quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DEUS CACAU

Se eu fosse fundar uma religião que definisse a nova ordem mundial, fundaria uma que aceitasse todos os seres humanos , independente de raça, costumes, origens ou time de futebol. Seria uma seita global, onde todos seriam aceitos, teriam suas vozes ouvidas e a todos seria garantido o acesso ao Paraíso. Haveria apenas uma exceção. Em meus templos, e da minha vida social, iria excluir os compulsivos comedores de chocolate, e a eles iria legar somente choro e ranger de dentes.

É cientificamente comprovado que o chocolate atua na liberação dos hormônios ocitocina e serotonina, responsáveis pelas sensações de prazer e bem estar. Estes hormônios também são liberados após o ato sexual. Algumas pessoas, principalmente mulheres, tem com o chocolate uma relação quase passional. As sensações provocadas pela ingestão de um Ferrero Roche podem ser descritas quase como um orgasmo. Um marido que, ao chegar em casa, pega sua mulher atacando uma barra de chocolates Garoto pode acusá-la de pedofilia e traição. Portanto, pela incontrolabilidade da compulsão de comer chocolates, em meu mundo virtualmente perfeito, os chocólatras seriam banidos.

Imagino muitos leitores se indagando nesse momento: “mas qual é o pecado que existe em comer chocolate?” De fato, o questionamento é válido. Ser chocólatra não é o que define o caráter e as virtudes de uma pessoa. Você acorda todos os dias pela manhã, trata bem seus familiares, trabalha, paga seus impostos, é generoso com os amigos e vizinhos, evita fofocas, faz exercícios físicos, estuda, recicla seu lixo, faz tudo direitinho, ou quase tudo, mas o que faz com uma barra de Talento joga por terra todas as suas virtudes, e você é classificado como pária social por causa do relativismo injusto de alguns.

Se ao invés de chocólatras eu tivesse dito que deixaria de fora os homossexuais, acredito que muitos teriam concordado logo de cara que a eles eu deveria de fato negar o Reino dos Céus. Acontece que, assim como os chocólatras, os homossexuais acordam pela manhã, tratam bem seus familiares, trabalham, pagam impostos, são generosos com os amigos e vizinhos, evitam fofocas e etc. etc. etc... Ou não. Alguns tratam mal seus amigos e familiares, causam intrigas, são invejosos, maliciosos, promíscuos... Assim como muitos heterossexuais. Querer classificá-los, rotulá-los como uma classe à parte, definindo seus modos e comportamentos, é de um reducionismo burro que só pode se submeter pessoas extremamente pouco esclarecidas que acham que uma pessoa pode ser definida pelo que faz sexualmente. E na ânsia de ficar exultando as maravilhas das virtudes cristãs, muitas pessoas esquecem de que a mesma Bíblia que combatia o homossexualismo era a favor de guerras em nome de Deus, defendia a escravidão e ordenava que os infiéis arrancassem fora seus olhos se eles o fizessem pecar.

Tenho uma relação muito pessoal com Deus, mas tenho muita pena de quem acha que umas poucas mil páginas escritas a mais de dois mil anos atrás podem conter todas as verdades do Universo, e por conhecerem de cor alguns versículos soltos e descontextualizados, saem pelas ruas e pelas redes sociais emulando o comportamento dos fariseus que o Deus deles tanto combateu. No meio de suas rodinhas, batem no peito e se dizem os maiores pecadores, mas em sociedade não conseguem se misturar às pessoas que não compartilham com eles das mesmas “verdades”. Parafraseando André Gide, eu realmente creio naquelas pessoas que buscam a verdade, mas duvido dos que a encontraram. Pois se esse a quem chamam de Deus é tudo mesmo que dizem, Ele nos deu inteligência suficiente pra questionar, duvidar, colocar o dedo no nariz Dele e dizer: PROVA!! Isso não diminui sua divindade, se foi Ele quem nos fez, está preparado pra isso. Ele não vai ficar sofrendo e chorando como gostamos de imaginar que a cada queda nossa ele sofre junto conosco. Se ele controla nosso destino, não precisa sofrer, a não ser que seja masoquista. Se tudo o que acontece está nas mãos Dele, por quê então diabos um cara passa onze meses estudando para um vestibular para ser aprovado e morrer atropelado por uma manada de búfalos na semana seguinte, sem ao menos ingressar na faculdade?

São estes questionamentos que sempre me pego fazendo, sem o menor sentimento de culpa ou temor por castigos divinos. Infelizmente por isso, ou talvez graças a isso, não consigo me encontrar em nenhum grupo religioso. Em compensação, durante toda a minha vida, fiz amigos entre os homossexuais, prostitutas e intelectuais, sem que pra isso eu tenha que ter me tornado homossexual, me prostituído ou ficado mais inteligente... Isso simplesmente porque eu gosto de pessoas boas. Cada um traz dentro de si o que acha que são pessoas boas, e elas estão por toda a parte, assim como as pessoas más, elas podem ser encontradas tanto nas igrejas quanto nas zonas de prostituição, tanto entre os atleticanos quanto entre os cruzeirenses, ou entre os evangélicos e os espíritas.

Quando levanto as mãos pro alto e agradeço a Deus pela sorte que tenho: profissão, filha, emprego, família, amigos, faculdade eu penso: então qual deveria ser a atitude daqueles que não tem nada disso? Ódio? Revolta? Afinal de contas, não fiz necessariamente nada para Deus para merecer o que tenho... fiz por mim e para mim mesmo. O que me torna especial? O que torna outras pessoas menos especiais? Ter pernas, olhos e saúde enquanto outros não tem... é vontade de Deus? Por que as coisas boas que acontecem no mundo são obras de Deus, e as desgraças são culpa nossa?

Descobrir Deus é muito bom, mas não se faz isso sem passar pelas coisas que Ele criou. Limitar sua inteligência para deixar tudo nas mãos Dele é devolver uma responsabilidade que Ele já deixou pra você. Se vira. Ele não quer que deixemos de lado nossa inteligência, nossa criatividade, nossas dúvidas, em troca de uma fé cega, uma fé em nada... Deus não faz isso. Quem está dizendo isso são homens ignorantes, ou por ingenuidade ou por malícia.

E se ainda tiver dúvidas, pode comer seu chocolate à vontade. A não ser que você seja alérgico a tal iguaria, nada de mal pode lhe acontecer, além de uns quilinhos a mais... e muito prazer, é claro! Se não acredita, questione, e prove o contrário.

Até meu próximo post.

Gustavo Jonathan Costa

“Porque a vida vale a pena HOJE!”

2 comentários:

  1. Cara, gostei do texto, das provocações. Sim, já fiz todas essas mesmas perguntas. Algumas com um bocado de culpa.

    Abraços!

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  2. Holy mother of God, sensacional! Sen-sa-cio-nal! Vc sabe que sempre fico sem palavras pra comentar seus posts, né, Gustavo?!
    Mas gosto mto de ler o que vc escreve! :)

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