quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A casa do Saci ou Uma Crônica de Fim de Ano

ADVERTÊNCIA: Essa crônica NÃO traz mensagens de paz e de Feliz Ano Novo. Por isso, se não quiser estragar sua festa, espere até o dia 2 de janeiro para lè-la.



Todos os átomos que constituem meu corpo surgiram a bilhões de anos atrás, no que os cientistas chamam de Big Bang, a grande explosão cósmica que deu origem ao universo como conhecemos hoje. Talvez por isso mesmo, embora cronologicamente nesse corpo eu esteja vivendo a menos de trinta anos, meus átomos guardam todas as "lembranças" do passado, o registro homeopático de como o mundo foi e tem sido desde que essa realidade existe...

Bom, é claro que um parágrafo como esse não poderia estar sendo escrito em horário melhor do que o a madrugada, pois como sabem aqueles que me lêem desde o início, eu tenho o dom de não dormir mais do que quatro ou cinco horas por noite, e agora mesmo, nesse exato momento, estou vivendo os primeiros trinta minutos do último dia do ano de 2010. E nesse clima de Natal e Ano Novo estou vendo tantas mensagens de esperança e fé que eu não poderia deixar passar em branco sem uma única crônica de fim de ano.

Meu Reveillon vai acontecer outra vez na casa dos meus pais, numa chácara de Esmeraldas, onde todos os anos desde que eles se mudaram pra lá toda a minha família se reúne para celebrar, claro, a união da família e o nascimento do menino Jesus. Minha filha, de cinco anos, com sua pureza singular, sente que a representação do nascimento de Cristo é mais importante do que a chegada do Papai Noel. Graças a Deus, minha mãe tem sido boa influència para a criança, porque ela ficaria horrorizada com os ensinamentos do seu progenitor. Sou do tipo de pai que tenta fazer uma menina de cinco anos entender o que é uma metáfora, o que acredito que é um diagnóstico claro de que, ainda que eu a ame mais do que tudo, não aprendi muita coisa no curso de Didática da Licenciatura...

Eu detesto o Natal. Detesto o Ano Novo. Que me perdoe o Menino Jesus. Que me perdoem aqueles que esperam ler mensagens de paz e esperança para o Ano Novo. Sei exatamente o roteiro, como tudo acontece, e me entedio sempre. Fico deprimido, sei lá. Até tentei mudar um pouco as coisas esse ano. Levei por exemplo uma mala com coisas das quais eu até conseguiria sobreviver na roça, por exemplo, meu par de chinelos novos, que ganhei de amigo oculto. Sempre deixo de levar chinelos pra casa dos meus pais, porque eles guardam centenas de pares velhos por lá que sempre servem para toda a família. Quero dizer, SERVIAM. De uns tempos pra cá, toda vez que qualquer pessoa vai procurar um par de chinelos pra quebrar o galho por algumas horas, ou dias, encontra pelo menos 489 chinelos... TODOS do pé esquerdo!!!!!!! É impressionante! Desde quando meus pais se mudaram e aquela casa se tornou a casa do Saci???
No fim das contas já me lembrei de pelo menos 78909 palavrões diferentes, cinco deles na língua árabe. Como uma família consegue se manter unida sem chinelos suficientes pra usar?

Então zarpei com meu par de chinelos novos, pois pelo menos um aborrecimento a menos eu teria. E lá fui eu celebrar a beleza da união em família, o valor dos ensinamentos e das virtudes, eu que a algum tempo desmantelei o que chamava de minha família, agora vejo meus primos e meus irmãos sonhando com uma vida futura de filhos, casamentos e riquezas financeiras, coitados, sem terem a noção de que infelizmente NÃO estarão ricos aos 30 anos.

Recentemente descobri que sou o grande exemplo de "filho que faz besteiras e se dá mal na vida". Minha tia me contou que sempre que o filho pensa em se casar ela diz: "olha o que aconteceu com Gustavo". Beleza, fico muito feliz em saber que sirvo de ensinamento pra todo mundo. Ninguém se lembra que, de todos da família, fui o primeiro a me profissionalizar, que trabalho desde os 18 anos, que trabalho na mesma empresa a oito anos e meio, e que de lá pra cá eu só acumulei promoções, aumentos de salário e até uma viagem pro exterior. E que já estou cursando minha segunda graduação. De repente a gente se torna um moleque. Minha mãe me diz que uso calças de moleque, que fico ridículo quando uso brinco. Porra, aos quinze anos ela me dizia que pra usar essas "porcarias" eu teria que trabalhar e ser independente, agora que trabalho e sou independente sou muito velho pra usar calças com detalhes e brinco na orelha?

Como se não bastasse, sou o irmão do filho caçula que vai se formar em medicina. Ele não tem nome nem identidade, todo mundo se esqueceu de quem ele é e agora só o vê como o "filho médico". Ruim pra ele, pior pra mim e pro meu segundo irmão que se graduou, fez Mestrado no Rio de Janeiro e ninguém sabe direito o que ele faz... Ah, ele tem quase trinta anos também, e não ficou rico...

Pois é, de repente o tempo passa, e eu percebo que estou cansado... Novo pra isso, claro, mas já perceberam como os jovens de hoje estão mais cansados, mais impacientes com tudo o que acontece no mundo? Parece que eles já viram o filme muitas vezes, mais do que nós, mais do que a geração anterior, que deveria estar mais cansada do que nós mas por incrível que pareça manifesta mais vitalidade, mais esperança, não sei em quê. E eu acho que são os átomos de bilhões de anos atrás conservando em nós a história, já nascemos de olhos abertos porque aprendemos antes de nascer, porque já vivíamos antes de viver...

Acostumamos a ver a vida como um ciclo, mas eu só vejo um contínuo movimentar-se para a frente. O ano é novo, mas eu só vou ficar mais velho. Continuo com os mesmos problemas e os juros de cartão de crédito não abaixarão no ano que vem. Os papéis sobre minha mesa estarão me esperando no dia 3 de janeiro, do jeito que deixei no dia 22 de dezembro. Não haverá ciclo, não haverá renovação. Só promessas que não irei cumprir, projetos que não irei concretizar. Por quê fazer promessas no dia 31 de dezembro? Por que não fazê-las no dia 26 de março, que é um dia como outro qualquer? Ou no dia 31 de julho, quando enfim completarei finalmente meus 30 anos (e não estarei rico)?

