O Dia Em Que a Mão de Deus Tocou é o nome
de um blog criado por mim há uns três ou quatro anos pra divulgar o
projeto de um livro com esse título que comecei a escrever... O blog ainda
está vivo, se você digitar isso aí no Google provavelmente vai ser direcionado
diretamente pra ele... e vai perceber que o livro nada tem de religioso, embora
ligeiramente metafísico. É uma história de adolescentes com poderes, baseado em
alguns dos princípios do Eneagrama, um símbolo antigo que hoje é usado como
ferramenta para avaliação de pessoas e é muito famoso entre as empresas de
recrutamento e recursos humanos.
Fui submetido à um
teste de personalidade através dos fundamentos do Eneagrama há um ano, e
enquadrado em dois subtipos distintos: Intelectual e Pacificador. Para quem
nunca ouviu falar, o Eneagrama descreve nove subtipos de personalidade
presentes em todos os seres humanos, alguns em maior ou menor evidência, e a
busca da felicidade consiste justamente no equilíbrio entre esses nove tipos
(Caso queira saber mais, visite: http://www.ieneagrama.com.br/, entre
outros).
O diagnóstico não
me surpreendeu. De fato, na época em que o teste foi aplicado, já tinha
assumido pra mim mesmo uma postura mais pacifista diante das tempestades que me
abatem diariamente, e aos poucos fui adquirindo aqui mesmo neste blog um tom
mais leve e mais humanitário - que foi inclusive marcado pela mudança de nome
do blog - de Crônicas de Um Escritor Maldito para o atual Crônicas de Um
Escritor Nostálgico - que soa menos agressivo e amargo. A serenidade é um dom
que precisa ser cultivado, e é balsâmica não só para a alma do sereno mas para
aqueles que convivem com ele.
Todos os dias
quero acordar e perceber que as pessoas que me rodeiam, que compartilham comigo
compulsoriamente horas preciosas do seu dia, se alegram de verdade por estar em
minha companhia, a ponto de minha simples lembrança se tornar motivo de sorriso
e paz. Nem sempre é fácil Mas a filosofia de que "a opinião alheia a meu
respeito não importa" não é um preceito que costumo adotar. Gosto de me
adaptar a vários tipos de gostos, o que não quer dizer que eu adote vários
tipos de rostos. Gosto de me adequar, desde que o que se espera de mim seja
algo que está em mim, dentro da esfera dos princípios fundamentais do caráter
que herdei dos meus pais e que vou carregar pra toda a vida... Noções abstratas
de verdade, justiça, lealdade, fidelidade, respeito, têm um peso enorme em
minha consciência, e sempre que cedi às tentações de quebrar qualquer um destes
valores o preço pago foi alto demais...
Bem, um dos vícios
descritos para o subtipo Pacificador é justamente a adoção de uma certa aversão
por conflitos de opinião e interesse. E eles são inevitáveis. Em uma de suas
antigas canções, Humberto Gessinger, da extinta banda Engenheiros do Hawaí, dizia muito sabiamente: "Se
queres paz, te prepara para a guerra. Se não queres nada, descanse em
paz". Desgraçadamente, numa sociedade ocidental cristã, não existe espaço
para que as máximas do maior fundador de religiões de todos os tempos, aquele
que se disse Deus Todo-Poderoso feito homem, capaz inclusive de ser um marco
divisor de nosso calendário, sejam postas em prática (vou transcrever pra não
dizerem que inventei): "Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também
a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; (Lucas 6, 29).
