segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A DESPEDIDA OU UMA ÚLTIMA CRÔNICA DE FINAL DE ANO

Em meio às chuvas torrenciais que castigam Belo Horizonte durante todo este mês de dezembro de 2013, julgo ser uma boa hora me debruçar mais uma vez sobre um arquivo branco de Word e deixar nesse final de ano mais uma postagem neste blog – ainda que seja a última.  

Cada vez que abro essa silenciosa página, me recordo sempre dos motivos que me levaram a criá-la e a postar em intervalos irregulares, aqueles textos fragmentados da minha alma que aqui estão, e que ao longo dos anos foram capazes de atingir outras almas – não muitas, mas muito caras e especiais para mim, e a elas sou e serei eternamente grato pelo carinho e admiração.

Já faz tanto tempo e ainda me lembro e sinto como se fosse ontem, todo o sentimento de angústia que me abatia ao ingressar novamente na UFMG e perceber quantas dificuldades eu encontraria pelo caminho – aquilo foi realmente uma afronta à minha já comprometida auto-estima, e a criação de um blog no qual eu pudesse fazer algo que de fato gosto e de certa maneira sei  - escrever -  talvez pudesse amenizar a frustração que sentia ao perceber que não era capaz de corresponder às minhas próprias expectativas acadêmicas.

Surgiram daí as Crônicas de Um Escritor Maldito, alcunha infeliz que criei no início do processo, mas que ia ao encontro do que esperava de mim mesmo. Minha auto-imagem ainda era sabotada por pensamentos depressivos e autodestrutivos, mas que logo ganharam a admiração de pessoas como o Augustto Paes, o primeiro amigo a visitar e se inscrever no meu blog, uma pessoa que acompanhou cada palavra que foi escrita nesse meu pequeno espaço, e é claro que a ele sou muito grato por esse carinho especial.

Outras pessoas logo se juntaram a ele, meus irmãos Leonardo e Ramon, sempre fãs, divulgaram meus textos e debatiam críticas de forma apaixonada.  A admiração de outra amiga, Sâmara Miranda, também trouxe várias outras pessoas a conhecerem este blog, principalmente com suas divulgações via Facebook. Ser escritor acabou se tornando minha segunda identidade.

Da fase da depressão vieram meus trinta anos, e uma serenidade que me ensinou a esperar as coisas no seu devido tempo, e a criar os pensamentos certos que produzem os resultados esperados.  A mudança de estilo de vida, proporcionado também pelo maior convívio com meu irmão Ramon, transformaram um Escritor Maldito em Escritor Nostálgico, agora com uma visão muito mais responsável sobre seus próprios atos e reflexões.

Passado o tempo, conheci a pessoa que tem sido a peça fundamental na minha vida: Branca Barcelos, minha companheira desde o dia 06 de abril de 2012 foi uma resposta a todas as minhas questões escatológicas. Com ela, descobri sim, que o Paraíso existe, mas que é preciso fazer por merecê-lo todos os dias. Graças a ela descobri que quando se conquista o mais difícil, todos os outros objetivos se tornam possíveis e prováveis.

Podemos fazer qualquer coisa quando não estamos sozinhos.

Passei a acreditar nisso com uma força e uma fé inquebrantáveis, mesmo quando todas as circunstâncias ainda mostravam que tudo não passava de um castelo de cartas pronto para desmoronar com a primeira tempestade.  Mas quis o Senhor Javé e todos os deuses do Olimpo que minha fé fosse recompensada, e eis que me vejo às portas de 2014 muito mais agradecido e realizado do que estive durante todos estes anos.

Às vezes sei que é mais fácil se solidarizar com o fracasso do próximo do que se alegrar com seu sucesso. Mas ao compartilhar neste blog a alegria de ter alcançado os degraus que há um ano eu imaginava tão distantes, sei que o faço para as pessoas que realmente se alegram ao saberem disso, àqueles citados acima e aos demais que me acompanharam em uma crônica aqui ou acolá.

E é que com muita nostalgia que me despeço de todos vocês, pois não mais postarei crônicas neste blog a partir de 2014. Estarei, contudo, sempre presente nas redes sociais ou na minha página no Facebook:


Espero encontrá-los nesse novo ano, e espero de coração que vocês possam acreditar, de verdade, que TODOS os sonhos se tornam realidade quando se investe VONTADE nesse objetivo. É uma Lei Elementar da Física. Se todos os povos, de todas as culturas, em todas as gerações, em algum momento, tiveram fé em algo que elas não podiam explicar, é porque existe algo – ou alguém - que sempre confirmou e recompensou essa fé.

