segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CRISTÃO HEDONISTA

As pessoas que me conheceram a alguns anos atrás se lembram de mim como um cara apegado às virtudes espirituais. Vindo de uma família tradicionalmente católica, abracei a religião dos meus pais com fervor. Tudo no universo pra mim era dividido em duas realidades distintas: as coisas do mundo e as coisas de Deus, e eu, é claro, aspirava as coisas do alto. Queria ser santo. Ou padre. Ou pelo menos uma referência para a juventude perdida da minha cidade natal, Pedro Leopoldo.

Algumas das pessoas que me conhecem hoje acham que sou arrogante, orgulhoso, porque não sou de conversas alegres o tempo todo. Mas não é bem isso. É que, pelo menos durante meu horário de trabalho, vivo estressado e ocupado demais para animosidades. Não sou arrogante, tampouco orgulhoso, mas dou valor ao que faço e me ressinto com as pessoas que não dão. Não dão VALOR... (é melhor esclarecer, porque o verbo DAR usado intransitivamente evoca sempre conotações pejorativas).

Já as pessoas que são mais próximas sabem que sou muito diferente do que já fui na juventude. Que tenho enorme controle emocional e estou sempre disponível para trabalhos árduos, exercícios físicos, estudos na madrugada, happy hours e sexo (não necessariamente nessa ordem!) Sabem que sou desbocado, e tenho um senso de humor de uma ironia ácida. Poucas coisas me abalam profundamente.

Às vezes acho que minha alma ficou perdida em algum ponto do passado... ou que foi vendida em algum acordo no qual não li as letras miúdas. Não que eu tenha me desvirtuado completamente do caminho dos meus pais. É claro que o fato de ter terminado um casamento de sete anos e não ter o menor saco pra assistir ás cerimônias religiosas de antes fazem meus progenitores perderem noites de sono, principalmente depois das cachaçadas que andei tomando no início do ano, mas não deixei pra trás tudo o que aprendi nos meus 21 anos em que convivi sob o mesmo teto que eles. Tudo bem que hoje acho que o que me fazia buscar a santidade antigamente era tão somente a falta de mulher, já que nesse quesito eu era um babaca de alta patente que não tinha coragem nem de falar uma merda de um palavrão. Tudo bem também que cinco anos estudando Letras na UFMG mudam nossos conceitos a respeito de fé, religião, aceitação e mais uma série de outros tabus, mas cara, não me tornei um poço de amoralidade, apenas mudei a minha forma de ver as coisas...

Hoje não me considero católico, porque se disser que sou católico vou ofender muitas pessoas boas que seguem rigorosamente essa fé. E pra mim, católico é aquele que segue a Igreja mesmo, de Roma, não é só aqueles mequetrefes que foram batizados, vão a casamentos e assistem às missas de vez em quando... mas não deixam de ir à mesas redondas ou enviar oferendas a Iemanjá... Não, não. Católico pra mim é o beato, papa hóstia, como são pejorativamente tratados, infelizmente, mas estes seguem fielmente a fé que lhes foi confiada. Nesse sentido, eu não sou católico porra nenhuma! Se me perguntassem hoje qual é minha religião, e eu tivesse saco pra inventar uma e administrar uma igrejinha qualquer (e de repente ganhar uma pancada de dinheiro) iria dizer que sou um Cristão Hedonista!!

“Mas que merda é essa?” Quase escuto o leitor dizer. É simples. O hedonista é aquele que vive em função do prazer, mas não necessariamente o prazer carnal. É claro que sem falsos moralismos. Já faz algum tempo que abracei o hedonismo como filosofia de vida. Mas não acho que por causa disso tenho deixado de ser cristão.

Mas não seria uma contradição? É claro que não. Pensa um pouquinho, Zé! Tudo o que a gente busca nesse mundo é uma inesgotável fonte de prazer. As pessoas abrem mão de riquezas, de tempo, de prazeres, até de SEXO, porque acham que vão herdar um paraíso depois que morrerem. Prazer eterno, é isso que todo mundo quer. Minha diferença é que quero prazer NESTA vida. Abrir mão do que o mundo tem pra oferecer em troca de um prazer que não conheço e nem sei se existe parece demais pra mim. Não rola. E antes que os críticos comecem a me acusar de superficialidade, vou logo sugerindo que revejam seus conceitos,

A equação é muito simples. O prazer que almejo não precisa ser imediato, pois a busca pelo prazer em 100% do tempo é claro que vai ao encontro de uma corrida desenfreada carregada de álcool, drogas, sexo irresponsável e no final disso tudo, morte. E das bravas. Com sorte... Não é assim que levo a minha vida. Quando tenho uma prova pra fazer, penso no prazer do aprendizado, no prazer de tirar uma nota alta, e isso me faz vencer meus limites para estudar por horas e horas a fio. Quando estabeleço metas reais em meu trabalho, não me importo de trabalhar dez, doze e até quatorze horas por dia, para conquistar o que eu quero. Ver um amigo realizar seus objetivos é motivo suficiente para que eu abra mão de meu tempo, da minha grana, até da minha saúde para colocá-lo no caminho que ele precisa.

