segunda-feira, 4 de abril de 2011

ESCRITOR MALDITO

Cada dia que passa eu chego à conclusão que meu negócio mesmo é escrever... No início, foram as aulas de Cálculo Diferencial e Integral e Geometria Analítica e Álgebra Linear que me fizeram pensar assim, afinal de contas essas disciplinas são uma afronta à qualquer brasileiro mal iniciado nas artes matemáticas, algo que hoje em dia gira em torno de 95% da população.

Ao contrário do que pensam alguns, escrever é uma arte. Diferente da lógica matemática, em que os doutores do ICEx(Instituto de Ciências Exatas da UFMG) conseguem fazer tudo se encaixar perfeitamente, fazendo-nos nos sentir uns completos idiotas, o encaixe das letras não depende do conhecimento de regras pré-estabelecidas. Ou você sabe, ou não sabe. Se não sabe, nada fará com que saiba. Se sabe pouco, pode melhorar muito, e vir a saber. Eu sempre gostei de escrever, embora soubesse pouco. Ter feito Letras na UFMG não me tornou cronista, isso é algo que eu sempre gostei de fazer, mas não num blog como faço hoje. Até porque antes de 2002 os blogs não eram tão famosos como atualmente...

Infelizmente, escrever não tem lá o prestígio de outras formas de arte em nossa sociedade brasileira. Isso pelo simples fato de que nós brasileiros temos preguiça de ler. Eu, particularmente, acho uma arte estranha mesmo. Ela não tem beleza em si... você pega um texto e olha de longe... putz, que preguiça, não vou ler isso não. Diferente de uma imagem que te atinge no ato, em suas diferentes tonalidades. Atualmente as editoras “apelam” para capas de livros cada vez mais chamativas, cheias de cores e ilustrações, até alto relevo, para atrair os leitores para o mesmo fundo branco repleto de letras pretas formando palavras que compõem todos os livros desde a Antiguidade.

A música consegue ser ainda mais sensacional. Você não precisa encará-la pra perceber sua essência... ela te pega pelas costas, de olhos fechados. E quando é mesclada à dança, que é a própria representação visual das músicas... bem, talvez mil palavras não sejam suficientes para descrever essa forma de arte...

O cinema consegue mesclar todas essas formas e criar a sua própria linguagem... imagem, música, dança... e uma série de outros recursos que provocam nos expectadores passivos múltiplas sensações. A escrita não. Para alcançar o efeito da arte da escrita é preciso um esforço inicial do leitor... ele precisa olhar para o texto, começar a decodificar as primeiras palavras, sentir do que se trata a história... ir imaginando aos poucos. É necessário um esforço ativo do leitor, por isso mesmo, um texto pra ficar realmente famoso, atingir várias pessoas, provocar diversas emoções, tem que ser realmente bom. Tem que convencer o leitor mais preguiçoso, ele tem que ter escutado falar desse texto em algum lugar, gostar do escritor, ter lido algo dele antes... coisas do tipo.

Por isso mesmo eu fiquei emocionado com as manifestações de admiração que vieram da leitura do meu último post (Auréola). Não só recebi comentários no próprio blog, mas recebi telefonemas, scraps e torpedos de leitores que se envolveram com uma de minhas grandes histórias. Inclusive da própria Bia. E esse foi um dos motivos que me levaram a chegar à conclusão de que meu dom mesmo é escrever.

É também minha maldição.

Poucas pessoas entendem que ser um artista não quer dizer necessariamente que somos artistas da vida. Engraçado como muitos acabam me procurando para conhecer quem é o cara que escreveu tal coisa, de repente com a idéia errada de que eu posso ter algum tipo de aura especial... e acabam se decepcionando, porque na minha mediocridade, eu sou um ser humano normal, que sua, tem gases e cheira mal se não tomar banho todos os dias.

Ora, invariavelmente trombamos na rua com dezenas e centenas de cantores, atores, escritores, pintores e cineastas sem que a simples presença deles não nos cause o mínimo espanto. Ás vezes eles estão no nosso caminho quando precisamos atravessar uma avenida movimentada e o fato de estarem ali só nos causa incômodo. A arte não nos marca de maneira especial... nós somos simplesmente o que somos. Então, torna-se frustrante para qualquer artista ser abordado por algum dos admiradores da sua arte e perceber nesses a decepção por não ver no autor a própria arte.

