segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Genesis 2, 18 - Ou mais uma crônica de fim de ano

Muitas vezes, entre um cochilo e outro, uma crônica brota na minha cabeça como se tivesse sido enviada pelos Anjos (sabe-se lá de se do Céu ou do Inferno) via Sedex. Talvez seja isso o que os religiosos chamam de inspiração divina, aquela assinatura mágica que diz quando um texto pode ser considerado santo e quando não pode. A julgar pelo que é considerado livro sagrado, dou graças a Deus por meus textos continuarem sendo tratados como apócrifos, pois se levar em conta o meu modus operandi atual, não é meu modelo de vida que irá mostrar ao rebanho perdido o Reino dos Céus.
Não é que eu me julgue amoral em qualquer sentido do termo. Pelo contrário, sempre fui a favor do mais fraco, sempre preferi dar voz às minorias ao invés de repetir o que já dizem as culturas dominantes. Inteligência existe pra isso. As classes dominantes (nossa, isso soa tão marxista...) dizem muitas coisas estúpidas a fim de manter sua posição de dominantes, mas as classes desfavorecidas também o fazem. As classes pensantes devem procurar dizer o que ainda não foi dito por ninguém, ou pelo menos, dizer aquilo que vem de si mesmo, sem reproduzir a fala de outro.
Contudo, retomando meu primeiro parágrafo, esta crônica não veio como um presente, ela foi tortuosamente trabalhada, assim como aquela que falava da minha amiga Ri... Mas fim de ano merece reflexões, e volta e meia eu me lembro do que escrevia há um ano sobre o Natal e o Ano Novo, e sinto-me arrepiado por ver que tinha guardado dentro de mim tanta mágoa contra um inimigo invisível, que logo se mostrou ser... Eu mesmo!! Um Escritor que se auto-intitulava Maldito não podia esperar ter muita sorte na vida, e após uma sequência memorável de desventuras, chegou ao final do ano, engraçado... mais ou menos como eu chego agora, ou quem sabe dessa vez eu esteja ainda pior, exceto por um detalhe...
Dez quilos mais gordo, tendo entrado na casa dos trinta, ganhando menos, quebrado financeiramente e tão sozinho como no ano passado, 2011 foi um dos anos mais difíceis que já vivi em toda a minha vida. Mas uma vez que eu abri mão de tudo o que eu julgava que me fazia infeliz (esposa, emprego, casa) eu descobri que a felicidade não estava de fato nas coisas, nem na ausência delas. E o maior momento da minha vida foi descobrir que não existe nada de errado em ser fraco, não há vergonha em sofrer. A melhor coisa em ser sozinho, em viver sozinho, é que não é necessário fingir nada pra ninguém. Se quero rir, eu rio, se quero chorar, eu choro. Pelos motivos mais inúteis que se possa existir. Porque meu sentimento é verdadeiro. Dias atrás me peguei numa discussão com uma colega de trabalho, pois estava praguejando contra a chuva que caía há dias. Eu tenho uma implicância pessoal contra chuva, ela não me agrada em momento algum, mesmo quando vem só quando estou me preparando para me deitar. Então, enquanto reclamava, minha amiga evangélica me disse que não devia dizer aquilo, pois a chuva vinha de Deus. Eu retruquei: Eu digo que não gosto, porque NÃO gosto. Posso até dizer pra você que gosto, mas Deus sabe que eu detesto chuva, então pra quê vou dizer em voz alta que gosto e aceito algo que não é o que estou sentindo?
Eu poderia ter dito muito mais, mas aí eu provocaria uma discussão desnecessária, perderia um tempo precioso, e não chegaria a lugar nenhum: vulcões em erupção também vêm de Deus. Podemos reclamar deles? E dos relâmpagos? E dos terremotos? E do veneno das cobras? Detesto quando me dizem que devo gostar de tudo o que é porcaria que acaba com a vida da gente porque é natural, “vem de Deus”, aff... façam –me o favor, sejam honestos consigo mesmos, e admitam que também tem aversão à certas “coisas de Deus”.