Acredite em si mesmo. Acredite em sua força interior. Acredite na felicidade e no amor. Acredite nas pessoas. Acredite em um poder superior, seja ele qual for. Qualquer que for o desfecho de sua história, a sua crença terá feito a sua caminhada valer a pena.

FELIZ NATAL A TODOS AQUELES QUE AMO. FELIZ ANO NOVO!!!  A gente se encontra na Casa do Saci...



quarta-feira, 1 de maio de 2013

NUNCA TEVE TÃO BÃO



Escrever em um blog com o nome “Crônicas de Um Escritor Nostálgico” pode transmitir uma ideia errada a respeito da minha personalidade e meu modus operandi padrão.  A Nostalgia é um estado de espírito que se manifesta esporadicamente, fato é que raras vezes me aventuro a atualizar o blog com crônicas nostálgicas, e este é um destes preciosos momentos. Gosto de escrever, mas esse é um esporte ao qual não disponho o tempo do qual gostaria, e não podia deixar passar em branco esse precioso feriado do dia 1º de maio, nosso dia do trabalhador.

É bem verdade que, quando estamos realmente empenhados em construir algo, perseguir um sonho, não existem obstáculos. Isso não é só uma afirmação clichê. Infelizmente, existem milhares e milhares de trabalhadores como eu que passam pela vida esperando algo especial acontecer, e nunca saem de onde estão, porque acham que já trabalham demais, já dão duro demais, já se esforçam demais e nada muda. E a verdade é que o fato de nos levantarmos cedo todas as manhãs e desempenharmos funções mais lucrativas para nossos empregadores do que para nós mesmos não é “trabalhar demais”, estamos apenas cumprindo nossa obrigação, ou, nas palavras de Roberto Shinyashiki, estamos fazendo o que todos fazem.  “O sucesso é construído à noite”, para atingir uma meta especial, é necessário estudar, planejar e se esforçar no horário em que os outros estão curtindo a vida numa boa porque durante a semana já “trabalharam demais”.

Infelizmente a vida é assim e não é justa. Esbravejar, chorar, esmurrar a porta, murmurar, nada disso tira ninguém de onde está.  Extravasar sofrimento só atrai sofrimento. Eis o motivo pelo qual iniciei este post falando da ideia nostálgica por trás da minha personalidade.  Não conheço um ser vivente sobre esta terra que não tenha que lutar todos os dias por sua sobrevivência, em qualquer sentido.  O sofrimento é inerente à vida, mas não precisa ser cantada aos quatro ventos. Quantas pessoas não conhecemos que parecem viver constantemente uma miserável existência, repleta de dor e sofrimentos? Pessoas que sempre que encontramos já sabemos que iremos ouvir um rosário de reclamações de dor, padecimentos físicos, endividamentos, maledicências e tudo o que há de pior na vida? Já percebeu como essas pessoas acabam “envenenando” nosso dia? A impressão que tenho é que só a presença de pessoas assim drena minhas energias, são verdadeiros vampiros da alegria humana...

Além desses, existem aqueles que estão sempre insatisfeitos com tudo: com o governo, com o prefeito, com as músicas, com o time, com seu trabalho, com seu descanso... Não existe uma só pessoa competente, um órgão fiscalizador eficaz, nada escapa à crítica de determinadas pessoa que, para ocultar a própria incapacidade de se encaixar no mundo, apontam o dedo para todos os cantos.  Estes só criticam, falam quando não se pode resolver absolutamente nada, em rodas de amigos, dentro do ônibus. Jamais tomam qualquer atitude, pois acham que “tudo vai sempre ser desse jeito mesmo, fazer o quê?” Podiam pelo menos parar de encher o nosso saco...

E existem aquelas pessoas que aparentam não ter qualquer tipo de problema. Aquele amigo que começa a segunda-feira com um caloroso bom-dia, que diverte qualquer ambiente. Todo grupo tem um “palhaço         da turma", esse no qual sempre tento me enquadrar, não por ter uma vida isenta de problemas, mas por acreditar que, parafraseando uma amiga minha, meus problemas são problemas meus. Existem muitas situações em minha vida que são lamentáveis, mas acredito firmemente que um espírito de criança em qualquer ambiente é fundamental para dar vitalidade a um grupo, a uma família, uma comunidade...