... (pausa para reflexão... entre o parágrafo acima e o parágrafo abaixo se desenrolaram uns bons dez minutos...)

Não, diante dos gritos de protesto dos meus leitores vou avisando: NÃO sou materialista, NÃO sou conformista e NÃO sou o cara que quer estragar a festa de quem acredita na renovação e quer compartilhá-la com aqueles a quem mais ama. Só que me incomoda, demais, essa indústria do "agora vamos mudar porque é a virada do ano". Porra, cara, a gente tem que mudar todo dia, não há um momento em que eu não sonhe com isso, e o fato do ano novo estar chegando não muda em NADA o meu estado de espírito. Só me incomoda é que AGORA todos queiram algo que a gente deveria pensar o ano inteiro. Ou querem ou são obrigados. Daí, dá-lhe torpedos, scraps e tweeds de feliz ano novo, que nesse ano que virá se renovem as esperanças e blábláblá... Meu, tem dias que a vida é uma MERDA, eu quero votos de esperança TODOS OS DIAS, preciso de palavras de conforto SEMPRE, assim como eu acho que posso (e deveria) distribui-las SEMPRE!!! Não só quando baixa o Espírito Natalino... sei lá quem é esse cara, de que Centro ele é, mas em mim ele não baixa não senhor. A única coisa que se torna evidente pra mim é que, ainda que em doses homeopáticas, meus átomos estão ficando cada vez mais cansados de milênio após milênio ouvir sempre as mesmas histórias desse ciclo linear que é a miserável existência humana...


Que todos os dias de 2011 sejam felizes pra vocês, mas como tenho certeza de que NÃO serão, assim como os meus também não, quero que saibam que podem contar comigo - pelo menos os mais próximos, porque nem todos eu conheço - e pra esses, gostaria de poder sempre contar com vocês.

E tomara, tomara MESMO, que todos vocês realmente tenham com QUEM contar... nos bons e maus momentos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CRISTÃO HEDONISTA

As pessoas que me conheceram a alguns anos atrás se lembram de mim como um cara apegado às virtudes espirituais. Vindo de uma família tradicionalmente católica, abracei a religião dos meus pais com fervor. Tudo no universo pra mim era dividido em duas realidades distintas: as coisas do mundo e as coisas de Deus, e eu, é claro, aspirava as coisas do alto. Queria ser santo. Ou padre. Ou pelo menos uma referência para a juventude perdida da minha cidade natal, Pedro Leopoldo.

Algumas das pessoas que me conhecem hoje acham que sou arrogante, orgulhoso, porque não sou de conversas alegres o tempo todo. Mas não é bem isso. É que, pelo menos durante meu horário de trabalho, vivo estressado e ocupado demais para animosidades. Não sou arrogante, tampouco orgulhoso, mas dou valor ao que faço e me ressinto com as pessoas que não dão. Não dão VALOR... (é melhor esclarecer, porque o verbo DAR usado intransitivamente evoca sempre conotações pejorativas).

Já as pessoas que são mais próximas sabem que sou muito diferente do que já fui na juventude. Que tenho enorme controle emocional e estou sempre disponível para trabalhos árduos, exercícios físicos, estudos na madrugada, happy hours e sexo (não necessariamente nessa ordem!) Sabem que sou desbocado, e tenho um senso de humor de uma ironia ácida. Poucas coisas me abalam profundamente.

Às vezes acho que minha alma ficou perdida em algum ponto do passado... ou que foi vendida em algum acordo no qual não li as letras miúdas. Não que eu tenha me desvirtuado completamente do caminho dos meus pais. É claro que o fato de ter terminado um casamento de sete anos e não ter o menor saco pra assistir ás cerimônias religiosas de antes fazem meus progenitores perderem noites de sono, principalmente depois das cachaçadas que andei tomando no início do ano, mas não deixei pra trás tudo o que aprendi nos meus 21 anos em que convivi sob o mesmo teto que eles. Tudo bem que hoje acho que o que me fazia buscar a santidade antigamente era tão somente a falta de mulher, já que nesse quesito eu era um babaca de alta patente que não tinha coragem nem de falar uma merda de um palavrão. Tudo bem também que cinco anos estudando Letras na UFMG mudam nossos conceitos a respeito de fé, religião, aceitação e mais uma série de outros tabus, mas cara, não me tornei um poço de amoralidade, apenas mudei a minha forma de ver as coisas...

Hoje não me considero católico, porque se disser que sou católico vou ofender muitas pessoas boas que seguem rigorosamente essa fé. E pra mim, católico é aquele que segue a Igreja mesmo, de Roma, não é só aqueles mequetrefes que foram batizados, vão a casamentos e assistem às missas de vez em quando... mas não deixam de ir à mesas redondas ou enviar oferendas a Iemanjá... Não, não. Católico pra mim é o beato, papa hóstia, como são pejorativamente tratados, infelizmente, mas estes seguem fielmente a fé que lhes foi confiada. Nesse sentido, eu não sou católico porra nenhuma! Se me perguntassem hoje qual é minha religião, e eu tivesse saco pra inventar uma e administrar uma igrejinha qualquer (e de repente ganhar uma pancada de dinheiro) iria dizer que sou um Cristão Hedonista!!

“Mas que merda é essa?” Quase escuto o leitor dizer. É simples. O hedonista é aquele que vive em função do prazer, mas não necessariamente o prazer carnal. É claro que sem falsos moralismos. Já faz algum tempo que abracei o hedonismo como filosofia de vida. Mas não acho que por causa disso tenho deixado de ser cristão.