Por muito tempo eu imaginava que pra ter o direito de sofrer, eu precisava entrar numa fila e esperar minha vez. A cada situação nova que se abatia sobre mim, era inundado com mensagens de que eu deveria era estar feliz por ter braços e pernas e olhos. Eu agradeço por ter braços e pernas e olhos, mas eu sofro de vez em quando. Sofro quando não consigo pagar minhas contas em dia. Sofro quando magôo uma pessoa que gosto muito. Sofro quando tiro notas baixas na faculdade, e sou reprovado. E nem meus braços e pernas conseguem me tornar mais felizes nesses momentos. É egoísmo da minha parte querer extravasar minhas frustrações em momentos como estes?
Deus não rejeita sofrimento. Aprendi isso, e acho que devemos repetir todas as vezes em que achamos que nossos motivos não são suficientes pra nos fazer sofrer. Se estamos sofrendo, estamos sofrendo. Sofro porque minha namorada me deu um fora, e a solidão que eu sentia antes dela se tornou insuportavelmente maior. Sofro porque meu carro me trouxe muitos problemas, exigiu grandes investimentos para que estivesse em condições de me transportar e agora não disponho de recursos para usufruir desse benefício, sofro porque desapontei uma pessoa muito especial que conheci esse ano, e não consegui me dirigir a ela pra dizer o quanto eu sinto, o quanto ela me faz falta...
Mas nada disso me faz chegar ao fim de 2011 cheio de ódio no coração. O Natal na Casa do Saci foi de uma simplicidade ímpar, conseguimos mais uma vez iluminar os sonhos da minha filha de seis anos, e pudemos dar a ela o maior dos presentes, a oportunidade de ter papai e mamãe juntos na casa da vovó, como uma família... como a família que somos. Não há nada que pague sua alegria, seu sorriso que ainda conserva o brilho inocente, que tem se esvaído com o passar dos anos, mas que nesse 25 de dezembro voltou a brilhar com toda a intensidade.
Continuo precisando de mensagens de paz durante todos os dias do ano, mas é verdade que tenho uma fé enorme nesse ano de 2012, pois consegui cumprir em 2011 todas as metas que me propus, ainda que o preço tenha sido alto. Na pior das hipóteses, em pouco menos de 365 dias, deixei para trás um escritor maldito, que odiava o Natal, o Ano Novo e tudo o que as festas representam, para chegar nesse fim de ano sorrindo, não pelo que passou, mas por aquilo que tenho certeza que vem por aí. Com lágrimas nos olhos, é verdade, mas elas são o preço de quem optou por não desistir dos sonhos que brotaram no seu coração.
Feliz Ano Novo Meus Queridos.
Reencontraremo-nos em 2012, no meu próximo post.
Gustavo Jonathan Costa
“Porque a vida vale a pena HOJE!”

3 comentários:

  1. Emoção indescritível ao ler esse texto. Compartilhar é pouco. Dá vontade de colocar num outdoor.

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  2. É escritor nostálgico...Eu que te encontrei maldito, te vejo nostálgico e quem sabe você retorne à Casa do Pai... Não faço proselitismo, mas você está um tanto quanto Filho Pródigo hoje...rsrsrsr...Desejo que a vida lhe seja pródiga no próximo ano, dispensando bençãos sem parcimônia... e que os prodígios de Viver intensamente transformem o seu pensar no sorriso irrestrito do leitor, nessa comunicão silenciosa sem explicação, daqueles que comungam da palavra, na mais bela oração, da Igreja dos Homens, do Deus do Amar ! Grande abraço meu nobre!

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  3. Seu post me emocionou muito. Continue sempre sendo essa pessoa sincera...vale muito a pena!
    Bjs.

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