, ou simplesmente uma pessoa deslocada no tempo e no espaço. Ocultistas orientais me diriam que a energia que emana do meu chakra da terra, o Muladhara, está enfraquecida, por isso não consigo firmar raízes no chão onde piso. Alguns espíritas me diriam que é um vazio deixado em vidas passadas, algo que preciso compensar nessa vida. Meus irmãos diriam que sou doido mesmo. Acontece que, onde quer que eu viva e onde quer que eu esteja, em algum lugar e algum momento sempre senti algo errado, uma sensação de desapego, de não pertencer ao momento presente, de estar assistindo minha vida na terceira pessoa.

Mas entre o me entender como gente e os dias de hoje houve um hiato reconfortante nesse ligeiro incômodo. Aconteceu entre os anos de 1997 e 1999, no período em que estudei no Colégio Técnico da UFMG. Eu tinha 17 anos, e naquela época fiz parte de um grupo de pessoas que ao longo de sua vida se sentiram tão excêntricos quanto eu.

Aconteceu numa manhã normal quando surpreendi uma disputa de olhares entre duas conhecidas. Elas sempre faziam isso, mas naquele dia, enquanto observava a disputa, vi nos olhos de uma delas um brilho vermelho intenso e incomum...

Eu me assustei, pois nunca tinha visto nada assim, senti arrepiar o corpo inteiro, fugi correndo, o grupo não entendeu nada. As meninas vieram até mim, com o namorado de uma delas, e me perguntaram o que tinha acontecido. Eu não conseguia encarar a menina dos olhos vermelhos, ela olhava para mim e ria muito, mas eu simplesmente a estava vendo de forma diferente, mais forte, capaz de me esmagar só de olhar pra mim. Era estranho, intenso, inexplicável. Confessei quase sem voz que os olhos dela brilharam quando ela encarava a outra, e que eu nunca tinha visto nada assim... “como você fez aquilo?”

Com a segurança de um adulto que explica para uma criança as lições mais simples da vida, ela me disse: “Não fui eu quem fez você ver aquilo, Gustavo. Foi você mesmo. Você também é sensitivo... “

Aquele momento marcou minha vida de uma forma inesperada. Depois de algumas explicações, cada um do grupo começou a me contar histórias surpreendentes de coisas que já tinham visto e ouvido desde que “descobriram” que tinham uma sensibilidade fora do comum. Éramos cinco pessoas, a Pat - a menina dos olhos vermelhos; o namorado dela; a Amanda, cuja ligação com ela vinha do fato de termos nascido no mesmo dia e outro amigo meu, o Marco Túlio, um especialista em assuntos exotéricos. “Nossa”, eu comentei, “vocês são tão estranhos, parecem um grupo de Morlocks”.

Tive que explicar para as meninas que os Morlocks eram um grupo mutante do universo em quadrinhos dos X-Men, degenerados demais para viver em sociedade, eles se escondiam nos esgotos e sofriam todo o tipo de preconceito. E nosso grupo estava batizado, a alcunha de Morlock pegou e nos tratamos assim por longos e maravilhosos dois anos.

Depois nos tornamos adultos, e o cérebro adulto não passa pelas mesmas transformações neuroquímicas que um cérebro adolescente, o que é capaz de fazer-nos enxergar coisas extraordinárias. O excesso de ondas beta aos poucos vai vilipendiando nossa subjetividade, e quando menos esperamos, nos tornamos parte do sistema. Mas por uma dessas razões que a própria razão desconhece, o grupo dos Morlocks nunca morreu de fato. Cada um de nós seguiu sua vida, a Pat não se casou com seu namorado da adolescência, a Amanda continua fazendo aniversário no mesmo dia que eu e o Marco Túlio é o mesmo Marco Túlio de sempre, trilhando o caminho do guerreiro. Inexplicavelmente, eles sempre (mas SEMPRE) surgem na minha vida nos momentos em que eu MAIS PRECISO, não sei explicar como, mas nas minhas fases mais decadentes, como anjos enviados, algo dentro deles faz com que me procurem, sem que eu grite, esperneie ou simplesmente manifeste qualquer sentimento de tristeza.

Eu que depois de onze anos já nem pensava mais nos Morlocks (como Morlocks, claro!) fui surpreendido com a leitura de uma carta que havia escrito a muitos anos atrás, numa época de sonhos que um adolescente chamado Gustavo havia depositado nesse adulto chamado Gustavo. E , apesar de não ter me tornado milionário às vésperas de completar 30 anos eu sei que não decepcionei aquele garoto, porque continuo essencialmente o mesmo sujeito, e conservo as mesmas amizades importantes. E mais maravilhoso ainda, continuo sendo visto por essas pessoas, apesar de todas as besteiras que cometi na vida, com os mesmos olhos puros de quando tinham 17 anos.