Mas não seria uma contradição? É claro que não. Pensa um pouquinho, Zé! Tudo o que a gente busca nesse mundo é uma inesgotável fonte de prazer. As pessoas abrem mão de riquezas, de tempo, de prazeres, até de SEXO, porque acham que vão herdar um paraíso depois que morrerem. Prazer eterno, é isso que todo mundo quer. Minha diferença é que quero prazer NESTA vida. Abrir mão do que o mundo tem pra oferecer em troca de um prazer que não conheço e nem sei se existe parece demais pra mim. Não rola. E antes que os críticos comecem a me acusar de superficialidade, vou logo sugerindo que revejam seus conceitos,

A equação é muito simples. O prazer que almejo não precisa ser imediato, pois a busca pelo prazer em 100% do tempo é claro que vai ao encontro de uma corrida desenfreada carregada de álcool, drogas, sexo irresponsável e no final disso tudo, morte. E das bravas. Com sorte... Não é assim que levo a minha vida. Quando tenho uma prova pra fazer, penso no prazer do aprendizado, no prazer de tirar uma nota alta, e isso me faz vencer meus limites para estudar por horas e horas a fio. Quando estabeleço metas reais em meu trabalho, não me importo de trabalhar dez, doze e até quatorze horas por dia, para conquistar o que eu quero. Ver um amigo realizar seus objetivos é motivo suficiente para que eu abra mão de meu tempo, da minha grana, até da minha saúde para colocá-lo no caminho que ele precisa.

Também quando minha saúde é abalada, minha sensação de prazer cai drasticamente. É claro, afinal de contas vou sentir dores, incômodos, meu ritmo de vida fica todo atrapalhado. Por isso vou me submeter a qualquer tratamento que me for profissionalmente orientado, tomarei o pior dos remédios, tomarei todas as injeções, irei no hospital mais inacessível, tudo para recuperar meu vigor, minha saúde.

Se me interessar por alguma gostosa, vou me aproximar dela, se a vadia não der a mínima, não vou me humilhar por causa dela, porque sei que de gostosas o mundo tá cheio. E a humilhação não vale a pena. No fundo, tudo funciona de maneira muito simples: se a recompensa vale a pena o sacrifício, eu encaro, se não, chuto o balde. Foi isso que me fez abrir mão de um casamento de 7 anos, puxa vida, porque já achava que nenhum sacrifício a mais traria as merecedoras recompensas. No fundo somos todos hedonistas, ainda que não sejamos todos cristãos. É natural, humano, instintivo. Mesmo praqueles que aspiram as coisas do alto, aqueles que acreditam fielmente que existe um paraíso esperando aqueles que suportam fielmente na carne as injustiças criadas por nós mesmos nesse mundo, o que pra mim é só uma forma que alguns encontraram para manter a ordem das coisas de forma que somente certas castas sejam privilegiadas... Claro que não vou me aprofundar nesse pormenor, pois aí já seria levantar outra polêmica, e correr o risco de me causar uma tremenda dor de cabeça... E esse sofrimento agora não valeria a pena.

Até meu próximo post.

Gustavo Jonathan Costa

“Porque a vida vale a pena hoje”.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Papillonfagia

Esse texto é desaconselhável para menores de 18 anos. Contém cenas de sexo explícito e linguagem forte.
Quando eu era criança sabia que existia alguma coisa errada comigo...
Sempre me senti diferente dos outros garotos, um pouco desajustado, desalinhado, sei lá...
Eu era gordo, tinha as pernas tortas, não gostava de praticar esportes... Sempre fui ruim de bola, não sabia andar no mato, não levava jeito com as bolinhas de gude.
Por outro lado, gostava de desenhos, gostava de ler revistinhas em quadrinho, gostava de escrever... Tinha uma letra redondinha, que invejava meus colegas na época, principalmente as meninas.
Tudo em mim me incomodava. Não era agressivo, não era brigão, nunca fui competitivo... Ressentia-me com o tamanho das minhas mãos, que eram (ainda são) bem pequenas, do tamanho "de mãos de moça" como sempre foram classificadas. Essa era dose! Na adolescência, surgiam alguns comentários dizendo que o tamanho da mão é proporcional ao tamanho do pau do cara, e eu sempre ficava com fama de japonês. Puta que o pariu! Mas poucas pessoas tiravam onda com a minha cara, eu falava pouco e brincava menos ainda, então acho que eles tinham medo que eu fosse me derramar de chorar e ir correndo contar pra "tia" caso alguém me fizesse mal.
Sempre me julgaram muito frágil...
Eu gostava de coisas não muito ortodoxas na minha primeira juventude. Fiz teatro, fiz dança, poesia... até alisamento de cabelo.
Uma vez, ainda bem jovem, ouvi alguém falar a meu respeito: "Cara, esse Gustavo parece viado!"
Eu não sabia o que era viado, e não existia o Google na época para que eu pudesse descobrir. Mas aos poucos fui conhecendo e percebendo alguns outros caras que também eram conhecidas como
viados. E eu pensei: Cara, eu devo ser viado mesmo!!
Os viados também eram chamados de mulherzinha, e não via nenhuma ofensa nisso. Acreditei por algum tempo que eu deveria mesmo ser viado, até que, um dia, eu descobri o que os viados fazem...
PUTZ!!! Aquilo não era pra mim não!!!!!
Com a descoberta da verdade sobre os viados, vieram também o amadurecimento dos hormônios masculinos, que graças a Deus sempre correram em abundância nas minhas veias. Meu corpo se encheu de pêlos, minha barba apareceu, as pernas engrossaram, assim como minha voz, e meu pau se desenvolveu mais do que minhas mãos... que continuaram pequenas (e peludas).
Depois que comi minha primeira borboleta (que é como eu chamo carinhosamente o órgão genital feminino... muito melhor que a rima...) saí do quarto, fui pro bar, pedi uma cerveja. Fiquei doidão, bati na mesa do balcão e gritei: Quero mais uma, porra! - NÃO que eu quisesse mais uma porra, mas a expressão anterior pode muito bem ser interpretada assim por alguns conhecidos meus, por isso é melhor deixar essa observação. Quando gritei, vi que muitos senhores que estavam ali presentes me olharam com respeito e admiração, e eu curti aquilo...
Comecei a curtir essas coisas de homem...
Falar de futebol (jogar nem pensar) sem entender porra nenhuma, beber umas dez cervejas e uma vodca e ficar doidaço (e ás vezes trocar as bolas e beber dez vodcas e uma cerveja - e ser carregado de volta pra casa), mexer com as gostosas na rua... Homem só pensa em mulher, é sempre aquela velha vontade de fuder com tudo, a bendita Síndrome do Pavo.
Descobri que quanto mais borboletas eu comia mais grave minha voz se tornava, mais magro eu ficava e pasmem, até meu desempenho escolar melhorava:
- Se vocès verem que o ãngulo formado pelo arco da circuferência é igual ao ângulo central, podemos encontrar facilmente qual é o raio dessa circunferência...
- Nossa Gustavo, como vocè sabe disso tudo?
- Ando comendo borboletas...
E então? Fim da história? De jeito nenhum. Ainda que tivesse descoberto que ser homem é do caralho, e depois de começar a achar que poesia é uma frescurada só (e isso foi depois de adulto, durante o meu curso de Letras...), eu não me tornei um ogro troglodita não. Porque eu AINDA detesto jogar futebol, admiro as mais diversas formas de expressão e - por que não? - aprendi que a expontaneidade dos viados - cujo termo não é politicamente correto - me ensinou e ajudou a me tornar mais honesto, brincalhão, menos preocupado com as críticas sociais e mais um monte de coisas que adquiri em minha convivência com amigos gays. Claro cara, quem estuda Letras, e faz Teatro, TEM amigos gays, é inevitável e deveras interessante. Muitas de minhas conquistas amorosas se devem ao fato de ter aprendido a conversar por horas a fio com uma gata sem tentar seduzi-la, o que me fazia me sentir relaxado e confiante. Essas coisas não se aprendem nas rodas dos brucutus.
Às vezes, as pessoas acham que, por conversar e andar com gays, também sou gay. E eu tenho que levar isso numa boa - não se faz um curso de Letras e Teatro sem que as pessoas não te considerem gay. Mas não sou. E não me ofendo, ora! Mas minha tara são as borboletas, as bundas empinadas, os seios salientes, as camisetas molhadas, as pernas, as coxas... ah, vá, tudo bem, depois disso tudo eu reparo nos olhos. E no cabelo. E naquela curvinha que desce nas costas e vai até a bunda empinada... hmmmm...
Com o advento dos meus 30 anos, esse aparente conflito de personalidade já deixou de ser um tormento na minha vida. Tudo bem, podia ser motivo de perder noites de sono pensando, "será qu eu sou gay? Mas é de mulher que eu gosto..." quando eu tinha lá meus 13 anos. Mas não hoje... tenho problemas muito maiores pra resolver - embora o resgate dos mineiros do Chile tenha eliminado alguns deles. Com a eleição de Dilma Roussef para Presidente do Brasil a partir do ano que vem, a busca por uma identidade é questão secundária... sou só um escritor maldito, sensível o suficiente para conseguir expressar em palavras aquilo que pensa e sente... e com um desejo insaciável de devorar borboletas... O resto é bobagem!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Síndrome de Pavo

