terça-feira, 23 de maio de 2017

A UFMG E O SUICÍDIO ESTUDANTIL

Venho acompanhando de longe os desdobramentos do caso do(s) estudante(s) que se suicidou(aram)  dentro de uma moradia da UFMG e o clamor de alguns entusiastas que afirmam que “A UFMG mata”. Sou estudante do 7º período de Farmácia, concluí a graduação em Letras e 5 períodos do curso de Química, então tenho certa experiência para afirmar categoricamente que A UFMG NÃO MATA.

A Universidade Federal de Minas Gerais é um dos principais centros de ensino, pesquisa e extensão da América Latina, e oferece capacitação gratuita. É natural que seja competitiva e queira selecionar os candidatos mais preparados para os desafios que o mercado industrial e acadêmico oferecem.  Para ingressar em qualquer curso na UFMG, o aluno tem que se preparar bastante para tirar uma boa nota no ENEM,  “entrar de cabeça na graduação”, viver a faculdade e se envolver “de verdade” com as disciplinas.

Acontece que produzimos hoje uma geração pouco acostumada a sacrifícios, cujos ídolos são pessoas que conquistaram fama e fortuna bem jovens e com pouco estudo, e muitos acham que esse é o modelo de vida que se precisa alcançar. Alguns ingressam na faculdade por status, sem certeza de que é isso mesmo que querem, mas só para “ter diploma superior “ e “porque é de graça”. E a faculdade exige sacrifício, exige dedicação, exige renúncia.

A UFMG NÃO MATA – O QUE MATA É O SEU DESPREPARO para enfrentar uma vida adulta, de responsabilidades. A UFMG não controla seus horários, o controle de presença em sala de aula é mera formalidade. Desde os tempos de COLTEC – onde fiz meu curso técnico, sempre tive autonomia para decidir quando estudar, quando ir às aulas... E as disciplinas eram pesadas, o meu domínio dos conhecimentos da química e da matemática hoje são muito superiores aos de profissionais oriundos de outros escolas técnicas, e olha que essas são áreas do conhecimento para as quais nunca fui vocacionado. Aprendi “na marra” mesmo.


ADMITIR FRAQUEZA NUNCA FOI SINÔNIMO DE FRACASSAR – quando eu percebi que o curso superior de Química não era para mim, simplesmente tratei de abandoná-lo e começar uma nova graduação. E nessa época eu já contava com mais de 30 anos. Eu entendo que o sistema das EXATAS é muito diferente do de HUMANAS (pois eu vivi as duas realidades). Quando comecei a estudar Química e me deparar com disciplinas como Cálculo I e Geometria Analítica, comecei a perceber o quanto você pode estudar e estudar muito e mesmo assim tudo dar errado. As ciências exatas são frias e cruéis, você não consegue simplesmente “empurrar com a barriga”. Uma amiga uma vez me disse: “ou você se entende com as exatas, ou desiste delas!” Aquilo me marcou. Se tanta gente consegue, por quê eu não? Em meu primeiro mês no Departamento de Química, numa disciplina chamada Ciclo de Palestras – em que diversos profissionais nos apresentavam os rumos da nossa nova profissão – o COORDENADOR do curso afirmava que “nosso objetivo é fazer vocês DESISTIREM. Tenho pena de vocês, porque só aqueles muito persistentes mesmo é que vão chegar até o final”. Eu sempre tomei isso como incentivo, como uma provocação que ia me fazer chegar até o final. Não cheguei, pelo menos não na Química, mas continuo vendo tanta química quanto antes, na Faculdade de Farmácia.


