Acho que um dos títulos mais tristes
e injustos que existem é o tal do “pai de fim-de-semana”. Dá a sensação de que você
não é pai em tempo integral. Que você é o “papai do oba-oba”, da hora da
alegria. A criança cresce e nada de bom que ela desenvolve fica sendo atribuído
a você. Mas qualquer falha de caráter que ela manifesta, todos apontam: “mas
também, cresceu sem o pai”, ou “é muita coisa pra mãe fazer sozinha”.
Todo mundo acha que sua vida é
mais fácil, porque você é o pai do oba-oba. Não importa que você esteja sempre
disponível para receber e fazer ligações à filha, não importa que você se desdobre
para leva-la à escola uma, duas, três vezes por semana, não importa que você se
ausente do trabalho de última hora para ir às reuniões e apresentações escolares, que almoce com ela no
dia do aniversário mesmo chegando atrasado pro trabalho, sua vida SEMPRE é mais fácil que a de todo
mundo, porque aos olhos do mundo você tem o título de pai mas não tem a
responsabilidade de pai. É como se você fosse um tio de luxo. Aliás, os tios se
acostumam a vê-lo como se fosse outro tio mesmo, como se tivessem tanta ou mais
autoridade que você. Te dão conselhos, quase ordens, tentam dizer qual é a melhor forma de educar
os filhos, dizem que você deveria estar mais presente. Que você deve agir como pai, mas ninguém te trata como pai. Se precisam pedir
permissão para a filha ir a um parque, ou para dar um presente inusitado, ou
mesmo se ela adoece estando com eles, só avisam à mãe, afinal de contas “é ela que fica com a
criança”.
Ser pai de fim-de-semana é ser
aquele pai que nunca pode errar. Você não pode gritar com a criança, afinal de
contas, você “nunca” está lá para educa-la. Você não pode cobrar boas notas,
porque não é você quem corrige os deveres de casa, e “ah, no final de semana,
quem é que quer saber de dever de casa, não?” Você não pode se atrasar para busca-la,
não pode se atrasar para devolvê-la, não pode deixar de leva-la a nenhum
evento, não pode cometer NENHUMA falha, e NADA do que fizer vai compensar o
fato de você não passar todos os dias com ela. Você não pode ter uma vida
própria, porque se a criança de repente quer te ver um dia antes do combinado e você diz “não”
porque tinha uma cerveja marcada com os amigos, NOSSA, você é um crápula insensível
que não é capaz de deixar os amigos para estar com sua filha! Aliás, “não deveria
sequer pensar em beber, afinal de contas, que exemplo você está dando para essa
criança?” - dizem seus amigos, todos bêbados! Tudo, absolutamente TUDO o que você
faz pode traumatizar a menina. E aí você abre mão de todos os seus
compromissos para ficar com ela e, adivinha, pintou uma festinha de última hora na casa de uma das amiguinhas dela e ela pediu pra não ir te ver nesse fim-de-semana, e aí
meu amigo, ai de você se não for
compreensivo e entender que sua filha já tem “vontades próprias e vida própria
além de você”.
Mas ninguém vai se lembrar disso
na semana que vem. As pessoas vão continuar achando que você tem vida fácil.
Ninguém se importa com o quanto você se sente pequeno ao ter que devolver sua
filha no domingo à noite, porque ela não mora com você. Ninguém sabe a dor que
só você sente ao chegar em casa e ver o quarto vazio, aquele chinelinho que ela
esqueceu no meio da sala e aquele meio Kit-Kat que ela guardou pra comer mais tarde e não se lembrou.
Ninguém imagina o que é ter que se desvencilhar do seu abraço que não quer te deixar ir, ter que ser forte e falar, “papai tem que ir embora agora, filha”, e
ela falar “não vai embora não, me leva com você”. O seu lado é SEMPRE o lado
mais fácil, é o lado que tem que escutar calado porque todo mundo carrega uma
cruz pesada demais. Ser pai de fim-de-semana é não ter voz, afinal de contas, na segunda-feira já acabou o seu papel de pai...
Ser pai de fim-de-semana é ver
sempre todos os dedos apontados pra você, porque você não sabe o que a mãe
passou com a filha, mesmo que você tenha feito de tudo para que a vida das duas
não fosse tão árdua. É ouvir de todos os lados: “você é duro demais”, ou “você
mima demais”, mas nunca ser visto como responsável pelas coisas positivas que a
criança demonstra. Ser pai de
fim-de-semana é estar sempre duro, quando se paga honestamente o que é de
direito da criança, e nunca reclamar por isso, desde que ela esteja segura e
feliz.
Sei que no Inferno e na memória
de todos os que insistem em apontar esses dedos para esse “pai de fim-de-semana”
existe uma lista de pecados imperdoáveis meus, que vão me perseguir por toda a
vida, afinal de contas, “ se estivessem no meu lugar, estariam fazendo coisas
bem diferentes, estariam devotando a vida inteiramente à essa filha perfeita
que Deus me deu”. Mas o que mais importa é que no coração dessa filha existe um
amor incondicional que me diz que do meu jeito falho de ser, ela compreende e
aceita minhas batalhas, minhas lágrimas, meu suor, e que entende que esse desgraçado
humano é que é seu PAI, que acorda cedo, trabalha, estuda, divide as tarefas de
casa com a esposa, aperta as contas no fim do mês mas faz de tudo para ser uma
presença constante em sua vida...vida essa que todos nós sabemos, nunca foi só
oba-oba!
Obrigado filha, por me fazer
querer ser todos os dias um homem melhor, a despeito de muitas opiniões em contrário.