A julgar pela quantidade de críticas (1), comentários (2) e pedidos (3) para que eu voltasse logo a escrever (total = ZERO), creio que minha ausência durante todo este mês (ah, nem notou?) tenha passado ligeiramente despercebida . Não importa. Continuo persistindo, como um legítimo maldito que sou, a registrar neste blog solitário minhas mal traçadas crônicas do meu (ou do nosso) dia-a-dia, enquanto minha inteligência assim me permitir...

Inteligência...
É dela que vou falar em breve, mas só gostaria de esclarecer um ponto: minha ausência de forma alguma se deu por motivo de falta de tempo ou inspiração, ou ainda por desacreditar da carreira artística... é claro que, como um modo de vida, seria insano insistir dessa forma, mas o fato é que com a limitação do meu uso da internet em casa, que é quando tenho meus picos de inspiração, minha capacidade de tempo e dedicação a este blog caiu muito. Mil desculpas a meus fiéis leitores.
Bom... nesses últimos dias venho me recuperando de uma fortíssima inflamação na garganta (cujas placas fiz questão de fotografar - interessados em vê-las, entrem em contato comigo), que me derrubou (quase literalmente). Febre, tontura, dores de cabeça, dores no corpo, calafrios, fora a dor de garganta... tudo de ruim eu tive durante esses dias. E, morando sozinho, acabei me descuidando de mim mesmo, é claro que fui ao médico, tomei remédios, mas cuidar da aparência e higiene pessoal tava longe de ser uma de minhas prioridades. Não conseguia nem pensar em mulher.
Então num daqueles singulares momentos entre a loucura e a razão, entre a psicopatia e a morte, eu tive uma revelação epifânica!!!! (tem horas que algumas expressões soam forçadas mesmo... ainda estou me recompondo)
O mundo... o universo... tudo o que somos, o que comemos... O cosmos... o plano astral... nosso conhecimento sobre céu e inferno, nosso conhecimento da história... o motivo pelo qual aquele bendito macaco quadrúpede resolveu andar de pé...
As escalas celestiais e as subatômicas, a ciência, a tecnologia, a história, a filosofia, a arte e a música...
As guerras, as revoluções, as inssurreições, as redenções...
O alfa e o ômega...
tudo isso só tem um motivo... uma única razão de ser...
E a resposta é: A MULHER GOSTOSA.
Tão simples como achar o delta em uma equação de segundo grau, a resposta para tudo o que gira no universo estava na mulher gostosa, não em uma mulher específica, mas numa personificação, um mito, uma idéia, uma alegoria profana do que representa a mulher em todas as sociedades existentes, existintes e existirentes (acabei de inventar esses últimos)
Como não poderia deixar de ser? O resumo de todas as paixões humanas, tudo o que queremos ser e fazer, resume-se no sentimento da vaidade, aquela paixão indomável que sentimos por nós mesmos... querer ser destaque na sociedade? PRA QUÊ?? Pra ganhar o quê?? Pra aparecer pra quem??? Pra ter poder sobre quem???
Desde o princípio dos tempos, tem mais MULHERES aquele que mais consegue ajuntar comida... E pra quê ajuntar mais comida?? ORA... pra ter MAIS MULHERES!!!! È claro!!!!
Acredito que na época dos nossos ancestrais das cavernas, a comida se estragava com muita facilidade, então era sempre preciso mudar de uma região para outra e estar sempre caçando e colhendo... Ora, só homens fortes, braçudos, que só sabiam grunhir, não tinham a menor paciência pra baixar a tampa do vaso depois de usar é que tinham capacidade pra isso... e pra levar aquele tanto de mulher junto. E não tenha dúvidas, neguinho tá catando a mulherada de todo mundo, pau nele, é morte na certa se o cara não ficar esperto... daí começam as guerras...
Aqueles mísseis sobrevoando o Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro são a representação fidedigna da sociedade humana de 300.000 anos atrás. Eu citarei alguns depoimentos de alguns soldados americanos que lutaram naquela guerra, alguns são reais, e apenas um é fictício. Exercite o leitor a sua criatividade ao imaginar o que se passava na cabeça de soldados e aeronautas americanos enquanto bombardeavam Cabul:
1) Esse Bush é mesmo um filho da PUTA!!!
2) Não devia ter saído sem ter dado aquela trepada com a vizinha... tsc..
3) Tomara que aquela vadia esteja ali no meio da cidade... Me trair com o General?
4) Quando a gente voltar vai comer mulher demais!!!
5) Abre as pernas pra mim, Cabul!!!
6) Faço isso em honra do meu país, pela justiça, e pela democracia!!! (kkkkkkkkkkkkkkkk)