Pessoas felizes se atraem. Rir faz bem para a saúde, estimula o cérebro, libera serotonina e ainda estimula a produção de endorfinas essenciais para que suportemos nosso fardo diário de “trabalhar demais”. E não é só o trabalho não, é todo um conjunto desgastante de fatores: trânsito, obras na cidade, alterações climáticas bruscas, acidentes, assaltos... Trazer toda essa carga negativa à tona só vai piorar o dia e o ambiente de pessoas que já precisam passar pelas mesmas coisas, então por que não ser um agente da alegria em nosso dia-a-dia? Por que não tomar a iniciativa de arrancar sorrisos daqueles cuja vida anda tão sem vida?

Na semana passada, no dia 25 de abril, o Programa Graffite da 98FM, Rádio de Belo Horizonte, divulgou este blog, pois tive o prazer de conhecer pessoalmente os integrantes do programa. Todos os dias, no retorno para casa, escuto aqueles quatro radialistas e comediantes no horário de seis às sete da noite (o programa começa às 17 horas, mas só posso ouvir ao sair do trabalho).  Dudu, Rodrigo, Geraldo Magela e Caju (na foto abaixo não está o Magela, esse de rosa no fundo é o Bruno Berg, que é excepcional!) se apelidam de Os Trapalhões do Rádio, e com um humor sadio e inteligente aliviam as tensões acumuladas ao longo do dia de milhares de pessoas que, como eu, já são fãs incondicionais. Além do humor, o programa possui uma filosofia humanitária, de ajuda a pessoas carentes e necessitadas, divulgam notícias sobre  desaparecidos e de enfermos que  precisam de doação de sangue.  



Identifico-me com a ideologia do programa desde que era transmitido na Rádio Extra FM, e na 98FM eu acompanho desde 2010. De alguma maneira, acabei me sentindo próximo aos apresentadores, pois os ouço diariamente. Durante esse período, houve acontecimentos muito tristes, o Rodrigo Rodrigues perdeu seu pai, o Eduardo perdeu sua mãe de criação... Em momento algum o espírito do programa foi abalado, pois  mesmo em momentos de crise o Eduardo tem uma máxima, em qualquer situação, repita sempre: NUNCA TEVE TÃO BÃO.

É uma frase que faz milagres. De verdade. Já fez em minha vida, pode fazer na sua também. Que tal experimentar, da próxima vez em que perguntarem pra você como vai a vida, ao invés de detalhar sua lista de reclamações, dizer apenas: Nunca teve tão bão!

Muitas vezes, em meus dias inspirados de palhaço no meu dia-a-dia, idealizei que poderia trabalhar como comediante do rádio, como fazem no Graffite. Ou quem sabe com meu próprio show de stand up.  Mas não sei se levaria jeito.  Posso ser bom com as palavras escritas, mas não sei se seria bom no palco, me acho desajeitado, e não tenho essa facilidade para decorar textos... Ah, e distraído também! Muito, mas muito distraído. Vou contar um segredo, espero que fique entre nós: quando fui aprovado no COLTEC, em 1997, meu pai me levou no primeiro dia ao Colégio para eu saber onde ficava (pois morávamos – e eu ainda moro – em Pedro Leopoldo). No segundo dia, fui de ônibus.  Era um ônibus tipo executivo, única opção na época para ir da minha cidade à capital. Ao ver a área da UFMG, puxei a cordinha, mas o ônibus não parou. Continuou seguindo, seguindo, seguindo, e eu me desesperando... Até que um senhor de boa vontade me cutucou e disse: “Garoto, pra descer, você tem que puxar a corda da campainha, e não a da cortina”.

E alguém ainda acha que tenho vocação pra comediante?

Abraços e até meu próximo post.

PS:  A propósito, por falar em pessoas que atingiram uma meta especial, não poderia deixar de citar nosso amado Ayrton Senna da Silva, que nos deixou a exatos 19 anos. Um herói, um mito, um homem que não deixou as mesquinharias do dia-a-dia afastá-lo de seu objetivo principal, o de ser até hoje o melhor piloto de Fórmula 1 que o mundo já conheceu. 



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

MÃE


Daqui a exatamente 3 meses, mais precisamente no dia 12 de maio, a maioria de nós não mais se lembrará que há duas semanas uma boate pegou fogo em Santa Maria, levando a óbito 238 jovens que ali estavam. Será o Dia das Mães,  e para um grupo especial de pessoas a dor dessa perda jamais será abrandada... São aquelas mulheres especiais que um dia receberam a dádiva de receber e alimentar dentro de si uma dessas duzentas e tantas vítimas... As mães desses jovens  sentirão eternamente o peso da ferida causada pela inversão natural de ter que enterrar seus próprios filhos.