A forma como nos tratamos acaba definindo aquilo que somos. Nosso grupo sempre foi estranho, porque assim nos sentíamos, assim nos definimos e assim éramos. Agora adultos, o misticismo não deixou de fazer parte de nossas vidas. Por isso mesmo, os antigos Morlocks vêm me alertando a respeito da minha alcunha de Escritor Maldito, “o que não combina com uma pessoa doce como você”, me disseram. Ser maldito significa ser repleto de maldições, e confesso que não tenho atraído muita sorte pra mim ultimamente. Péssimos negócios financeiros, dificuldades com o carro, apatia com a família, problemas insolúveis no trabalho, foras inexplicáveis, notas baixas na faculdade, bom... minha avaliação dos meses de outubro até agora não tem sido lá muito positiva. E, como nunca aceitei ser um expectador passivo da minha própria vida, sei que para atrair positividade eu preciso tomar atitudes positivas, a começar pela mudança de nome.

Então, peço desculpas a meus seguidores acostumados com o título anterior e que por algum motivo tenham encontrado dificuldades para voltar a esse blog (por causa da mudança no link, e tudo o mais). Mas não há o que se lamentar por deixar de ser maldito... no mal sentido da palavra. Malditos estão espalhados por toda a parte, no elenco do meu Big Brother, ou nas câmaras dos deputados proferindo em público baboseiras que já deveriam ter sido enterradas junto com aquelas pobres crianças no Rio de Janeiro...

Assuntos para o próximo post... de AMANHÃ.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ESCRITOR MALDITO

Cada dia que passa eu chego à conclusão que meu negócio mesmo é escrever... No início, foram as aulas de Cálculo Diferencial e Integral e Geometria Analítica e Álgebra Linear que me fizeram pensar assim, afinal de contas essas disciplinas são uma afronta à qualquer brasileiro mal iniciado nas artes matemáticas, algo que hoje em dia gira em torno de 95% da população.

Ao contrário do que pensam alguns, escrever é uma arte. Diferente da lógica matemática, em que os doutores do ICEx(Instituto de Ciências Exatas da UFMG) conseguem fazer tudo se encaixar perfeitamente, fazendo-nos nos sentir uns completos idiotas, o encaixe das letras não depende do conhecimento de regras pré-estabelecidas. Ou você sabe, ou não sabe. Se não sabe, nada fará com que saiba. Se sabe pouco, pode melhorar muito, e vir a saber. Eu sempre gostei de escrever, embora soubesse pouco. Ter feito Letras na UFMG não me tornou cronista, isso é algo que eu sempre gostei de fazer, mas não num blog como faço hoje. Até porque antes de 2002 os blogs não eram tão famosos como atualmente...

Infelizmente, escrever não tem lá o prestígio de outras formas de arte em nossa sociedade brasileira. Isso pelo simples fato de que nós brasileiros temos preguiça de ler. Eu, particularmente, acho uma arte estranha mesmo. Ela não tem beleza em si... você pega um texto e olha de longe... putz, que preguiça, não vou ler isso não. Diferente de uma imagem que te atinge no ato, em suas diferentes tonalidades. Atualmente as editoras “apelam” para capas de livros cada vez mais chamativas, cheias de cores e ilustrações, até alto relevo, para atrair os leitores para o mesmo fundo branco repleto de letras pretas formando palavras que compõem todos os livros desde a Antiguidade.

A música consegue ser ainda mais sensacional. Você não precisa encará-la pra perceber sua essência... ela te pega pelas costas, de olhos fechados. E quando é mesclada à dança, que é a própria representação visual das músicas... bem, talvez mil palavras não sejam suficientes para descrever essa forma de arte...

O cinema consegue mesclar todas essas formas e criar a sua própria linguagem... imagem, música, dança... e uma série de outros recursos que provocam nos expectadores passivos múltiplas sensações. A escrita não. Para alcançar o efeito da arte da escrita é preciso um esforço inicial do leitor... ele precisa olhar para o texto, começar a decodificar as primeiras palavras, sentir do que se trata a história... ir imaginando aos poucos. É necessário um esforço ativo do leitor, por isso mesmo, um texto pra ficar realmente famoso, atingir várias pessoas, provocar diversas emoções, tem que ser realmente bom. Tem que convencer o leitor mais preguiçoso, ele tem que ter escutado falar desse texto em algum lugar, gostar do escritor, ter lido algo dele antes... coisas do tipo.

Por isso mesmo eu fiquei emocionado com as manifestações de admiração que vieram da leitura do meu último post (Auréola). Não só recebi comentários no próprio blog, mas recebi telefonemas, scraps e torpedos de leitores que se envolveram com uma de minhas grandes histórias. Inclusive da própria Bia. E esse foi um dos motivos que me levaram a chegar à conclusão de que meu dom mesmo é escrever.

É também minha maldição.

Poucas pessoas entendem que ser um artista não quer dizer necessariamente que somos artistas da vida. Engraçado como muitos acabam me procurando para conhecer quem é o cara que escreveu tal coisa, de repente com a idéia errada de que eu posso ter algum tipo de aura especial... e acabam se decepcionando, porque na minha mediocridade, eu sou um ser humano normal, que sua, tem gases e cheira mal se não tomar banho todos os dias.