Exagero?? Machismo? Feminismo?? De jeito nenhum senhores! Pura constatação científica. Respondam com a cabeça senhores, afinal de contas, o que é que na verdade nos faz querer o tempo todo fuder esse mundo com força? É a impossibilidade de não podermos fuder o tempo todo com as mulheres gostosas. Aí nossa energia tem que ser redirecionada, senão a gente enlouquece e vai querer ser químico. É a vida. Vamos sair por aí inventando aviões, carros, motos, prédios, elevadores, nanotubos, acelerador de partículas, remédios, livros e o que mais a capacidade hominiana for capaz de inventar. Tudo pelas mulheres gostosas. Aquela sonda que chegará em Plutão em 2015, está indo pra lá porque algum infeliz na adolescência pensou: se eu me tornar conhecido na comunidade científica, poderei comer quantas estagiárias eu quiser. É claro que, depois que ele entrou pro time, teve que se dedicar tanto pra fazer o negócio subir, que acabou se esquecendo que o que tinha que subir era o outro negócio. Pode até ser que ele tenha se recusado a sair com as estagiárias que ele aspirava porque se esqueceu dos seus fins, e acabou tomando seus métodos como um fim em si. Pobre rapaz!


Essa discussão é longa, merecia um livro, e (in)felizmente esse é um blog de crônicas. Sei que a tese levantada aqui, batizada por mim como a tese da Síndrome de Pavo (de pavão) poderá suscitar muitas discussões futuras, às quais me entregarei apaixonadamente, enquanto correr em minhas veias essa vontade louca de fuder com tudo!!!
Vale a pena escrever a Parte 2? Aguardo comentários...



domingo, 17 de outubro de 2010

Domingo Insípido

Sei que quem já leu meus três primeiros posts começou a se acostumar com um jeito meu meio ácido de escrever... Faz parte da minha personalidade, do meu jeito de ser, na verdade é a forma que tenho de escancarar um pouco das coisas boas e ruins que tenho guardado dentro de mim. Mas pra quem espera ver nesse quarto post as mesmas características dos outros três pode se decepcionar um pouco com o teor deste aqui... que é um pouco mais nostálgico, melancólico, quase romântico...

O Romantismo já correu nas minhas veias a muitos anos atrás, quando os animais ainda falavam... eu, um adolescente imberbe e sem mulher (que por pouco não partiu pruma vida religiosa na tentativa de buscar um sentido pra minha torturada existência) já demonstrava certo talento para as letras quando tecia num daqueles cadernos velhos da escola, versos para uma musa imaginária... vivia entre o ser poeta e o ser poeteiro, como é próprio da idade... até que ao ingressar numa Faculdade de Letras senti morrer em mim todo o prazer pela poesia... mas talvez isso seja assunto prum outro post...

Nesse quero falar apenas do fim do fim de semana, que nem bem começou e já terminou, num pálido domingo... agora são quase meia noite (seria quase onze, não fosse esse maldito horário de verão começando hoje...) e se alguém viesse agora conversar comigo, minha voz sairia como se tivesse acabado de acordar. É que hoje não exercitei minhas cordas vocais quase nada, faz parte da vida de quem mora sozinho e não tem uma vida social muuuuuuuuuuuuuuuuuuuito ativa, mas depois da noite de ontem, nem tinha mesmo muito pique pra grandes coisas não... mais uma vez dei um show etílico na Calourada da minha turma de Química, e é claro que os efeitos se deram durante todo o meu dia seguinte (hoje)...

Bom... foi uma festa incrível, melhor ainda não ter sido atacado pela amnésia do dia seguinte, e eis que chego em casa, aos trapos, me jogo na cama, meu quarto de ponta cabeça, jogo tudo no chão e durmo. Acordo assustado pensando que já eram quase duas da tarde, e eu tinha que ir trabalhar hoje (é... pois é...) não importava a hora, só sabia que tinha que ir, então me alivio ao constatar que não eram nem oito horas da manhã.

Ufa... durmo de novo, acordo, vou ao banheiro, bebo água, tomo um café... meu quarto uma zona completa, insustentável já, resolvo dar uma faxina... vou arrumando aos poucos, parando de tempos em tempos quando a cabeça doía demais, depois fiz um lanche de almoço (não gosto de cozinhar), vi um filme, comendo pipoca de microondas.

Fui trabalhar... tinha um servicinho pra fazer na firma, como tenho a chave, entro e saio quando preciso. Fui, fiz o serviço. Voltei.

Fiz mais um lanche.

Vi mais um filme...

E agora é hora de me preparar para o dia seguinte...

Tudo assim, muito simples. Eu escolho o que faço, a hora que vou trabalhar, o que comer... Me senti mal durante todo o dia, e só o amigo que me trouxe me casa me ligou pra saber como eu estava... Tudo bem, não acho que deveriam ter chovido ligações no meu celular, cada um tem que cuidar da sua vida, mas alguns hábitos e costumes antigos às vezes fazem falta pra esse Escritor Maldito...