Também quando minha saúde é abalada, minha sensação de prazer cai drasticamente. É claro, afinal de contas vou sentir dores, incômodos, meu ritmo de vida fica todo atrapalhado. Por isso vou me submeter a qualquer tratamento que me for profissionalmente orientado, tomarei o pior dos remédios, tomarei todas as injeções, irei no hospital mais inacessível, tudo para recuperar meu vigor, minha saúde.

Se me interessar por alguma gostosa, vou me aproximar dela, se a vadia não der a mínima, não vou me humilhar por causa dela, porque sei que de gostosas o mundo tá cheio. E a humilhação não vale a pena. No fundo, tudo funciona de maneira muito simples: se a recompensa vale a pena o sacrifício, eu encaro, se não, chuto o balde. Foi isso que me fez abrir mão de um casamento de 7 anos, puxa vida, porque já achava que nenhum sacrifício a mais traria as merecedoras recompensas. No fundo somos todos hedonistas, ainda que não sejamos todos cristãos. É natural, humano, instintivo. Mesmo praqueles que aspiram as coisas do alto, aqueles que acreditam fielmente que existe um paraíso esperando aqueles que suportam fielmente na carne as injustiças criadas por nós mesmos nesse mundo, o que pra mim é só uma forma que alguns encontraram para manter a ordem das coisas de forma que somente certas castas sejam privilegiadas... Claro que não vou me aprofundar nesse pormenor, pois aí já seria levantar outra polêmica, e correr o risco de me causar uma tremenda dor de cabeça... E esse sofrimento agora não valeria a pena.

Até meu próximo post.

Gustavo Jonathan Costa

“Porque a vida vale a pena hoje”.

3 comentários:

  1. "dar" ali não era intransitivo, o objeto direto era elíptico!

    Adorei o post! Aliás, adoro seu blog. É tão sensato, tão racional, tão divertido!
    Eu fico meio sem saber o que comentar, mas concordo sem sombra de dúvida!

    Um abraço!

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  2. "Objeto elíptico" foi uma das melhores que já ouvi. Nem precisa se preocupar com o restante do comentário. Foi show!!!1

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  3. Infelizmente as religiões cristãs e, em especial a Católica (pela qual eu também fui educado) condenam 90% de tudo o que você falou que faz no seu texto (talvez outras religiões também condenem mas eu as desconheço). Felizmente, se você ler a bíblia, verá que Jesus não o condena. Aliás, Jesus era perseguido por não fazer jejum, não obedecer as leis do descanso do sábado, por não se mortificar e acabou recebendo uma fama de beberrão e fanfarrão.
    Não faz sentido, pra mim, sofrer aqui pra rir lá na frente. Por que Deus ia querer isso??????? só se ELE fosse um prego.
    Devemos viver felizes com responsabilidade.
    Acredito que o problema começa quando temos que ter contato com outras pessoas (o que acontece quase sempre kkkk). Exemplos????
    O primeiro exemplo é: trabalhar com responsabilidade.
    Veja que dependemos apenas de nós mesmos para trabalharmos com responsabilidade (mesmo que nossos colegas de trabalho não sejam responsáveis). Essa modo de conduta gera reconhecimento, melhores salários e, por consequência, mais alegria.
    O segundo exemplo: o casamento.
    Para termos um bom casamento (estou caminhando pra um) acredito que, além de ser um bom marido é necessário que minha esposa também se comporte com responsabilidade. Isso poderia gerar melhores noites de sexo, soluções mais fáceis de problemas domésticos e, por consequência, gerar uma pessoa mais tranquila, saudável e mais alegre (vivamos de prazer).
    A falta de pelo menos um do casal acaba com tudo e, neste ponto, acho que as religiões pelo menos tentam nos orientar. DEUS quer que vivamos de prazer, mas que o meu prazer não seja sofrimento para ninguém porque, se for, ele pode, por prazer, me ignorar ou me matar.

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