Ora, invariavelmente trombamos na rua com dezenas e centenas de cantores, atores, escritores, pintores e cineastas sem que a simples presença deles não nos cause o mínimo espanto. Ás vezes eles estão no nosso caminho quando precisamos atravessar uma avenida movimentada e o fato de estarem ali só nos causa incômodo. A arte não nos marca de maneira especial... nós somos simplesmente o que somos. Então, torna-se frustrante para qualquer artista ser abordado por algum dos admiradores da sua arte e perceber nesses a decepção por não ver no autor a própria arte.

É claro que meus textos são a pura expressão do que eu guardo dentro de mim. Isso por si só pode levar alguns a querer ver em mim a força que vê nos textos. Mas não é bem assim. Minha forma de expressão pessoal, social e profissional é diferente...Eu não sou minhas crônicas, assim como James Cameron não é Avatar, e Elis Regina não era como nossos pais... Auréola é capaz de arrancar lágrimas e suspiros de admiração porque a história arranca lágrimas... e isso é algo que não dependia só de mim. Saber transmitir isso, fazer com que você, leitor, sinta o que eu senti e o que aprendi com a Bia, sim, é um talento desse artista, mas a natureza tem suas compensações, e pode ter certeza que você realiza muitas coisas admiráveis aos meus olhos, mesmo que com seu texto você não seja capaz de me contar.

Escrever bem muitas vezes é uma maldição, porque abre caminhos que o escritor não é capaz de percorrer. Imagine você leitor que a Cameron Diaz lesse uma de minhas crônicas (hipoteticamente falando, claro. Vamos supor que ela tenha aprendido português com o Rodrigo Santoro!) e tenha achado o máximo o que eu disse sobre a Síndrome do Pavo. Ela continua lendo mais alguns textos, detesta o Big Brother 174 e não curte muito o A favor do coletivo. Fica meio em cima do muro quando o assunto é Desligião mas vai à loucura quando lê Auréola. Então ela deixa um comentário. Me manda um e-mail. Eu respondo, achando engraçado, ou no mínimo que é um fake qualquer...

Ela não desiste, me adiciona no seu MSN. Com muito custo, consegue provar que é de fato a Cameron Diaz e que adora a forma como eu escrevo. Ora, pelo MSN um escritor que se preze escreve tão bem quanto em qualquer outro lugar... Eu interajo magistralmente com a atriz hollywoodiana e ela fica impressionada com minhas respostas, minha criatividade, meu jeito de “falar”...

Então finalmente ela vem para o Brasil e quer me conhecer...

Caras... eu vou fazer o quê??? Ficar de frente para a Cameron Diaz, aquela blond girl fantástica... e começar a suar como um louco, minha voz vai falhar, minhas mãos vão tremer... Imagina se ela chega num domingo – naqueles dias em que eu não faço barba e fico de bobeira em casa sem me produzir pra nada. Que fiasco! Lá se vai a imagem do Escritor Maldito por água abaixo. Ou no mínimo, ia me tornar ainda mais maldito...

Talvez eu não tenha sido preparado pro assédio... algumas pessoas tem esse dom. Eu não. A admiração sim,é uma coisa louvável, e faz bem. Mesmo que comentários completamente discordantes nos fazem sentir que produzimos um efeito. Ninguém escreve pra jogar seu texto no vazio, por mais miserável que seja. A indiferença completa, essa sim é deprimente. Como é deprimente a indiferença de algumas pessoas que não vêem o escrito no escritor... Porque ainda que o escritor não tenha lá as mesmas qualidades que se percebem quando se lê seu texto, ele é uma pessoa única, com qualidades suficientes para se tornar na vida de qualquer um uma pessoa inesquecível...

Que o digam aqueles que convivem com ele há muitos anos, e ainda que admirem profundamente o Escritor Maldito, amam ao Gustavo incondicionalmente...

Gustavo Jonathan Costa

“Porque a vida vale a pena HOJE!”

quarta-feira, 2 de março de 2011

Big Brother 174

Já me conformei com o fato de que, com 23 letras e algumas milhares de palavras disponíveis no idioma, dificilmente conseguirei vencer o campeão de audiência da Rede Globo chamado Big Brother Brasil. Não tenho imagens, não tenho sons, não tenho bundas femininas ( no bom sentido) voando de lá pra cá no meu cenário... (mas taí algo pra se pensar). Hoje é uma quarta-feira, e ontem, provavelmente, alguém foi eliminado da casa. Pelo menos 1 milhão de televisores deveriam estar ligados na telinha global nesse momento, para assistir mais uma vez esse grande achincalhe da cultura brasileira...

Eu bem que tentei... Juro!! Afinal de contas, já que tá todo mundo embarcando nessa merda mesmo, ficar sozinho é que eu não quero. Mas não consegui... Mal conheci os participantes, desisti... E meu interesse é bem genuíno, afinal de contas, durante bons seis meses as garotas do Big Brother estarão estampando as capas das revistas masculinas, então porque não conhecê-las antes e já ficar fantasiando com todas aquelas vadias sem cérebro e sem roupa?