Chegar às três da madrugada... e ter que dar explicações de onde eu estava, se é que me dariam permissão pra sair...

Andar na ponta dos pés pra não acordar a criança que dorme no quarto ao lado...

Levantar cedo pra fazer o café da manhã em família...

O barulho da máquina de lavar sem que eu a tenha ligado...

Alguém me perguntando como foi o meu dia...




alguém me perguntando como foi o meu dia...




Acho que as pessoas já estão tão acostumadas com sua rotina, com as pessoas ao redor, que perderam o sentido ou se esquecem de dar o verdadeiro valor que elas merecem. Todo mundo precisa de espaço, eu não abro mão da minha individualidade, mas é estranho saber que vou sempre voltar para uma casa onde ninguém nunca me espera, não importa a que horas eu apareça, tudo está sempre exatamente igual como eu deixei....

Não há surpresas...

Não há alegria por me ver voltar...

Ninguém pra desejar "um excelente dia"...


Ninguém pra lembrar das contas que se deve pagar...

ou pra convidar pra jantar...

ou pra programar um fim-de-semana, ou pra consolar porque teve um dia ruim...

ninguém pra despejar problemas... ou pra ligar aquela música repetida de todos dias...

ou pra notar que você mudou o cabelo, emagreceu...


Essas coisas mexem um pouco com a gente, mesmo com o mais durão dos mortais. Acredito que até Gengis Khan, ao chegar em sua choupana montado em seu corcel, deve ter pensado em como seria bom ter alguém esperando por ele, uma mãe, uma esposa, ou um monte de filhos... Tenho certeza que muitas pessoas hoje se sentem sufocadas com a vida que levam, como eu já me senti. Tenho uma individualidade muito forte, gosto dos meus momentos, preciso deles... e só consegui conquistar a mim mesmo deixando uma vida familiar muito difícil pra trás... a exatamente um ano (completou essa semana). Tudo isso pra ter domingos por minha conta, como esse. Pra curar minha ressaca. Pra fazer o que eu quiser. E pra estar até agora, às onze e meia da noite, com a mesma voz rouca que eu deveria estar às oito da manhã. Por quê? Porque não tive pra quem sequer dar um bom dia...


Até meu próximo post... e obrigado por me dar a chance de compartilhar um tiquinho de mim nesse domingo insípido...

(Senhoras, sequem suas lágrimas, por favor... e contenham o impulso de pegar o celular e ligar para o meu número pra me desejarem um bom dia (ou uma boa noite) A intenção não é motivar ninguém a querer suprir minhas carências...)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

AINDA PASSO NO BURACO DESSA AGULHA...

Muitas vezes passei noites em claro (sim, você leu meu último post) por razões que superavam a mera incapacidade de conciliar o sono, mas nunca me ocorreu de não conseguir dormir por não estar em paz com minhas convicções morais. Apesar do que dizem as (boas) línguas, eu nunca me considerei um poço de virtudes, embora por pouco não tenha me dedicado a uma vida religiosa quando estava na adolescência (Não sei por que todo adolescente sem mulher acha que vai resolver a vida ou indo pro exército ou indo pro seminário...). Graças ao meu bom Deus isso não aconteceu, e com o amadurecimento de minhas faculdades mentais (e meus testículos) descobri que melhor mesmo era estudar, trabalhar, e xavecar (não necessariamente nessa mesma ordem!) do que ficar me martirizando por causa de questões escatológicas que, por sua própria natureza, jamais terão respostas, pelo menos, creio eu, nas minhas 3 ou 4 próximas encarnações.

Mas apesar de, ainda que tenha abraçado o hedonismo como filosofia de vida ( embora a prática de trabalhar 12 horas por dia - acho que nem jumento faz isso! -, estudar à noite, acordar de madrugada para ir para uma academia completamente árida de mulheres gostosas e dormir 20 horas por semana esteja longe do que se pode esperar de uma vida de prazeres), nunca me vi como um egoísta insensível à dor alheia, despolitizado, massificado ou pouco solidário... como tentaram me fazer crer na semana passada...

Almoçava com algumas colegas de trabalho num dia normal, quando uma delas contou um fato ocorrido alguns meses atrás, em sua faculdade. Estava ela prestes a saborear um delicioso pão de queijo (e digo "delicioso" como um A-PAI-XO-NA-DO por pão de queijo...) quando um pedinte na rua veio lhe pedir um pedaço de seu lanche. Era um garoto, de uns doze anos, maltrapilho, e ela, coitada, penalizada, ofereceu todo o pão de queijo, e como não tinha mais como comprar outro, passou a noite faminta!

Ora, ora... não pude deixar de rir, e rir muito da cara dela. Pois, expondo minha opinião, se estivesse no lugar dela o máximo que o garotinho ia receber seria uma banana! Um tremendo NÃO. É claro que, como adoro uma platéia, exagerei na dose e teatralmente expus como trataria o pedinte pela sua ousadia em tentar levar vantagem sobre mim para consumir minha única possibilidade de saciar minha fome naquela noite fatídica. Mas a minha mensagem era muito clara: apesar de me sensibilizar com a situação do próximo, não acredito que devo chegar ao ponto de me prejudicar (ainda que, segundo minha amiga, coitadinha, ela só iria ficar com fome até chegar em casa - cerca de QUATRO MALDITAS HORAS DEPOIS... enquanto o garotinho nem sabia a que horas ia comer...). OOOHHH AMIGA... - disse eu. - A essa hora ele já devia ter comido centenas de pães de queijo enquanto você ficou lá passando fome. Ora, já que precisava de caridade, por que não foi lá na lanchonete pedir um lanche? Então se é pra comer pão de queijo de graça (que eu AMO!!!!) vou largar meu emprego, parar com essa vida de trabalhar doze horas por dia, dormir 4 horas por noite, e ir para a porta das faculdades pedir lanche!!! Já que, trabalhando como estamos, ainda corremos o risco de ficar com fome... e ter que depender da boa vontade da nossa mãe que vai fazer janta quando chegarmos em casa...

