quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O ENEAGRAMA OU SÓ MAIS UMA CRÔNICA DE FIM DE ANO

O Dia Em Que a Mão de Deus Tocou é o nome de um blog criado por mim há uns três ou quatro anos pra divulgar o projeto de um livro com esse título que comecei a escrever... O blog ainda está vivo, se você digitar isso aí no Google provavelmente vai ser direcionado diretamente pra ele... e vai perceber que o livro nada tem de religioso, embora ligeiramente metafísico. É uma história de adolescentes com poderes, baseado em alguns dos princípios do Eneagrama, um símbolo antigo que hoje é usado como ferramenta para avaliação de pessoas e é muito famoso entre as empresas de recrutamento e recursos humanos.

Fui submetido à um teste de personalidade através dos fundamentos do Eneagrama há um ano, e enquadrado em dois subtipos distintos: Intelectual e Pacificador. Para quem nunca ouviu falar, o Eneagrama descreve nove subtipos de personalidade presentes em todos os seres humanos, alguns em maior ou menor evidência, e a busca da felicidade consiste justamente no equilíbrio entre esses nove tipos (Caso queira saber mais, visite: http://www.ieneagrama.com.br/, entre outros). 

O diagnóstico não me surpreendeu. De fato, na época em que o teste foi aplicado, já tinha assumido pra mim mesmo uma postura mais pacifista diante das tempestades que me abatem diariamente, e aos poucos fui adquirindo aqui mesmo neste blog um tom mais leve e mais humanitário - que foi inclusive marcado pela mudança de nome do blog - de Crônicas de Um Escritor Maldito para o atual Crônicas de Um Escritor Nostálgico - que soa menos agressivo e amargo. A serenidade é um dom que precisa ser cultivado, e é balsâmica não só para a alma do sereno mas para aqueles que convivem com ele. 

Todos os dias quero acordar e perceber que as pessoas que me rodeiam, que compartilham comigo compulsoriamente horas preciosas do seu dia, se alegram de verdade por estar em minha companhia, a ponto de minha simples lembrança se tornar motivo de sorriso e paz. Nem sempre é fácil Mas a filosofia de que "a opinião alheia a meu respeito não importa" não é um preceito que costumo adotar. Gosto de me adaptar a vários tipos de gostos, o que não quer dizer que eu adote vários tipos de rostos. Gosto de me adequar, desde que o que se espera de mim seja algo que está em mim, dentro da esfera dos princípios fundamentais do caráter que herdei dos meus pais e que vou carregar pra toda a vida... Noções abstratas de verdade, justiça, lealdade, fidelidade, respeito, têm um peso enorme em minha consciência, e sempre que cedi às tentações de quebrar qualquer um destes valores o preço pago foi alto demais... 

Bem, um dos vícios descritos para o subtipo Pacificador é justamente a adoção de uma certa aversão por conflitos de opinião e interesse. E eles são inevitáveis. Em uma de suas antigas canções, Humberto Gessinger, da extinta banda Engenheiros do Hawaí, dizia muito sabiamente: "Se queres paz, te prepara para a guerra. Se não queres nada, descanse em paz". Desgraçadamente, numa sociedade ocidental cristã, não existe espaço para que as máximas do maior fundador de religiões de todos os tempos, aquele que se disse Deus Todo-Poderoso feito homem, capaz inclusive de ser um marco divisor de nosso calendário, sejam postas em prática (vou transcrever pra não dizerem que inventei): "Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; (Lucas 6, 29). Infelizmente, os seguidores desse senhor estão cansados demais, revoltados demais, ou simplesmente preguiçosos demais, para colocar em prática as palavras de quem chamam de Mestre. Acabam não se tornando seguidores, apenas fãs (ouvi essa última frase de um noticiário americano mas agora não me lembro do entrevistado. Sorry!). Não raro, tecem impropérios contra toda a sorte de gente no mundo, desde a fofoqueira do setor tal, a faxineira, a vizinha da rua de cima, o chato do ônibus... Todos uns ignorantes, mal-amados, sem educação que deviam levar muita surra da vida ainda pra aprender a respeitar os mais velhos, os mais novos, os mais pobres, os mais ricos... (no fundo, os “mais-eu”)  Quando se fala de noticiários então, sempre escuto opiniões favoráveis a penas cruéis, severas e desumanas, desde trabalhos forçados a extração dos testículos aos autores desse ou daquele crime.  Demagogia à parte, também sou a favor de penas mais duras para ladrões e estupradores, mas eu posso dizer porque afinal de contas, não sou seguidor do mestre... 