Mas nem com tamanho incentivo consegui vencer a letargia que o programa me causara. Fiquei por ali mesmo... e o pouco que sabia dos participantes, já esqueci! Não que tivesse grandes coisas pra fazer, mas não consigo pensar em coisas PIORES pra ocupar meu tempo... qualquer atividade é melhor do que esse show de horrores... Escrever por exemplo...

Foi então que me veio uma luz...

Somente um cronista maldito poderia se aventurar na missão quixotesca de desmontar todo esse circo armado pela Rede Globo chamado Big Brother... afinal de contas, são milhões de telespectadores contra apenas 7 seguidores meus!!! (vamos aumentar esse número aí gente... pelo menos 10!!!) Então, resolvi unir forças com a toda poderosa e lançar o meu primeiro projeto para um reality show que o Brasil realmente gostaria de ver... O BIG BROTHER BRASIL 174.

O número 174 não precisa ser o número da edição... já que estamos na edição onzima, seriam precisos uns cento e sessenta e alguns anos até atingirmos a que eu gostaria de lançar... e essa deveria ir ao ar já, tão logo a edição atual termine.


Bem, o que esse Big Brother tem de diferente? Vamos começar pelos participantes:

Participantes de 1 a 5: Carlos Eduardo Toledo Lima, Diego Nascimento da Silva, Carlos Roberto da Silva, Tiago de Abreu Mattos e Ezequiel Toledo Lima;
Famosos pilotos de fórmula 1, ficaram conhecidos por suas proezas em arrastar o garoto João Hélio do lado de fora de um carro;

Participante 6: Suzane Louise von Richtofen, a próxima socialyte a posar para a Playboy. Resolveu suas crises de família depois de uma atitude que - literalmente - abriu a cabeça de seus pais para que aceitassem seu namoro.

Participante 7: Lindemberg Fernandes Souza, depois de aparecer constantemente na imprensa devido a seus problemas amorosos, acabou se acertando com a jovem Eloá Cristina.

Participantes 8 e 9: Alexandre Alves Nardoni e Ana Carolina Jatobá, o casal afirma que o momento mais difícil foi quando tiveram que olhar pela janela para se despedir da filha Isabela, mas estão prontos para entrar na casa.

Participante 10: Goleiro Bruno do Flamengo, quando entrevistado sobre seus temores em enfrentar a casa, afirmou: "já joguei tudo o que me atrapalhava aos cães".

Participante 11: Francisco de Assis Pereira, famoso por seus vários casos amorosos, sempre com rompimento forçado. Conhecido como o Don Juan do Parque.

Participante 12: Vera Lúcia, a procuradora aposentada, ídolo das crianças.

Durante o meu Big Brother eu daria férias para o Bial. O apresentador seria o ex-ator e galã Guilherme de Pádua, aquele mesmo que cortou relações com Daniela Perez quando alguns de vocês leitores nem eram nascidos.

As regras do programa seriam muito simples. Eles seriam trancafiados na casa, que teria muros de 3 metros de altura, cercados por arames farpados e cercas elétricas. Nada de luz solar. Como no Big Brother convencional, eles seriam vigiados por câmeras 24 horas por dia. O espaço, entretanto, seria menor. Já que o programa não tem o menor pudor, resolvi cortar esse negócio de quartos e banheiros individuais. Tudo deveria acontecer ali, no meio de todo mundo, desde as trocas de roupa até as sujeiras na latrina...

Como os brothers não dormem, geralmente varam madrugada adentro, achei besteira ter camas para todo mundo. Um quarto de camas seria o suficiente. O restante, se quisesse, dormiria onde desse, no chão, ou uns sobre os outros. Depois da gandaia, não importa onde se durma, não é mesmo?

Uma vez que meus participantes não são exemplos de atletas de corpos malhados (exceto o Bruno e a Suzane) a ração (dessas de cães mesmo, para o que não vejo nenhum problema, afinal de contas, na maioria dos lares brasileiros de classe média os cães só comem do melhor, taí o goleiro Bruno que não me deixa mentir) seria fracionada, para que todos entrassem numa dieta.

Mas o mais emocionante seriam as provas do líder.

"Uma campainha é colocada no alto de um pau de sebo, quem conseguir alcançá-la primeiro não levará um choque de 1000 volts".

"Hoje a comida será colocada dentro de uma piscina de 1000 litros infestada de cobras peçonhetas. Se quiserem a ração da semana, terão que tirá-la lá de dentro".

Brincadeiras à parte, o que todos os participantes desse programa têm em comum não é nada engraçado. Faltam poucos dias do Carnaval, a maior festa do mundo, como em nossa megalomania gostamos de achar, e nos esquecemos, é claro, de pensar em assuntos tão fundamentais, tão estruturais para que possamos viver com o mínimo de dignidade nessa sociedade brasileira.