Eu concordo que a situação social de nosso país é uma vergonha, ainda que tal afirmação tenha um ar de vazio e tenha até um certo tom de demagogia sendo proferida por este escritor maldito. MAS O QUE EU NÃO ADMITO é que, me levantando todos os dia às seis da manhã e dormindo após a meia noite, trabalhando como um jumento, estudando igual a uma mula (e aprendendo como ela também...) eu ache que tenho que me envergonhar por ter condições de comprar UM ÚNICO PÃO DE QUEIJO EM DIA DE PAGAMENTO (ou em final de mês) enquanto o outro - que tem uma condição de vida muito menos favorável que a minha, mas nem por isso posso afirmar que se sujeitaria aos mesmos percalços que eu se lhe fosse dada a oportunidade - não tem, a ponto de eu ter que ceder o meu único lanche a esse meu pobre semelhante.

O que me revolta com essa atitude de minha colega é a meta-mensagem que ela transmite, o que está no inconsciente de nossa sociedade ocidental cristã... a idéia de que ter condição financeira favorável é quase um pecado, motivo de envergonhar-se, a ponto de ser necessário abrir mão de certo prazer para aliviar um pouco a nossa consciència. Ainda que, para atingir tal condição favorável, tenhamos tido que enfrentar uma situação familiar complicada, trabalhar para se manter na escola, fazer um curso profissionalizante ainda adolescente pra ajudar com as despesas do lar, trabalhar em horários noturnos, dormir em repúblicas, e enfrentado outra gama de desafios e intempéries suficientes para preencher um livro do tamanho da trilogia do Senhor dos Anéis. Não, tudo isso fica esquecido quando alguém mais pobre surge pedindo que você conceda a ele, sem que ele tenha que fazer o menor esforço, o pão de queijo pelo qual você teve que acordar as cinco da manhã para merecer. E é claro que, envergonhado, como se a culpa pelas desgraças do mundo fossem todas suas, vocé concede às penas de sofrer por mais algumas horas dali por diante os males da fome que se julga que teria sido a sina do outro caso vocè não realizasse seu ato de bondade. Afinal de contas, se um camelo passa por um buraco de uma agulha antes de um rico entrar no reino dos céus, passará muito mais fácil se doar seu lanche todos os dias, aliviando assim a alma de quem tem o que usufruir nessa vida mas não pode em respeito aos que não tèm.

Me poupe.



domingo, 3 de outubro de 2010

Sacanagem

Cresci assistindo a desenhos animados e lendo revistas em quadrinhos...

meus personagens favoritos eram sempre pessoas desajustadas que, por algum capricho do destino, se destacavam das demais por poder fazer algo extraordinário. O motivo podia ser qualquer um: gênio da lâmpada, pacto com os demõnios, aranha radioativa, raios gama... alguns já nasciam assim, algum problema de herança genética... coisas do tipo... não importava como, o barato é que por algum motivo ou outro se destacavam dos seres humanos ditos normais...

o que eu achava mais estranho é que eles sofriam com isso...

Alguns voavam, conseguiam saltar de prédios, tinham superforça... e ficavam deprimidos porque tudo o que eles queriam era ser normais, como todo mundo... Como eu, como você. Sempre me perguntei como pode alguém com um talento como esse pode querer ser tão medíocre como eu, mero mortal? Essa pergunta me incomodou por muitos anos...

Até agora...

Na verdade já faz algum tempo que me vejo na lista das pessoas capazes de fazer coisas extraordinárias e se ressentem com isso... algumas poucas pessoas mais próximas sabem do meu segredo, mas não vejo porque mantè-lo comigo e acho que é hora de revelá-lo a todos aqueles que me concedem o prazer de visitar o meu blog...

Vocè já deve estar curioso... é claro que a essa altura estou usando o recurso da encheção de linguiça pra mantê-lo na leitura deste tópico... o que eu não acho que seria necessário, mas é inevitável... não se conta um segredo como o meu sem preparar o terreno para o final emocionante...

Querido leitor, se o post desse blog registrar corretamente a hora da postagem, verá que são exatamente duas horas e dez da manhã. A maioria (senão TODOS) vocès estão confortavelmente dormindo a essa hora, ou estão enfrentando o sono para realizar tarefas realmente importantes, ou não tem o que fazer as cinco da manhã e podem ir dormir as cinco da manhã.

Bem, ao contrário de vocês eu me levanto diariamente as cinco da manhã... o que os faz chegar á conclusão (óbvia) que tenho menos de três horas de sono.

E eis que revelo o meu (maldito!) talento extraordinário! O de não dormir...

Na verdade, eu durmo! Mas é algo muito perturbador pra mim. Sou capaz de passar uma semana inteira dormindo apenas quatro horas por noite (ou menos) e descontar tudo no fim-de-semana. E durante o dia meu humor se torna naturalmente ruim. Mas não saio arrastando por aí como um zumbi do Resident Evil. Acontece que, como todo super poder, o meu tem lá suas desvantagens...

E praqueles que pensam que é vantagem ter qualquer tipo de dom especial... puta merda, não sabem como eu gostaria de ser normal uma hora dessas. Porque a essa hora já fiz tudo o que tinha saco pra fazer: estudei Cálculo, fiz relatório de Química, passei roupa, assisti ao Domingo Maior (As Branquelas, que já vi 232 vezes, só que nenhuma foi tão ruim como essa, dublado e com intervalos comerciais!!!!) Como eu gostaria que tivesse um filme de sacanagem passando a essa hora, mas na TV aberta, sacanagem é a programação que eles colocam, e sei lá, na internet não tem tanta graça, não tem aquele lance de "nossa, que sorte, achei um filme daqueles passando..." é só acessar lá e pronto, aí não sei, fica muito fácil e eu não acho muita graça não,... tirando que demora baixar...

Então pensei em ler uns trechos do livro do Percy Jackson (já to no terceiro, mas não saí do primeiro capítulo tem dois meses...) Aff... não tive saco, vai ficar mais uns dias aí esperando...

