terça-feira, 3 de maio de 2011

DIA DO BEIJO

Como bom representante do gênero masculino, tenho uma obsessão quase obsessiva por sexo. Desgraçadamente, como não compartilho da mesma afinidade que meus congêneres por futebol, acabo não tendo outro tipo de assunto ou idéia fixa. Felizmente, o mundo moderno permite que a Síndrome de Pavo seja direcionada em prol da humanidade, na construção de aeronaves espaciais e nos fundamentos do princípio de incerteza de Heisenberg.

Também no desenvolvimento da arte de se relacionar fomos beneficiados com a Síndrome do Pavo e com a emancipação feminina, que até onde me consta, tem agraciado mais homens do que mulheres, pois se tal fenômeno social não houvesse ocorrido, não teríamos tantas beldades posando nuas nas revistas masculinas (e ainda sendo consideradas modelos sociais). Como um selvagem domesticado, aprendi a direcionar minha obsessão obsessiva para outras nuances do corpo feminino, capazes de me transmitir tanto ou mais prazer do que a simples prática sexual.

A boca por exemplo... esse órgão enaltecido por poetas e poeteiros desde a Antiguidade - e cuja utilidade também para os "atos orais" é bem apreciada - consegue despertar nesse escritor nostálgico sentimentos que vão desde as mais inconfessáveis manifestações instintivas aos mais sublimes sentimentos. Não há quem possa negar que a maior invenção humana, superando a própria Mona Lisa, é o ósculo propriamente dito. Pois correndo o risco de parecer um grande 171, obrigo-me a dizer que a prática do beijo me seduz ainda mais do que o sexo stricto senso. Sexo é orgânico. Preciso dele, como de água e alimento todos os dias. Também é efêmero, fácil de ser conseguido se a prioridade é tão somente o atendimento a uma necessidade primitiva. É claro que, como para satisfazer a qualquer outro instinto aprimoramos e sofisticamos as manifestações de nossos prazeres. Envolvemo-nos sentimentalmente com os objetos de nossos desejos - e com as donas dos objetos. Desenvolvemos formas de conquista. Estudamos o outro, nos interessamos sinceramente pelo que pensa e sente, e somos recompensados com orgasmos múltiplos, ainda que para nós homens sejam um a cada vinte minutos, no mínimo.


Porém, pra gozar por gozar, nem é necessário parceiro. Homens e mulheres são auto-suficientes na auto-compensação mecânica da falta de sexo. Já para o beijo não. Esse requer necessariamente e obrigatoriamente uma segunda pessoa, exige que haja consentimento, e ainda que não haja amor, é necessário que haja tesão, desejo, química. Beijo tem que ter afinidade. Tem que começar com aquele leve toque nos lábios, que faz a gente sentir o gosto gostoso do batom ou do brilho, sentir a boca da garota ligeiramente mais fria que a nossa. Então, depois do primeiro selinho, vem outro, e de repente uma energia eletromagnética começa a te puxar para mais perto, e você não vê mais os olhos, o cabelo, somente aqueles lábios na sua frente.


Então alguém dá um tranco no corpo do outro. Pode ser você, pode ser ela, ninguém mais sabe, pois quando se dão conta, já estão de olhos fechados, sentindo bem de perto a respiração ofegante, um gemidinho que vem lá do fundo da alma, e por fim você quer de repente sentir tudo, as mãos envolvem as costas, o pescoço, glúteos, enquanto línguas se entrelaçam, atrevidas, uma penetrando o esconderijo da outra, em ritmo sincronizado, combinado, acordado, elas se impõem e se subjugam, dominam e se deixam dominar...

Diferente do sexo, o beijo não define papéis sexuais. Não tem regras, não tem posições, só exige que duas bocas estejam suficientemente próximas para se devorarem umas às outras. Ele pode ser comportado, por pudor, mas um beijo de verdade não consegue ser fingido, dissimulado. Prostitutas abrem suas borboletas para seus clientes, mas não conseguem beijá-los na boca. E mesmo casais cuja relação esfriou há vários anos continuam fazendo sexo embora raramente seus lábios entrem em contato.

Um beijo pode durar uma eternidade. De tão prazeroso, ele jamais sacia a si mesmo. Após o sexo, trocam-se algumas carícias, dizem-se algumas besteiras e logo o corpo cede, e acaba-se dormindo... (ou pula-se toda a parte das carícias e dorme-se imediatamente). Mas o beijo dificilmente nos deixa desvencilharmos dele. Ao nos despedirmos, gastamos horas trocando os últimos selinhos da noite (ou do dia). Nostálgico que sou, tenho registrado 69 minutos ininterruptos em um longo e demorado sorver de lábios, dentes e língua... do qual jamais me esqueço.

Sexo é bom, mas se torna ótimo quando começa com beijo. Aquele beijo que não te desgruda enquanto você a joga na parede, e se despe de camisas, shorts, sapatos, mochilas, agendas e cordões... E continua rolando solto, os corpos já nus um sobre o outro, lambendo saliva, maquiagem , suor e fios de cabelo. E quando se desgrudam os lábios, vão logo ao encontro de orelhas, de pescoços, de seios, tal a vontade e o desejo de continuar sorvendo toda a transpiração do outro corpo. Muitas vezes é acompanhado de mordidas discretas em lugares estratégicos, suplementando dessa maneira o prazer mútuo proporcionado pela boca.

Mas beijo não termina necessariamente em sexo. Depende de clima, de lugar, de ambiente, de expectativas que temos em relação à parceira ou parceiro. É claro que, se beijamos, queremos. Mas ainda que não façamos, só pelo beijo, vale a pena. A gente fica com aquela lembrança, aquela saudade, aquela vontade do reencontro, só para beijar mais, muito mais... e fazer todo o resto que ficou pra trás.

Beijo é assim. Pode ser seco, molhado, combinado ou roubado, mas tem que ter. E se for todos os dias, não enjoa não. Mas se der saudade, tanto melhor! Por isso todo dia deveria ser declarado Dia do Beijo, para que todo individuo com sangue nas veias e calor nos lábios esquecesse um pouco seus problemas e beijasse... beijasse e se deixasse beijar!

Até meu próximo post.

Gustavo Jonathan Costa

Porque a vida vale a pena HOJE!