Estamos gastando milhões de reais com o Carnaval, outros milhões com a Copa do Mundo. E eu vejo minha filha de 5 anos crescendo numa sociedade rodeada de violência, onde não posso ter paz para deixá-la na escola ou por dois minutos sem minha supervisão em um parque no centro da cidade. É desesperador, pensar que um grande número de famílias vêem pessoas queridas serem reduzidas a rostos em preto e branco nos jornais de dentro dos ônibus ou nos tablóides sensacionalistas de 25 centavos. Pensar que, como chefe de família, sou impotente diante de um mundo que quer levar tudo de mim, e não me oferece sequer a proteção que preciso para chegar em casa após a meia-noite.

Um grande amigo meu, a alguns anos, teve sua mochila roubada de seu carro, que estava parado no estacionamento de um shopping (ou supermercado, agora não me lembro!). Ele havia deixado o vidro aberto, e o ladrão não teve a menor dificuldade em enfiar a mão dentro do carro e levar livros, roupas e documentos que ele guardava. Tal foi sua indignação ao ser acusado de culpado pelo ocorrido, que num determinado momento ele esbravejou: "CARALHO, quer dizer que eu guardo MINHA mochila, no MEU carro e só porque eu deixei o vidro aberto a culpa é MINHA por ele ter levado o que não era dele??? Claro que o palavrão do início é de minha autoria, ele jamais falaria algo assim. Mas o que eu quero dizer é que: facilitar a vida do ladrão é dar a ele o DIREITO de fazer o que ele quiser?? Já estamos tão acostumados a nos proteger de roubo e violência, que quando algo assim acontece por descuido, além do prejuízo material, o erro cai em nossa conta. Mas que completa inversão de valores!! Em resumo... que merda!!!

Os participantes mencionados acima? Estão todos presos, longe das ruas, graças a Deus! Mas que porra, somente depois da merda que fizeram, e fizeram devido a brechas na lei, incompetência familiar ou simplesmente por uma completa desvirtualização de princípios morais básicos, como o respeito aos próprios pais. Pois só um sistema doente e completamente desarticulado produz monstruosidades como um pai que atira uma filha de 7 anos pela janela e uma representante da lei que adota uma criança de 2 anos para violentá-la. E eu já dizia no último post, não é instrução que confere cárater, pois só em nosso elenco temos uma procuradora, uma jovem abastada, e um casal de classe média alta. E como estes, existem centenas e milhares soltos por aí, ao lado da sua casa, ou na sua escola, usando roupas de médico, policial ou advogado.

Então, temos que esperar algo acontecer para que esses maníacos dos parques sejam logo presos e retirados do convívio social? Tem que acontecer comigo? Com pessoas que eu amo?Meus irmãos, meus pais, minha filha??? Mas se não é falta de instrução, o que em nome de Deus leva tanto pessoas de baixa instrução quanto pessoas esclarecidas, a cometerem atos tão cruéis, contra pessoas próximas, ou simplesmente inocentes que apareceram no lugar errado e na hora errada? O quê?? Essa maldita cultura da impunidade, porra de lugar onde tudo sempre acaba em pizza, ou melhor, em Carnaval!

O negócio é confiar em Deus mesmo, deixar tudo nas mãos Dele... como deixou Eloá Cristina... ou a Geísa Gonçalves... como fizeram mais de duzentos mil no Haiti em janeiro do ano passado.

Como fez meu amigo Rodrigão quando saiu pra dançar naquele domingo de dia dos pais em 2008 do qual ele nunca mais voltou...

A sensação é de que não acontece nada, nunca. Ficamos apenas esperando pra ver qual o próximo espetáculo da barbárie iremos assistir nos próximos capítulos do Jornal Nacional.


...


Bom, esqueci de mencionar a regra mais importante do meu reality show: a eliminação. Para apimentar os barracos, o líder deve colocar os participantes para se digladiarem dentro casa. Cada semana dois são escolhidos. Não há regras para as brigas. É permitido, inclusive, usar utensílios da cozinha. Quem apanha mais, continua no jogo, permanece na casa, mas não pode receber qualquer cuidados médicos. O vencedor, claro, ganha a liberdade, sai da casa, onde é recebido por parentes e outras pessoas próximas daquelas que tornaram o participante famoso...

Os parentes não são revistados antes de entrar nas dependências do programa. Não são recolhidas armas, facas, porretes, ou qualquer outro instrumento que possa ser usado para ferir ou matar...

E aquele que não suporta mais tanta violência atira a primeira pedra...


Gustavo Jonathan Costa
Porque a vida vale a pena HOJE.

PS: O Boninho adorou minha idéia, mas não sei se ele tava falando sério não... disse que vai estrear no mês que vem, em abril... No dia primeiro... ihhhhhh....



sábado, 26 de fevereiro de 2011

A favor do coletivo

Esse post é uma resposta ao vídeo abaixo:



Uma das coisas que me fez iniciar esse blog é a profunda aversão que sinto a qualquer gesto, atitude ou comentário hipócrita ou demagogo. Comecei em outubro do ano passado e, revendo minhas crônicas, percebo que o que me move a escrever na maioria das vezes é o grito de protesto que sai da minha garganta quando vejo o poder e o discurso, e muitas vezes o poder do discurso e o discurso do poder sendo usado de maneira nefasta.