Depois resolvi acessar a internet (mas nada de filme de sacanagem...) e li de novo meu primeiro post nesse blog... achei que ia postar só um por semana, já to eu aqui de novo. E fui lendo e relendo e, caralho, quanto erro de Portuguès! E esse desgraçado ainda tem coragem de falar que fez Letras! Mas vou confessar uma coisa, não fico me policiando quando escrevo assim, escrevi e postei sem ler de novo e quer saber? Fodas! Quando precisar escrever algo mais formal, como minha dissertação de mestrado, eu até procuro me corrigir, mas caralho, isso aqui é um blog, só falta falar de tão informal... e cá entre nós, detesto pedantismos!!! Acho um pooooooorre!!!!
Já pensou se eu fosse criar um blog pra ficar fazendo apologia da mesóclise?? Ou ressuscitando os pronomes pessoais de segunda pessoa? Não senhor...

...

Então... já que meu detestável dom resolveu se manifestar nesse domingo (e caramba, é sempre no domingo que o bicho pega mesmo) resolvi postar outro (que vou publicar sem ler...) Pelo menos sinto que estou fazendo algo útil... Tudo bem, vocé está lendo isso depois de HORAS de sono, eu provavelmente estou sentindo os efeitos dessa minha ousadia até agora e isso vai se estender por toda a semana... não repare se meu humor estiver péssimo... são os efeitos colaterais...

O que eu não daria pra ser normal a uma hora dessas...

Sei que uma dose de álcool agora ia me por a nocaute. Mas caramba, eu ia ficar derrubado demais pra me levantar as cinco da manhã. Não dá. Prefiro o mau humor. Acho melhor desligar esse computador agora, colocar a cabeça no travesseiro e torcer muito pra dormir logo, ou, se não der certo, NÃO pegar no sono as 4h55 da manhã

Ia ser muita sacanagem...

A primeira - literalmente

Alívio total... um misto de alegria, euforia, festa e uma enorme paz interior...

É assim a vida de um recém aprovado em qualquer vestibular federal. Um sentimento de missão cumprida, elevada auto-estima, tudo de bom. Foi assim aquele 22 de janeiro de 2010, quando vi meu nome surgir entre os 40 aprovados no vestibular da UFMG...

Pela segunda vez...

Depois de sofrer por cinco anos na Faculdade de Letras da UFMG e me graduar heroicamente em 2007, eis que esse insano escriba que vos fala, cujo juízo lhe falta completamente, se aventura a cursar nada mais nada menos que... QUÍMICA!!!

Tudo a ver. A típica declaração de que “seu primeiro curso foi uma bosta!!!” como diria um filósofo amigo meu...

Foi mesmo. Não no sentido literal do termo. Aliás, me assusta como muitos por aí usam indiscriminadamente o adjetivo “literal” e seu primo, o advérbio “literalmente”... Será que ninguém sabe que o significado de literal é justamente que o que se está dizendo é ao pé da letra do que se está dizendo?? Pois é constante eu ver em jornais e revistas declarações do tipo: “Ela literalmente cuspiu no prato que comeu”. Ou “Depois que se proibiu a venda desses artigos os comerciantes ficaram literalmente quebrados”. Puta merda, vai falar besteira assim lá na puta que o pariu!!! Cadê o prato cuspido??? Cadê os comerciantes partidos no meio??? Tudo bem, a cena é meio bizarra, não quero ver sangue e ossos expostos na televisão... mas seu idiota, TUDO o que os comerciantes NÃO ficaram foi LITERALMENTE quebrados...

Bom... passada minha sessão (não seria seção??) nostalgia, volto ao tema em questão... Ao invés de tentar salvar os mineiros do Chile, ou a campanha de Marina Silva (não sei qual o mais difícil...), ou impedir o vazamento de petróleo nos EUA, o que daria muito orgulho para minha querida mãezinha, eis que respiro aliviado quando vejo meu nome entre outros 39 insensatos que se aventuraram a (im)prestar vestibular para QUÍMICA na UFMG, e o que é pior, PASSARAM!!!

Foi uma gostosa lua-de-mel esperar por tudo o que nos aguardava, amigos novos, calouras suspirantes com camisas molhadas (literalmente...) nas calouradas de toda semana e, quem sabe, até estudar um pouco para não perder o costume... já tinha estudado tanto para essa prova DIFICÍLIMA que já estávamos (literalmente...) preparados para qualquer coisa...

Bom... Lua –de-mel acaba né? Digo com a experiência de quem ficou sete anos casado (ficou... no passado!) O curso começou, cheio de oba-oba, que-bom-te-conhecer-pessoalmente, até-que-enfim-descobri-que-você-tem-rosto, seremos-eternos-amigos, e mais um monte de bobagens que se diz em início de curso, como aquelas promessas de casamento vazias... Então, quando a realidade caiu em nós (literalmente...) ainda não tinha se passado um mês de aula e contávamos os dias para que viesse logo essa maldita formatura (algo perto de 1642, mas parecem 109838776619876109981... elevado a ∞)

Cacete!!! De repente você – aliás, eu – to assistindo a uma aula de Cálculo 1. TÁ CARA, SEI QUE O CURSO É DE QUÍMICA, MAS TEM QUE ESTUDAR CÁLCULO 1, E DAÍ??? Posso continuar??? Bom... de repente você está lá assistindo a uma aula de Cálculo 1, aliás EU to lá assistindo uma aula de Cálculo 1... é claro que pra TODO MUNDO que te... que ME conhece fora da Universidade eu sou O CARA, afinal de contas, to na UFMG... mas quando eu to assistindo a aula de Cálculo 1 é FODA... minha auto-estima despenca lá da estratosfera... literalmente. A barriga cresce, o cabelo cai, meu pau fica pequeno... fico uns vinte anos mais velho. Já comprei até Viagra. Claro... não literalmente... Mas não vou mentir... criar essa coluna semanal é a melhor forma de não me sentir tão destroçado assim fazendo esse curso... pelo menos eu exercito um pouco do que aprendi entre 2002 e 2007 e ainda sei fazer direito... escrever algumas baboseiras. E dependendo do resultado das próximas provas de semana que vem, vou sinceramente considerar a situação daqueles mineiros do Chile...

... literalmente...