sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Never give up!!!

Na correria do dia-a-dia eu fico imaginando qual será a última vez em que me atrevo a postar mais uma crônica nesse meu blog. Se as vertentes do Naturalismo estiverem corretas, é fato que o homem é determinado pelo meio onde vive, e no mundo das ciências exatas, é mais fácil calcular integrais do que voltar pra mim mesmo e traduzir em palavras o que se encontra na alma humana. Mas algumas características são essenciais, transcendem qualquer determinismo, e ainda que sejam raras minhas aventuras neste blog, elas podem tender a zero sem nunca serem iguais a zero.

O tempo passa e a vida deixa marcas nas pessoas. Sempre achei que isso fosse uma metáfora, mas é um fato. E não falo somente de rugas, estrias e pés de galinha, ou barrigas de chope. Minha filha tem só seis anos, e seus olhos já são muito diferentes dos que ela tinha aos dois e três. Ela já tem maturidade pra saber que os pais dela falham, e falharam com ela quando não souberam manter viva a união de sua família. Ela sabe que pode ser castigada quando diz a verdade, mesmo quando insistimos que ela deve sempre dizer o que pensa e sente. Sabe que não adianta chorar e implorar pra não ser “abandonada” numa escola cheia de pessoas estranhas, porque ela vai ser deixada lá de qualquer jeito... E cada decepção, cada estrago, diminui um pouco aquele brilhinho que ela carregava ao nascer, aquela inocência...

Quando vejo minhas fotos de infância, reconheço quase tudo em mim: as mãos, o nariz, o cabelo... exatamente como são agora (com mais pêlos hoje, diga-se de passagem). Mas os olhos, aah... mudaram muito. É praticamente impossível emular aquelas expressões, elas vinham de uma alma que ainda não sabia o que era se decepcionar com as falhas dos pais, dos amigos, dos colegas de trabalho e principalmente com as minhas próprias...

Eram olhos de quem não sabia ou não precisava lidar com perdas...

Perder é uma das lições mais duras e mais valiosas da vida. A experiência da morte, de perder pessoas queridas, de perder um amor, de perder um ano escolar, nos massacra, oprime, e nada há que nos faça recuperar o que perdemos. Se não sobrevivemos, nos perdemos também, mas o processo de sobrevivência exige algo de nós, e o preço é parte do brilho que carregávamos quando nascemos.

Felizmente, perder o brilho não nos faz mais fracos, pelo contrário. Cada vez que sobrevivemos, nos tornamos mais fortes. E serenos. Sobreviver é acreditar na vida. Porque se lutamos pra sobreviver é porque acreditamos que existe algo de bom pelo que vale a pena continuar tentando. E ainda que as marcas da decepção se salientem em nossos rostos, nosso sorriso se torna cada vez mais sincero, mais valioso, mais saboroso.

Sempre desdenhei a importância que a televisão e os meios de comunicação dão à beleza estética, mas não posso deixar de comentar o quanto achei bonito ver o sorriso de Reinaldo Gianechinni após ter raspado os cabelos para enfrentar a luta contra o câncer. Ou mesmo o sorriso do ex-Presidente Lula. Porque só Deus (e quem assistiu o filme “O Filho do Brasil”) sabe o que esse homem, ou esses homens, já tiveram que enfrentar e que deixaram marcas, e que a essa altura da vida são coroadas com um diagnóstico tumoral.

A gente sempre acredita que, aos 30 anos, estaremos colhendo frutos do sucesso (a não ser que se esteja com 29 e já se saiba que a vida é um fracasso mesmo...). Muitas vezes, eu acho que fiz as escolhas erradas, principalmente quando me comparo ao restante da minha família, quando vejo onde meus irmãos mais novos puderam chegar. Ingressar em um curso de nível superior nessa idade, em ciências exatas, é conviver todo dia com o fracasso e a derrota. Diferente de um curso de Letras, ou daqueles passageiros encrenqueiros do ônibus lotado, em um bom curso de exatas não dá pra empurrar com a barriga. Como diz minha amiga Júlia: “ou você se entende com as exatas, ou desiste delas”.

Enfrentar, e superar, o fracasso diário que é cursar pelo terceiro semestre consecutivo as disciplinas de Cálculo I e Geometria Analítica não tem se mostrado tarefa fácil. É constrangedor, embora seja a realidade de muitos, e finalmente eu percebo que estou me envolvendo com as disciplinas, com a “idéia” da coisa. Estou adquirindo a maturidade necessária pra seguir em frente nesse caminho. Acho que esse é o ensinamento mais importante... Ou talvez o mais importante seja aprender a calcular área sobre gráficos e ortogonalizar vetores, e esse seja o segundo mais importante...

Se a vida não sorriu pra mim durante todos esses anos, ela me presenteou com uma filha muito especial, com amigos que posso contar nos dedos, mas que valem por uma tropa de elite, e com uma força de vontade que só consegue me guiar em direção ao alto e avante. Pois se existe um conceito que definitivamente estou abolindo do meu vocabulário é o de “desistir”. Acredito que a palavra “desistir” só devia vir acompanhada de “nunca”, da forma como dizia minha antiga professora de inglês, quando ficou sabendo que tinha sido demitida e não podia contar aos seus alunos, em sua última aula ela insistia: “Never give up!”

Meu irmão Leo acha que sou louco. Porque só um doidão de pedra mesmo desiste de uma carreira na área de humanas – pra qual é vocacionado – pra cursar exatas. Ou vice-versa. E eu sou doidão. De pedra. Daquelas duras mesmo. Sou daqueles caras que tempera feijão com mel (Rsrs... não foi metáfora). Porque eu sei onde quero chegar, e vou insistir nisso, ainda que tudo pareça querer dizer que é hora de desistir. Se eu fosse te dar algum conselho, leitor, diria pra nunca dizer a alguém que é hora de desistir. Os mineiros do Chile não desistiram. O meu Galo não desistiu. O América não desistiu. E o Cruzeiro (infelizmente...) também não vai desistir.

E se lutar sempre é a ordem do dia, que ela seja realizada com um maravilhoso sorriso no rosto, compartilhada com uma verdadeira tropa de elite, e coroada, se Deus quiser, com diagnósticos de saúde, sucesso e paz!

Até meu próximo post... porque também não desisto desse blog.