Enfim, o pacifismo tem seu preço. "Se queres paz, te prepara para a guerra". Com o tempo, aprendemos na prática umas verdades sobre o ser humano que sempre soubemos, mas que de certa forma ignoramos. Sabe aqueles jargões e ditados prontos: "Quem não chora, não mama." Ou "Se você não decide, outro decide por você"? Pois foram baseados em fatos reais. O pacifista, ou o pseudo-pacifista, o pacífico, muitas vezes se confunde (acaba confundindo a si mesmo) com o apático, o sem-cor, sem personalidade, sem decisão, sem fibra. Acaba negando-se a si mesmo para evitar conflitos. Esse é o limite perigoso entre aquele que tenta agradar e aquele que não quer se comprometer. E ao atravessar essa linha tênue, o pacifista acaba provocando justamente o oposto do que gostaria, e o que é pior, com a consciência tranquila. "Se não queres nada, descanse em paz". 

Pode não parecer, mas o pacifista sofre sim. Muitas vezes, as pessoas confundem, acreditam que, por ser uma pessoa de hábitos moderados, não tem sentimentos. O pacifista acha que vai conquistar o melhor das pessoas simplesmente sendo bom e generoso, mas não é o que ocorre. Ele se decepciona, e muitas vezes a decepção vem de pessoas muito próximas. Sentindo que o pacifista é fraco, as pessoas o usam para exercitar sua força, para extravasar sua agressividade, pois já comprovaram que, tal qual um cão obediente, ele irá se limitar a abaixar a cabeça, resignado, e voltará abanando o rabo, sem mágoa, implorando por migalhas de consideração. 

As pessoas aprenderam a respeitar a força. Dinheiro, inteligência, vitalidade, eloquência, tudo isso produz força. Você acha que respeita o amor? Mentira! Você respeita a força. Acha que respeita a sensibilidade? Outra mentira! A ÚNICA coisa que respeitamos é a FORÇA. Pessoas sem amor próprio, sem opinião, deprimidas, confusas, lentas, representam tudo aquilo que NÃO respeitamos. Não interessa se é sua mãe. Se ela não produz FORÇA, você não a respeitará. Não interessa se é seu irmão. Se ele não produz FORÇA, você não o respeitará. Sim, você o amará, com certeza. Como um dono ama seu cão. Mas não o respeitará, ao invés de levantá-lo você vai esmagá-lo e humilhá-lo - inconscientemente - porque ele o faz sentir repulsa. 

Aprender a brigar foi uma lição importante ensinada pelo Ano em que o Mundo Deveria Acabar. O sentimento de revolta não precisa necessariamente se confundir com o de raiva. Agressividade produz força. Agressão gera violência. São coisas distintas. A força que se produz vinda da própria agressividade, daquela revolta contra a apatia de tudo o que é e que insiste em continuar como está, é a mola propulsora para que o pacifista veja-se a si mesmo com o respeito que lhe é devido.  Choque de opiniões não significa amor em jogo. Todo embate é válido, desde que sejam respeitados os princípios fundamentais: verdade, justiça, lealdade, fidelidade e respeito. E se vamos defender a paz, que a assumamos de cabeça erguida e punho em riste...

... porque em 2013 estou pronto para a Guerra! 


Abraços e espero que nos vejamos mais no Ano que vem!
Gustavo Jonathan Costa
"Porque a vida vale a pena HOJE!"