Não existe nada que nos prepare para sepultar nossos pais. Mas aos pais, sequer passa pela cabeça viver mais que aqueles que de quem cujos lábios saem palavras tão pequenas e tão profundas. Não é só uma dor incurável, é uma completa sensação de fracasso – como se você tivesse falhado justamente com a pessoa que  mais ama, aquela que jurou proteger de todos os males, e que o mundo covardemente tirou de seus braços.

Quando lamento minha falta de sorte, lembro-me que devo ser grato por ter uma filha linda e saudável, e desejo que ela seja feliz acima de qualquer outra coisa. Mas não é o amor que sinto por ela que me intriga, existe  outra pessoa que é capaz de me surpreender, no auge dos meus 31 anos...

Mãe...

A MINHA mãe, essa senhorinha gorducha de olhos cansados, dona de uma força de vontade capaz de transformar carvão em diamante. Tem uma personalidade forte, teimosa, valente, corajosa e incansável e quis o destino que de dentro do seu ventre materno fossem gerados três filhos de personalidade forte e teimosa e valente e corajosa e incansável, além de egocêntrica e ciumenta.  Com autoridade militar, ela nos ensinou a partilharmos nossos bens, nos ensinou a sermos humildes, a não fazermos distinção de pessoas, a valorizarmos o esforço pessoal e o talento individual, a não desistir nunca, nunca, nunca, nunca e NUNCA... Porque quem conhece a minha mãe sabe que ela NUNCA desiste...

Ela tem um AMOR  (maiúsculo) que eu sinto sem conseguir compreender... Não é como o amor de pai, sem menosprezar o amor do meu pai, que é enorme. Mas falo porque eu também sou pai.  Nós, homens, aceitamos o fato de ser pai – é uma convenção social. Nós não nos sentimos pais, nós aprendemos a ser pais vendo outros pais, e a cada manifestação de carinho dos nossos filhos vamos nos afeiçoando a eles e aprendemos a amá-los, e amamos tanto que depois não sabemos como não gostar deles... Mas mãe é diferente... ela já foi um só conosco, ela padece cada lágrima nossa, ela consegue sentir nosso sofrimento como se fosse dela, como se fosse maior nela do que em nós.

Um pai (ainda vou escrever uma crônica sobre Pais) faz coisas pelos filhos como um gesto de doação – e quer um reconhecimento, ainda que bem tardio. A mãe faz coisas pelos filhos como se fizesse para si mesma, ou melhor ainda, e espera que esses reconheçam na própria felicidade o dedo amoroso que os acompanharam durante toda a vida...

Mas a vontade de conquistar o mundo para os filhos, infelizmente, encontra obstáculos ao longo do tempo... Se a sua mãe já passou dos cinquenta anos, sabe bem do que estou falando. Existe um momento em que o corpo físico já não suporta mais os sacrifícios que foram feitos até que os filhos se transformem em homens feitos. Deveria ser este o momento em que os pais decidem descansar, gozar a vida, lembrar que são homens e mulheres cheios de sonhos adiados por muitos anos...

Deveria...

Quem conhece minha família sabe que meus pais conseguiram, depois de muitos sacrifícios, construir em um terreno afastado da grande selva urbana, a casa dos sonhos. Pelo menos a casa dos sonhos deles. E vivem maravilhosamente num pedaço de paraíso que se tornou refúgio para mim, meus irmãos, parentes e amigos que visitam a Casa do Saci constantemente e não se cansam de cantar suas maravilhas aos quatro cantos do mundo. Pois a dona desse paraíso, em uma conversa daquelas sérias que só ela sabe ter, me disse que para te ver feliz meu filho, vendo tudo, casa, carro e apartamento, como até lama pra te colocar num bom caminho.

E não é pra chorar e se emocionar com uma demonstração de amor desse tamanho? De alguém que já deveria estar vendo os filhos tranquilos e felizes? Minha mãe, que já não tem os ossos fortes como tinha há trinta anos, que passou recentemente por uma cirurgia de esôfago, enxerga mal e sente sempre fortes dores na coluna, toparia passar por tudo de novo e mais um pouco, só pra me ver feliz... Mamãe é tão bonitinha que no mesmo dia, antes de sair para dar seu plantão noturno no Hospital das Clínicas, me pediu quase em súplica: meu filho, vou ter que abusar de você, mas juro que é só um pouquinho... você pode regar minhas rosas hoje pra mim?