Não consigo descrever o sentimento de repulsa que me causou ter assistido ao vídeo desse senhor Luís Carlos Prates, jornalista e psicólogo, excelente comunicador, tecendo comentários infelizes sobre a situação do trânsito em São Paulo no ano passado. Ora, aqui em Belo Horizonte temos vivido situação se não igual ao menos semelhante ao que se vê nas terras paulistanas. Com o fim do horário de verão, as ameaças de greve dos rodoviários e o lançamento do filme do Justin Bieber em 3D, a minha rota Pedro Leopoldo - Belo Horizonte simplesmente parou de andar... literalmente. Desde a MG010, até a Cristiano Machado e Pedro I, passando pela Avenida Antônio Carlos, perdi quase uma hora e quarenta pra percorrer um trecho de vinte minutos nas CATP (Condições Anormais de Temperatura e Pressão).

O senhor Prates sentiria orgulho de mim. Sim senhor, Prates. Pois eu sou um pobre miserável que, mesmo tendo lido vários livros na vida, continuo sem carro, usando o transporte público em prol da melhoria da vida urbana em Belo Horizonte. To investindo em outras coisas primeiro. Trabalho, estudo... Depois penso em adquirir meu transporte próprio. Afinal de contas, espero que até lá a situação das rodovias e avenidas tenha melhorado.

Já estou fazendo meu segundo curso de graduação. Entre 2002 e 2007 eu cursei Letras na Universidade Federal de Minas Gerais. Também vinha de Pedro Leopoldo para Belo Horizonte todos os dias... sem carro. Acordava as cinco da manhã, pegava um ônibus, ia pra Rodoviária de Pedro Leopoldo, pegava outro ônibus, ia pra Belo Horizonte, descia na Cristiano Machado, pegava outro ônibus, seguia a José Cândido da Silveira até o meu local de trabalho. À tarde pegava um ônibus só para ir para a Faculdade. Saía da Faculdade as dez e quinze e tinha que esperar até as 23 horas pelo ônibus de Pedro Leopoldo, porque os horários são péssimos, chegava na cidade e subia para casa a pé, porque aí não tinha problema, não tinha hora pra chegar e mesmo se tivesse não tinha ônibus no horário... então chegava por volta de meia noite e quinze, meia noite e meia em casa e ia dormir pra começar tudo de novo no outro dia.

Sim, eu ia largar o curso. Porque nem jumento aguenta uma carga desse tamanho. Mas então eu joguei todos os meus valores morais para o alto e resolvi: comprei um carro. Pronto! Mais um miserável para fuder com o trânsito de Belo Horizonte!!! E não comprei nenhum carrão não senhor!!! Nada de crediário, ajuda do governo, financiamento, de jeito nenhum. Era um Escort daqueles bem antigos, 1989, XR3, azul, que eu adorava. Pois se não fosse ter estuprado a Cristiano Machado com meu carrinho, eu teria ficado no meio do caminho, louco, morto, ou pior... burro!!!

Então me sai esse senhor não sei de onde e vem me dizer que a culpa pelo caos no trânsito das grandes cidades é do pobre que tem carro!! Pelo amor de Deus, onde vamos parar com tamanha hipocrisia? Meu distinto senhor, ao sair de casa e se dirigir até a redação do jornal, o senhor usou o metrô, onibus, bicicleta ou foi usando o seu Renault?? Responde, seu desgraçado!!! Porque daí de onde o senhor faz a sua avaliação é muito fácil culpar o chefe de família que quer dar mais conforto para a mulher e os filhos, quer poder chegar cedo em casa sem ter que ficar trinta, quarenta minutos no ponto de ônibus, andar esmagado entre os passageiros e ainda correr o risco de ser assaltado...

Claro que não tiro o mérito do senhor ter levantado o fato de que infelizmente temos carros demais hoje em dia. O que já virou clichê, lugar comum. Talvez não tivéssemos tantos se houvessem ônibus de qualidade andando nas ruas, em horários suficientes para que os coletivos não estivessem sempre tão cheios, pois o que se vive dentro de um microuniverso desses é uma humilhação, um desrespeito a esses cidadãos chefes de família que já se desgastaram diante de supervisores, encarregados e gerentes de banco o dia inteiro. Não precisamos passar por mais isso, nem ouvir que, agora que finalmente conseguimos algo para melhorar nossas vidas - já que não adianta ficar esperando o governo e as políticas públicas tomarem uma atitude - somos responsáveis pelo caos no trânsito.

No início do meu curso de Letras eu podia pegar um ônibus que passava na Avenida Antônio Carlos por volta de dez e quinze. Para isso tinha que deixar a sala de aula as dez em ponto. Eu sempre saía, assim como outros alunos que tinham o mesmo problema com o horário de ônibus. Certa vez um professor em sala disse que achava um absurdo essa atitude, pois quando se matricularam no curso todos sabiam que as aulas iam até as dez e meia. E ele dava aulas SEMPRE até as dez e meia. "Filho da puta!!!" pensei comigo mesmo, já que certas coisas não se diz para quem pode fazer você repetir um semestre. "Vai sair daqui, entrar no seu carro, dirigir vinte minutos até sua casa, ficar na internet até meia-noite e acordar amanhã só as dez horas. E tem coragem de nos dar lição de moral. Filho da puta!!!"

