domingo, 8 de novembro de 2020

UM DISCURSO SOBRE IGUALDADE


Este é o meu verdadeiro desejo quando falo de igualdade entre homens e mulheres.

Desejo que homens e mulheres estejam representados em todos os cargos sociais e profissionais. Que recebam igualmente quando ocuparem as mesmas posições.  Que estejam entre os governantes, juízes, empresários, banqueiros, diretores de empresa e coordenadores. Que estejam entre os subordinados nas linhas de produção, entre os policiais, na construção civil e nas alvenarias. Que estejam entre os varredores, faxineiros, enfermeiros, babás, pedreiros e serventes de pedreiros. Estejam entre os cabeleireiros, maquiadores, cozinheiros, astronautas, batedores de enxada e nas minas de carvão.

Que ambos possam comandar a guerra e servir na guerra. Que todos se alistem no Exército. Que ambos possam ter prioridade nos salvamentos. Que se aposentem na mesma idade. Que tenham todos as mesmas responsabilidades com o lar e com as crianças. Que façam comidinha, brinquem de boneca ou de lutinha, ou do que quiserem.  Que assumam o sustento do lar quando o(a) outro(a) não puder fazê-lo.  Que as licenças paternidade e maternidade sejam iguais. Que a educação dos filhos seja tarefa igual para ambos.

Que homens e mulheres possam ser o que bem entender. Que possam ser cabeludos ou carecas, que possam usar calças, ternos, vestidos, saias, tomara-que-caia, sapatos sociais, sapatilhas, sandálias e salto alto. Que possam usar maquiagem, batom, pintar as unhas, usar jóias, ou possam ter barba, se quiserem. Que possam usar shortinhos e mostrar a barriga sem serem molestados ou ridicularizados. Desejo que todos possam andar sem camisa na rua ou na praia. E que possam usar sunga, biquíni fio dental ou maiô, e  que isso possa ser considerado normal. 

Que ambos possam ter proteção contra maus-tratos. Que o fraco tenha prioridade sobre o forte. Que o gênero não seja rótulo de “violento” ou de “louca”.  Que os impactos hormonais no humor possam ser respeitados e levados em conta, mas que ninguém seja inocentado por crimes ou atrocidades cometidos por causa da progesterona ou testosterona.

Desejo que todos possam agir como são, e não como seu gênero determina. Que possam ser emocionais, racionais, introspectivos ou extrovertidos, sem que ninguém lhes aponte o dedo e lhes diga: “isso é coisa de mulher”, ou “isso é coisa de homem”. Que o gênero não implique em conhecimento nato sobre cozinhar, cuidar de crianças ou consertar o chuveiro. Que todos estejam dispostos a decorar a casa e carregar a geladeira. Que a expressão “agiu como mulherzinha” não tenha sentido pejorativo, assim como “eu sou o homem da casa” não tenha conotação de superioridade.

Desejo que todos possam chorar copiosamente, e que encontrem amparo uns nos outros. Que possam gostar de poesia, engenharia, matemática e balé. Que todos possam usar rosa ou azul. Que as mulheres possam gostar de sexo sem serem considerados sujas putas, e que os homens possam não gostar de sexo sem serem considerados fracos ou broxas.  E que cada um seja livre para se entregar a quem quiser, da forma como quiser. E quando disserem “não”, que o outro entenda que “não é não”, e respeitem a decisão.

Que qualquer um se levante à noite para atender o bebê que chora ou para enfrentar o ladrão que invade a casa. Que numa situação em que um diga: “Eu tive muito medo, mas ele/ela me salvou” não seja a atitude de um ridicularizada e do outro superestimada. Que o homem forte proteja homens e mulheres fracos. Que a mulher forte proteja homens e mulheres fracos.

Que mesmo em um mundo de igualdade, as diferenças sejam aceitas e respeitadas. Que os limites impostos sejam aqueles sem os quais a integridade física e a intimidade possam ser ameaçados. Que não precisem se submeter ao risco de serem constrangidos ou molestados em toaletes ou transportes públicos.  Que num mundo ideal as pessoas tenham preservada a sua privacidade sem constrangimentos.

Que todos entendam que um discurso de igualdade é aquele que não implica em privilégios ou prejuízos impostos a este ou aquele por uma questão de gênero, e sim por uma questão de vulnerabilidade fisica ou social. Que os algozes recebam punição exemplar quando atacarem, molestarem, ferirem a integridade de quem quer que seja. Que todo atentado contra a vida seja considerado um crime hediondo.

Eu desejo que as pessoas sejam vistas como pessoas, e não sejam pré-julgadas pelo gênero com que se identificam. Desejo que exista um mundo em que homens e mulheres não sejam rivais, e sim aliados, que possam lutar pelos mesmos direitos e assumir os mesmos deveres.

E qualquer discurso pela igualdade que pregue algo diferente, pra mim, é só hipocrisia!

 

                             

 

 

 

 

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