E COMO EU NÃO VOU REGAR AS ROSAS PRA QUEM ACABOU DE ME DIZER QUE VAI ABRIR MÃO DE TUDO O QUE TEM POR MIM?

Minha mãe me pede pequenos favores diários porque sabe que eu faço de coração. Porque eu conheço sua rotina, sei o que ela pensa e sente. Talvez você, filho ou filha que esteja aí sentado lendo essa crônica, esteja se sensibilizando e pensando em sua mãe agora. Então você pensa que seria mágico se você fosse até ela nesse momento, desse um beijo e dissesse," mãe eu te amo! Obrigado por tudo o que a senhora fez e faz por mim". Sabe o que eu digo pra você? Continuar dizendo pra sua mãe que você a ama, não vai adiantar NADA se você não começar a ter vergonha na cara e arrumar sua cama, se você não vai até ela e oferece ajuda pra passar um pano nesse chão que você pisa todos os dias, ou pra lavar o vaso sanitário em que você defeca e ela é obrigada a lavar. Dizer palavras doces faz muito bem, mas aliviar as dores do corpo de sua mãe, picando aquela cenoura pro almoço, ou lavando sua roupa de vez em quando, opera verdadeiros milagres.

Sabe aquela casca de banana que você jogou no cesto de lixo e você viu cair no chão? É pra sua mãe pegar pra você, não é? Antes ou depois de você dizer que a ama? Grande gesto de amor...

Sabe aquela comida que ela fez pra você e você não comeu, e ficou velha? Que tal usá-la pra fazer a janta só hoje, ou um mexido, ao invés de tirar sua mãe da cama, ou do seu descanso, ou de sua novela, só pra ir pro fogão fazer comida nova pro marmanjo? Ou sua ideia era esperar a janta ficar pronta (enquanto você descansa) pra depois dizer pra ela o quanto a ama?

A maioria dos filhos tem a falsa ideia de que pra mãe é sempre um prazer fazer comida e lavar roupa, quando a verdade é que o grande prazer das mães é ver os filhos felizes. Se tiver que ser lavando roupa, que seja lavando roupa, se tiver que ser fazendo comida, que seja... E muitas vezes, na correria de ganhar a vida, ganhar o dia, trabalhar e estudar, acabamos mesmo precisando de um suporte – e achamos que nossas mães são sempre o caminho mais rápido e seguro. E eu seria um hipócrita se dissesse que não conto muito com a ajuda da minha querida, às vezes. Mas não acho justo, nem bonito, que a troco de não fazer nada, a pobre coitada lave, cozinhe, passe e arrume casa para mim.

Afinal de contas, seus ossos já não são mais aqueles, sua mente já não é mais aquela, sua força também não... apesar de eu ainda sentir tremores quando ela ameaça me dar uns safanões, sei que a força do seu braço seria incapaz de me provocar uma dor real. Os anos vão passando, e os papéis se invertem. As crianças se tornam homens (e mulheres). Pais e mães se tornam avós, e os cuidados que eles nos dedicavam agora vão precisar – de nós, seus filhos.

Quer maior prova de amor do que amparar seu pai e sua mãe com o braço, quando suas pernas já não são fortes o bastante para levá-los aonde quer que precisem ir? Quer maior prova de amor do que colocá-los pra dormir, levá-los ao médico? Cuidar de suas funções mais básicas quando eles já não conseguem se controlar sozinhos? Limpá-los, dar-lhes banho, se necessário?

Você não assume essa missão no momento de necessidade, é preciso que vá  treinando, se envolvendo cada vez mais com a intimidade e as dores dos seus pais para que – quando menos se esperar – eles já tenham se entregado inteiramente aos seus cuidados, confiantes e eternamente gratos.

E sabiamente você terá a consciência que tudo, absolutamente TUDO o que fizer não será suficiente para lhes retribuir o que fizeram por você ao longo da vida...

E que o último sono das pessoas que mais lhe amaram na vida venha sem o pegar desprevenido, sem que você tivesse dito todas as vezes o quanto é grato... o quanto os ama... o quanto os amou...

E o final dessa crônica não podia ser mais clichê...

Mãe – Eu te amo!