A UNIVERSIDADE NÃO É MÃE, aqui nós somos adultos, temos autonomia e responsabilidades e temos que arcar com elas. Não somos mais adolescentes em formação. Se não superamos nossos traumas da juventude, nossa missão é procurar recursos – inclusive DENTRO DA UFMG – para superá-los. Sabemos de nosso compromisso com o mundo e o quanto é importante para nossos amigos e para nossa família que estejamos vivos e bem. A UFMG tem um Departamento de Saúde Mental, coordenado pelo Departamento de Medicina, com profissionais que se formaram aqui mesmo e entendem o drama dos estudantes. Mas não é papel dos professores localizar estudantes com problemas de adaptação e encaminhá-los para o Departamento, é responsabilidade DO ALUNO, que é um ADULTO, procurar ajuda, e a família, se possível, dar todo o suporte emocional para esse indivíduo.

Contamos com a Universidade Federal de Minas Gerais para que ela continue sendo REFERÊNCIA em ensino de qualidade e um centro de pesquisa respeitado em todo o mundo, e que esse papel não seja prejudicado pelas acusações GRAVES que tem sido feitas, cujas consequências podem impactar diretamente na qualidade do que se tem exigido dos alunos, pois no final das contas, é o sacrifício e a dedicação de cada um que faz da UFMG a Universidade dos sonhos de qualquer brasileiro.  







segunda-feira, 1 de maio de 2017

Meus 13 porquês - Ou o que o bullying pode fazer com você

O bullying não é um problema moderno, nem frescura de crianças e adolescentes que estão surgindo numa geração covarde e sem referências. É um problema antigo, e os adultos de hoje sabem muito bem os danos que é capaz de provocar. Fui alvo de zoações durante uma parte considerável da minha vida. Uma parte das brincadeiras vinha sim de amigos para os quais eu  podia revidar sem que isso afetasse a relação que eu tinha com eles. Mas uma outra parte, uma grande parte, vinha de outros jovens que não tinham o outro interesse que não fosse me destruir, acabar com todos os resquícios de auto-estima e autovalorização que meus pais passaram a vida inteira lutando para construir em mim... 

Quando eu era criança pesava acima da média, como a maioria dos garotos da minha família. Isso por si só já era alvo de muitas zoações. Mas além disso, minhas brincadeiras e diversões não eram lá muito ortodoxas, o que me fazia me sentir muito diferente dos garotos da minha turma. Não era fã dos esportes (principalmente com bola) e sempre preferi ler e escrever, e mesmo os esportes nos quais eu acabei me tornando versátil (como nadar e andar de bicicleta) acabei aprendendo somente depois dos meus irmãos mais novos, o que por si só já era suficiente para ser mais alvo de zoações. 

Quando me tornei adolescente fui estudar no COLTEC - UFMG, uma das escolas técnicas mais conceituadas de Belo Horizonte, mas aí as coisas também não foram tão melhores do que pensava que seriam. Fiquei marcado por uma brincadeira da minha mãe (de pintar o meu cabelo) e ganhei um apelido que me perseguiu o curso inteiro (Mecha). Simpatizei-me com o apelido, mas a humilhação que me levou a tê-lo com certeza vou levar para o resto da vida. As calouradas no COLTEC eram um pouco mais pesadas do que hoje são permitidas no campus, e justamente por ter me sentido tão mal no meu primeiro dia de aula, quando me tornei veterano, fiz o máximo que pude para preservar e proteger os novos calouros para que não se sentissem tão humilhados e desamparados como eu me sentia nos primeiros dias de aula. 

Muitos jovens conseguem sobreviver ilesos à essas "brincadeiras", mas àqueles que, como eu, por diversas razões tiveram sua autoestima comprometida na infância ou na adolescência encontrarão enormes dificuldades quando chegarem à vida adulta. Por que vemos muitas vezes adolescentes sofrendo de anorexia, abusando dos métodos ilícitos para atingir um corpo perfeito na academia, ou atravessando diversas sessões de cirurgia plástica e se tornando irreconhecíveis, na tentativa de se ajustar a uma imagem que jamais alcançarão? Porque não tiveram a autoimagem bem construída numa idade em que afirmação e aceitação é TUDO o que um adolescente precisa. Fazer parte de um grupo e construir uma identidade é tão importante para um jovem quanto ter emprego e ser capaz de sustentar uma família é importante para o adulto. Transforme um jovem num renegado e você estará contribuindo para enriquecer psiquiatras, legistas, farmacêuticos e advogados criminais. 

