Venho acompanhando de longe os
desdobramentos do caso do(s) estudante(s) que se suicidou(aram) dentro de uma moradia da UFMG e o clamor de
alguns entusiastas que afirmam que “A UFMG mata”. Sou estudante do 7º período
de Farmácia, concluí a graduação em Letras e 5 períodos do curso de Química, então
tenho certa experiência para afirmar categoricamente que A UFMG NÃO MATA.
A Universidade Federal de Minas Gerais é um dos principais centros de ensino, pesquisa e extensão da América Latina, e oferece capacitação gratuita. É natural que seja competitiva e queira selecionar os candidatos mais preparados para os desafios que o mercado industrial e acadêmico oferecem. Para ingressar em qualquer curso na UFMG, o aluno tem que se preparar bastante para tirar uma boa nota no ENEM, “entrar de cabeça na graduação”, viver a faculdade e se envolver “de verdade” com as disciplinas.
Acontece que produzimos hoje uma
geração pouco acostumada a sacrifícios, cujos ídolos são pessoas que conquistaram
fama e fortuna bem jovens e com pouco estudo, e muitos acham que esse é o
modelo de vida que se precisa alcançar. Alguns ingressam na faculdade por
status, sem certeza de que é isso mesmo que querem, mas só para “ter diploma
superior “ e “porque é de graça”. E a faculdade exige sacrifício, exige
dedicação, exige renúncia.
A UFMG NÃO MATA – O QUE MATA É O
SEU DESPREPARO para enfrentar uma vida adulta, de responsabilidades. A UFMG não
controla seus horários, o controle de presença em sala de aula é mera
formalidade. Desde os tempos de COLTEC – onde fiz meu curso técnico, sempre
tive autonomia para decidir quando estudar, quando ir às aulas... E as disciplinas
eram pesadas, o meu domínio dos conhecimentos da química e da matemática hoje
são muito superiores aos de profissionais oriundos de outros escolas técnicas,
e olha que essas são áreas do conhecimento para as quais nunca fui vocacionado.
Aprendi “na marra” mesmo.
ADMITIR FRAQUEZA NUNCA FOI
SINÔNIMO DE FRACASSAR – quando eu percebi que o curso superior de Química não
era para mim, simplesmente tratei de abandoná-lo e começar uma nova graduação.
E nessa época eu já contava com mais de 30 anos. Eu entendo que o sistema das
EXATAS é muito diferente do de HUMANAS (pois eu vivi as duas realidades).
Quando comecei a estudar Química e me deparar com disciplinas como Cálculo I e
Geometria Analítica, comecei a perceber o quanto você pode estudar e estudar
muito e mesmo assim tudo dar errado. As ciências exatas são frias e cruéis,
você não consegue simplesmente “empurrar com a barriga”. Uma amiga uma vez me
disse: “ou você se entende com as exatas, ou desiste delas!” Aquilo me marcou.
Se tanta gente consegue, por quê eu não? Em meu primeiro mês no Departamento de
Química, numa disciplina chamada Ciclo de Palestras – em que diversos
profissionais nos apresentavam os rumos da nossa nova profissão – o COORDENADOR
do curso afirmava que “nosso objetivo é fazer vocês DESISTIREM. Tenho
pena de vocês, porque só aqueles muito persistentes mesmo é que vão chegar até
o final”. Eu sempre tomei isso como incentivo, como uma provocação que ia me
fazer chegar até o final. Não cheguei, pelo menos não na Química, mas continuo
vendo tanta química quanto antes, na Faculdade de Farmácia.
A UNIVERSIDADE NÃO É MÃE, aqui
nós somos adultos, temos autonomia e responsabilidades e temos que arcar com
elas. Não somos mais adolescentes em formação. Se não superamos nossos traumas
da juventude, nossa missão é procurar recursos – inclusive DENTRO DA UFMG –
para superá-los. Sabemos de nosso compromisso com o mundo e o quanto é
importante para nossos amigos e para nossa família que estejamos vivos e bem. A
UFMG tem um Departamento de Saúde Mental, coordenado pelo Departamento de
Medicina, com profissionais que se formaram aqui mesmo e entendem o drama dos
estudantes. Mas não é papel dos professores localizar estudantes com problemas
de adaptação e encaminhá-los para o Departamento, é responsabilidade DO ALUNO,
que é um ADULTO, procurar ajuda, e a família, se possível, dar todo o suporte
emocional para esse indivíduo.
Contamos com a Universidade
Federal de Minas Gerais para que ela continue sendo REFERÊNCIA em ensino de
qualidade e um centro de pesquisa respeitado em todo o mundo, e que esse papel
não seja prejudicado pelas acusações GRAVES que tem sido feitas, cujas consequências
podem impactar diretamente na qualidade do que se tem exigido dos alunos, pois
no final das contas, é o sacrifício e a dedicação de cada um que faz da UFMG a
Universidade dos sonhos de qualquer brasileiro.
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