Pior de tudo é dizer que os acidentes acontecem porque os carros estão sendo dirigidos por pessoas sem instrução. Ora, quem dirige já tem instrução suficiente para dirigir um carro, pelo menos fez prova, exames, aulas, tudo para comprovar sua capacidade de dominar um carro em uma volta no quarteirão (porque é disso que tratam os exames) mas dizer que é por falta de instrução não se respeita leis de trânsito??? Desde QUANDO diploma agora virou sinônimo de atestado de bom comportamento? Nunca fui mais santo por ser graduado... Pelo contrário! Com toda o conhecimento que tenho, já dirigi sem cinto de segurança, e até embrigado - o que pra mim não é nenhum motivo de orgulho. Basta dar uma voltinha á noite pra ver quem são os desesperados no trânsito, playboyzinhos, filhinhos de papai, escolarizados, graduados, donos de carrões que põem à toda a prova quando o assunto é velocidade.

Eu costumo pensar duas vezes antes de escrever. Acho que as pessoas deveriam pensar também duas vezes antes de falar. Pra não falarem merda em cadeia nacional. É triste. Sei que o cara quis defender um melhor uso do transporte público, o que traria benefícios para toda a população, mas ele foi tremendamente infeliz em todas as suas colocações. Talvez eu o convide a vir debater comigo o assunto, mas tem que ser aqui em Pedro Leopoldo, no domingo... e quero que ele venha de ônibus. Se sair de casa umas onze horas da manhã, pode ser que até as quatro ele chegue aqui.

Bom, pra finalizar minha autobiografia, depois que terminei a faculdade (e o casamento) vendi meu glorioso Escort XR3, a preço de banana. Logo, como disse no início, voltei a contribuir com o fluxo do trânsito de Belo Horizonte. Uma pena que o governo e a BHTrans não cooperam comigo. Os horários de ônibus continuam sofríveis, os coletivos são desconfortáveis, continuam lotados. Um cientista chinês que conheci nesse mês de janeiro me perguntou como é possível que aceitemos andar em ônibus tão cheios, parecendo latas de sardinha, sem ar condicionado e com uma passagem tão cara...

Ainda estou pensando pra responder, mas como sei que todas essas questões vão demorar muito ser solucionadas, aviso de antemão que, ao contrário do que afirmei antes, vou comprar um carro em breve, antes que eu morra, fique louco ou burro...Afinal de contas, só tenho uma vida para esperar.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Desligião

A gente nasce, cresce, estuda, se gradua, bate punheta, e fica indagando quais seriam os maiores problemas da humanidade... Claro, isso no meu caso que, depois de solteiro, tenho tempo de sobra pras duas últimas aí da lista... ah propósito, estou começando a acreditar que minha solteirice está me fazendo mal... caso alguma garota gostosa, com aquela curvinha nas costas (ah vá, com algum conteúdo também...) discorde do que escreverei a seguir e quiser corrigir minha insensatez dando pra mim um pouco de carinho, sinta-se à vontade...

Geralmente, entre uma poesia e outra, um cara como eu sofre uma certa nostalgia moral... algum resquício de uma ideologia cristã que aprendi na infância e que insiste em me dizer que o cultivo dos valores morais é a melhor maneira de crescer sadio, feliz e socialmente ajustado. Bom seria se todos (nossa, como eu tenho medo de usar esses pronomes totalitários... todos, tudo, nenhum...) tivessem uma educação religiosa como a minha. O mundo seria um lugar muito melhor...

Será mesmo?

Ora, o mundo moderno é muito mais complexo do que imaginam estes pequenos grupos religiosos. E pra quem tem coração e mente abertos, vai perceber que o grande problema do mundo não está na ausência dos valores religiosos não, muito pelo contrário...

A religião é o grande mal dessa merda de mundo...

E não falo de uma religião só não... as três grande principais religiões monoteístas: Islamismo, Cristianismo e Judaísmo fizeram de nossa convivència nesse planeta um verdadeiro inferno.

Sejamos francos: Inquisição, Cruzadas... atentados terroristas...Idade Média... até os campos de concentração tem um fundo religioso inaceitável... é incrível como um fiel em sã consciência consegue olhar para a história da sua própria religião e não sentir vergonha... Quantos milênios de atraso mental, quantas vidas tiradas em vão...

Quantas misérias não poderiam ter sido evitadas...

Os fiéis de cada credo conseguem olhar para trás e se justificar com as mais estapafúrdias das desculpas: "eram seres humanos, e humanos erram...". ou "isso era aceitável naquela época e naquele contexto... "

É incrível como três religiões que acreditam no mesmo Deus não conseguem coexistir pacificamente. Como se não bastasse, dentro das religiões existem as subdivisões, e essas também não conseguem se aceitar mutuamente...

Católicos e evangélicos...

Xiitas e sunitas...

Aff...