Eu acompanhei emocionado ao seriado "mais badalado do Netflix no momento", 13 Reasons Why ou Os 13 Porquês e resolvi engrossar o coro das pessoas que lutam a favor da vida! Os jovens que levaram a protagonista ao suicídio não tiraram a vida da garota, mas tiraram TUDO o que ela tinha de mais importante, até não lhe restar mais nada. Foi um desfecho cruel e apaixonado de uma realidade que se passa em muitas escolas, para muitos jovens... 

Eu queria que muitos daqueles que passam por isso pudessem estar lendo esse texto agora para que eu pudesse lhes dizer: JOVEM, NÃO DESISTA! A vida me ensinou que as pessoas só fazem com a gente o que a gente permita que faça. E que os jovens que te tratam assim também são tão inseguros quanto você. Provavelmente você se tornou um alvo por algo que fez ou por algo em sua aparência, ou por alguma inaptidão nas matérias ou nos esportes. Mas não se cale! Não permita que te usem para esconder os próprios defeitos. Conversem com seus pais, professores, dê a volta por cima!

Eu não sei ao certo dizer como e quando superei meus maiores traumas de adolescência. Foram muitos, e preferi não listá-los para não tornar pesada a leitura desse texto.  Mas a que devo a superação de muitos dos meus traumas? Vou tentar listar aqui algumas das 13 razões (ou meus 13 porquês) que literalmente salvaram a minha vida e me tornaram uma pessoa melhor: 

1 - Aprendi a me amar, acima de qualquer coisa. Aceitei que o mundo sempre vai ser pior sem mim, SEMPRE! Que sempre vão existir problemas, que sempre haverá desafios, mas que existem pessoas que precisam de mim, de qualquer jeito, apenas existindo, para fazer a vida delas fazer sentido. 

2 - Aprendi muito com a  Programação Neurolinguística, a ciência que molda a sua realidade de acordo com seus pensamentos. Não é fácil mudar o que pensamos de nós mesmos quando outros já nos transformaram em fracassados mas em última instância aprendi que quem diz o que eu sou e o que eu não sou é apenas eu mesmo, ninguém mais. Ao invés de repetir pra mim mesmo "sou um fracassado", digo "sou um vencedor", "estou superando mais essa", mesmo que ainda não esteja. A linguagem remodela o significado do que estou vivendo e tudo se transforma. 

3 - Passei a não aceitar rótulos, de espécie alguma, nem os positivos - que te forçam a demonstrar virtudes que nem sempre  eu tenho e colocam uma responsabilidade absurda em meus ombros - nem os negativos - pois esses são extremamente nocivos e paralisantes, e por isso mesmo os rejeito sumariamente. 

4 - Aprendi a me cercar das pessoas que pensam igual a mim. Se eu não gosto de jogar futebol e só fico lendo revistas do Homem-Aranha, existe um grupo de pessoas que gosta exatamente disso. Se não sei a escalação do meu time de 1999 mas sei o nome de todos os Changeman, Flashman, Cybercops e Cavaleiros do Zodíaco, também encontro pessoas que são assim. E de coincidências em coincidências, acabei percebendo que sim, existe espaço pra mim no mundo... 

5 - Comecei a valorizar minhas potencialidades pelas coisas que ouvia a meu respeito. Assumi meu lado escritor, descobri minha afinidade com as exatas e com o Excel. Embora não seja soberbo, nem arrogante, gosto de me refugiar nas coisas que faço bem. Sempre que ouvir de várias pessoas o quanto você faz bem isso ou aquilo, invista. Às vezes é um talento natural que você nem sabe que tem, e só percebe porque os outro não têm. Sempre me disseram que escrevo bem, mas nunca consegui ensinar a ninguém como escrever bem. Apenas vou lá e faço... 