É claro que meus textos são a pura expressão do que eu guardo dentro de mim. Isso por si só pode levar alguns a querer ver em mim a força que vê nos textos. Mas não é bem assim. Minha forma de expressão pessoal, social e profissional é diferente...Eu não sou minhas crônicas, assim como James Cameron não é Avatar, e Elis Regina não era como nossos pais... Auréola é capaz de arrancar lágrimas e suspiros de admiração porque a história arranca lágrimas... e isso é algo que não dependia só de mim. Saber transmitir isso, fazer com que você, leitor, sinta o que eu senti e o que aprendi com a Bia, sim, é um talento desse artista, mas a natureza tem suas compensações, e pode ter certeza que você realiza muitas coisas admiráveis aos meus olhos, mesmo que com seu texto você não seja capaz de me contar.

Escrever bem muitas vezes é uma maldição, porque abre caminhos que o escritor não é capaz de percorrer. Imagine você leitor que a Cameron Diaz lesse uma de minhas crônicas (hipoteticamente falando, claro. Vamos supor que ela tenha aprendido português com o Rodrigo Santoro!) e tenha achado o máximo o que eu disse sobre a Síndrome do Pavo. Ela continua lendo mais alguns textos, detesta o Big Brother 174 e não curte muito o A favor do coletivo. Fica meio em cima do muro quando o assunto é Desligião mas vai à loucura quando lê Auréola. Então ela deixa um comentário. Me manda um e-mail. Eu respondo, achando engraçado, ou no mínimo que é um fake qualquer...

Ela não desiste, me adiciona no seu MSN. Com muito custo, consegue provar que é de fato a Cameron Diaz e que adora a forma como eu escrevo. Ora, pelo MSN um escritor que se preze escreve tão bem quanto em qualquer outro lugar... Eu interajo magistralmente com a atriz hollywoodiana e ela fica impressionada com minhas respostas, minha criatividade, meu jeito de “falar”...

Então finalmente ela vem para o Brasil e quer me conhecer...

Caras... eu vou fazer o quê??? Ficar de frente para a Cameron Diaz, aquela blond girl fantástica... e começar a suar como um louco, minha voz vai falhar, minhas mãos vão tremer... Imagina se ela chega num domingo – naqueles dias em que eu não faço barba e fico de bobeira em casa sem me produzir pra nada. Que fiasco! Lá se vai a imagem do Escritor Maldito por água abaixo. Ou no mínimo, ia me tornar ainda mais maldito...

Talvez eu não tenha sido preparado pro assédio... algumas pessoas tem esse dom. Eu não. A admiração sim,é uma coisa louvável, e faz bem. Mesmo que comentários completamente discordantes nos fazem sentir que produzimos um efeito. Ninguém escreve pra jogar seu texto no vazio, por mais miserável que seja. A indiferença completa, essa sim é deprimente. Como é deprimente a indiferença de algumas pessoas que não vêem o escrito no escritor... Porque ainda que o escritor não tenha lá as mesmas qualidades que se percebem quando se lê seu texto, ele é uma pessoa única, com qualidades suficientes para se tornar na vida de qualquer um uma pessoa inesquecível...

Que o digam aqueles que convivem com ele há muitos anos, e ainda que admirem profundamente o Escritor Maldito, amam ao Gustavo incondicionalmente...

Gustavo Jonathan Costa

“Porque a vida vale a pena HOJE!”

2 comentários:

  1. 1º - bom dia pra quem acordou com o sentimento metalingüístico aflorado!
    2º - eu ia comentar sobre o parágrafo que vc falou de o texto não apetecer por si só, que há de haver algum interesse prévio, mas vc mesmo falou o que eu ia falar: "ter lido alguma coisa do autor antes". Eu não entendi muito bem o intuito deste post, mas li até o final, só porque era seu, e eu sabia que, ainda que não fosse bom, ruim não seria. E eu estava certo.
    3º - bom dia pra quem acordou revoltado com o ICEx! hahahhhahah
    TODOS LAMENTA! \o/

    Tenha uma ótima semana, querido! Um abraço!

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  2. Gustavo,

    Parece que cada vez que leio algo que vc escreve, me surpreendo. Sinto que está no caminho certo.

    Bjs,
    Pat

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