Infelizmente, os seguidores desse senhor estão cansados demais, revoltados
demais, ou simplesmente preguiçosos demais, para colocar em prática as palavras
de quem chamam de Mestre. Acabam não se tornando seguidores, apenas fãs (ouvi
essa última frase de um noticiário americano mas agora não me lembro do
entrevistado. Sorry!). Não raro, tecem impropérios contra toda a sorte de gente
no mundo, desde a fofoqueira do setor tal, a faxineira, a vizinha da rua de
cima, o chato do ônibus... Todos uns ignorantes, mal-amados, sem educação que
deviam levar muita surra da vida ainda pra aprender a respeitar os mais velhos,
os mais novos, os mais pobres, os mais ricos... (no fundo, os “mais-eu”) Quando se fala de noticiários então, sempre
escuto opiniões favoráveis a penas cruéis, severas e desumanas, desde trabalhos
forçados a extração dos testículos aos autores desse ou daquele crime. Demagogia à parte, também sou a favor de penas
mais duras para ladrões e estupradores, mas eu posso dizer porque afinal de
contas, não sou seguidor do mestre...
Enfim, o pacifismo
tem seu preço. "Se queres paz, te prepara para a guerra". Com o
tempo, aprendemos na prática umas verdades sobre o ser humano que sempre
soubemos, mas que de certa forma ignoramos. Sabe aqueles jargões e ditados
prontos: "Quem não chora, não mama." Ou "Se você não decide,
outro decide por você"? Pois foram baseados em fatos reais. O pacifista,
ou o pseudo-pacifista, o pacífico, muitas vezes se confunde (acaba confundindo
a si mesmo) com o apático, o sem-cor, sem personalidade, sem decisão, sem
fibra. Acaba negando-se a si mesmo para evitar conflitos. Esse é o limite
perigoso entre aquele que tenta agradar e aquele que não quer se comprometer. E
ao atravessar essa linha tênue, o pacifista acaba provocando justamente o
oposto do que gostaria, e o que é pior, com a consciência tranquila. "Se
não queres nada, descanse em paz".
Pode não parecer,
mas o pacifista sofre sim. Muitas vezes, as pessoas confundem, acreditam que,
por ser uma pessoa de hábitos moderados, não tem sentimentos. O pacifista acha
que vai conquistar o melhor das pessoas simplesmente sendo bom e generoso, mas
não é o que ocorre. Ele se decepciona, e muitas vezes a decepção vem de pessoas
muito próximas. Sentindo que o pacifista é fraco, as pessoas o usam para
exercitar sua força, para extravasar sua agressividade, pois já comprovaram
que, tal qual um cão obediente, ele irá se limitar a abaixar a cabeça,
resignado, e voltará abanando o rabo, sem mágoa, implorando por migalhas de
consideração.
As pessoas
aprenderam a respeitar a força. Dinheiro, inteligência, vitalidade, eloquência,
tudo isso produz força. Você acha que respeita o amor? Mentira! Você respeita a
força. Acha que respeita a sensibilidade? Outra mentira! A ÚNICA coisa que
respeitamos é a FORÇA. Pessoas sem amor próprio, sem opinião, deprimidas,
confusas, lentas, representam tudo aquilo que NÃO respeitamos. Não interessa se
é sua mãe. Se ela não produz FORÇA, você não a respeitará. Não interessa se é
seu irmão. Se ele não produz FORÇA, você não o respeitará. Sim, você o amará,
com certeza. Como um dono ama seu cão. Mas não o respeitará, ao invés de
levantá-lo você vai esmagá-lo e humilhá-lo - inconscientemente - porque ele o
faz sentir repulsa.
Aprender a brigar
foi uma lição importante ensinada pelo Ano em que o Mundo Deveria Acabar. O sentimento
de revolta não precisa necessariamente se confundir com o de raiva.
Agressividade produz força. Agressão gera violência. São coisas distintas. A
força que se produz vinda da própria agressividade, daquela revolta contra a
apatia de tudo o que é e que insiste em continuar como está, é a mola
propulsora para que o pacifista veja-se a si mesmo com o respeito que lhe é
devido. Choque de opiniões não significa
amor em jogo. Todo embate é válido, desde que sejam respeitados os princípios
fundamentais: verdade, justiça, lealdade, fidelidade e respeito. E se vamos
defender a paz, que a assumamos de cabeça erguida e punho em riste...
... porque em 2013
estou pronto para a Guerra!
Abraços e espero
que nos vejamos mais no Ano que vem!
Gustavo Jonathan
Costa
"Porque a
vida vale a pena HOJE!"