6 - Aprendi a fazer bem as coisas sem esperar para ser elogiado, apenas para me sentir bem. Sempre defendi a máxima de que "as pessoas que se elogiam não precisam do meu elogio", ao contrário das pessoas que fazem o trabalho bem feito em silêncio, quando colocam o trabalho em primeiro plano, chamam mais a minha atenção. Quando te pedirem para fazer um trabalho, não digam: "chamou a pessoa certa, eu sou o cara! Você não vai se arrepender!", porque isso eleva demais as expectativas de quem vai receber seu trabalho. E se seu trabalho não for tão bom quanto à propaganda, vão te criticar e isso pode te deixar pior.  Apenas faça e deixe que a qualidade do que foi feito fale por você. Os elogios virão. 

7 - Aprendi a lutar pelo que eu quero. Que não devo aceitar uma posição medíocre na vida. Que se meu sonho for morar na Europa, trabalhar em grandes centros de pesquisa, falar várias línguas, ser uma referência científica internacional, é exatamente isso o que eu vou fazer. E ponto final. 

8 - Também aprendi a respeitar meus limites. Não adianta achar que serei um jogador de futebol super famoso começando a jogar aos 36 anos... Nem um cantor de renome internacional sem nunca ter feito uma aula de canto sequer. Meus sonhos podem ser grandes, mas são realistas. 

9 - Descobri que não é possível ser feliz sempre. Tem dias que nada dá certo, a tristeza bate mesmo. Não tem remédio que sare! Nesses dias, melhor mesmo é ficar um pouco mais recluso, aceitar a tristeza e esperar que ela se vá. Saborear os maus momentos faz com que dê mais valor aos bons... Mas não se acostume com a tristeza, nem deixe que ela faça moradia. Expulse-a tão logo quanto possível! 

10 - Quando nada dá certo, é hora de procurar ajuda. Ela pode vir de um irmão, mãe, pai, esposa, ou um profissional. Não é vergonha pedir ajuda, se sentir mal, ficar pra baixo. Vergonha é se esconder e fingir que tudo está perfeito. Sou humano e fraquejo, como todo mundo. Já sofri de depressão e ansiedade crônicas por isso sempre observo meus sentimentos a fim de perceber se estou correndo o risco de sucumbir a alguma dessas doenças... 

11 - Rir é um santo remédio. Quando o mundo está uma b*$T@, eu procuro por programas leves, comédias, stand ups, talk shows que me fazem rir. De preferência, acompanhado. Se rir é bom, rir junto é melhor ainda.  

12 - Aprendi a ter empatia, a perceber que existem pessoas que sofrem tanto ou mais do que eu. Ajudar ao próximo alivia demais, me faz esquecer meus sofrimentos e me faz sentir importante, especial! Se você puder ouvir alguém, ouça. Se puder visitar um asilo, visite! Se puder doar sangue, doe! Se puder doar uma roupa, faça-o! Se souber dar aula para alguém, faça-o também. Mas não faça para aparecer, para se autopromover, faça escondido, sem textões no Facebook, pelo simples prazer de ajudar. Se for divulgar, divulgue O GESTO, não você!  Envolver com os problemas de outra pessoa faz com que a gente se esqueça dos próprios problemas e se sinta mais leve... 

13 - E finalmente, percebi que sou ÚNICO, e por isso mesmo, ESPECIAL. Eu percebo coisas e realizo coisas que NINGUÉM MAIS é capaz de realizar. Então, assim como eu, VOCÊ faz parte de um Projeto Especial, maravilhoso, porque você foi projetado pela natureza e pelo seu Criador para ser exatamente ASSIM COMO É. O que você chama de limitações, defeitos, são oportunidades de construção e lições para o amadurecimento seu e de TODA A HUMANIDADE. 

Abraços a até meu próximo post...