Como cristão católico tenho assegurado o céu dentro do meu credo, mas já me condenaram ao inferno os evangélicos e os mulçumanos. Dentro da minha religião, um espírita jamais conhecerá a Deus. Chico Xavier está queimando no inferno por dedicar sua vida a ajudar outras pessoas. É claro que Einstein também deve estar. E Alexander Fleming, o descobridor da penicilina. Me assusta como padres e pastores condenam facilmente qualquer benfeitor espírita, mas em seus discursos conseguem absolver Hitler, porque, segundo eles, só Deus sabe o que se passou entre eles na hora da morte, e se ele se arrependeu do fundo do coração em seus últimos momentos, ele foi salvo. Tenho certeza que muitos chefes de família católicos - daqueles bem fervorosos, da linha Carismática, por exemplo - preferem ver suas filhas namorando com um cara "da igreja", ainda que seja malandro, vagabundo, do que saindo com um trabalhador evangélico honesto. Porque a doutrina do outro é a doutrina do demônio.

A religião nos dá um sentimento de grupo, une as pessoas com pensamento comum mas afasta os que pensam diferente. De repente os dogmas se tornam a parte central da religião, quando o mais importante deveria ser "ajudar os órfãos e as viúvas". Isso não é espiritualidade, é tribalismo selvagem, tirania santa. Já vi padres católicos dizerem na TV que não se deve nem comer com um espírita. Que não se deve frequentar os mesmos lugares que um espírita... Que porra é essa? De repente a pessoa é despojada de tudo o que é e pensa e tudo o que sobra é o credo que a pessoa professa?

O que será de mim, meu Deus, se disser que meus melhores amigos são espíritas, gays e ateus? Que a vivência da minha espiritualidade me levou a me aproximar cada vez mais das pessoas que são diferentes de mim? Que não me sinto pertencente a nenhum grupo, por isso me acho no direito de frequentar todos? Irei direto pro inferno, em todas as religiões, em todas as línguas do mundo??? What a hell...???

Um deus tem que ser muito louco ou muito idiota pra morrer numa cruz em vão. Um deus que se preze não faria isso, e se o cara topou entrar nessa, ele precisa urgentemente rever seus valores e escolher melhor seus seguidores. Porque as melhores pessoas da lista estão ficando de fora, seja porque já foram excluídas por aqueles que se sentem os Escolhidos, seja porque já se sentem tão enojadas de presenciar tamanha hipocrisia que preferem tentar melhorar o mundo à sua maneira... com sua música, sua dança, seu discurso e sua ciência...

Um dos significados da palavra "Religião" é religar... religar o homem a Deus. Pois já passamos da hora de desligar. Deveríamos propor a Desligião, desligar essa merda toda e começar a olhar uns pros outros, parar de achar que nossas bênçãos virão do alto - assim como os castigos dos outros - e usar de nossa fé nesse Deus que é maravilhoso para fazer desse mundo um paraíso na Terra, um lugar onde as pessoas manifestam suas diferenças, cultuam seus deuses, se relacionam com quem quiserem, expressam suas opiniões, cultivam sua ciència sem os crivos desse preconceito arraigado que só existe na mente desses pobres coitados que se julgam "os escolhidos de Deus".

Afinal de contas, com mil demônios, se tem um cara que respeita a opinião de todo mundo sem o menor julgamento, é esse tal de Deus. Ele não faz sequer questão de provar que existe, acredita quem quiser. Cada um faz da sua vida o que bem quiser, quando quiser e onde quiser. Mas aí vem esse povinho sabe lá Deus de onde e fica querendo ditar as normas da casa, como se fossem os governantes da coisa toda... Os porta-vozes do Senhor. Deus não precisa disso não, cara. Ele te deu inteligência pra que você mesmo examine e tire suas próprias conclusões. Você pode até achar que ele não existe e sua vida não vai ficar nem melhor nem pior por causa disso. Porque independente do que você pensa ou acredita, seja você católico ou evangélico, ou espírita ou muçulmano, você pode ser roubado, atropelado, assassinado ou ganhar na mega sena. De uma forma ou de outra você vai morrer, e isso não vai ser gostoso, seja qual for sua igreja. Você vai perder parentes, comer algumas mulheres ou dar para alguns homens( ou dar para algumas mulheres e comer alguns homens, a escolha é sua), ganhar algum dinheiro, ou muito, e pode perder tudo também, se não souber administrar o que tem. Mesmo que você não pague o dízimo. Você vai ficar doente algumas vezes. Vai sofrer de solidão. Vai vibrar de alegria... tudo isso será seu, eu afirmo sem sombra de dúvida e não estou fazendo nenhum tipo de pregação, quer você acredita em Deus, Vishná, Jeová, Afrodite, Yemanjá ou Alá. Ou em horóscopo. Ou simplesmente na ciência, ou em porra nenhuma mesmo...

Agora, se você acredita em Papai Noel ou na Dilma Roussef, aí sim, vai se fuder pra lá, retardado.


Abraço a todos e até meu próximo post.






PS: Meninas, o convite que fiz acima ainda está de pé... sem trocadilhos.