sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

PAI DE FIM-DE-SEMANA


Acho que um dos títulos mais tristes e injustos que existem é o tal do “pai de fim-de-semana”. Dá a sensação de que você não é pai em tempo integral. Que você é o “papai do oba-oba”, da hora da alegria. A criança cresce e nada de bom que ela desenvolve fica sendo atribuído a você. Mas qualquer falha de caráter que ela manifesta, todos apontam: “mas também, cresceu sem o pai”, ou “é muita coisa pra mãe fazer sozinha”.

Todo mundo acha que sua vida é mais fácil, porque você é o pai do oba-oba. Não importa que você esteja sempre disponível para receber e fazer ligações à filha, não importa que você se desdobre para leva-la à escola uma, duas, três vezes por semana, não importa que você se ausente do trabalho de última hora para ir às reuniões e apresentações escolares, que almoce com ela no dia do aniversário mesmo chegando atrasado pro trabalho,  sua vida SEMPRE é mais fácil que a de todo mundo, porque aos olhos do mundo você tem o título de pai mas não tem a responsabilidade de pai. É como se você fosse um tio de luxo. Aliás, os tios se acostumam a vê-lo como se fosse outro tio mesmo, como se tivessem tanta ou mais autoridade que você. Te dão conselhos, quase ordens,  tentam dizer qual é a melhor forma de educar os filhos, dizem que você deveria estar mais presente. Que você deve agir como pai, mas ninguém te trata como pai. Se  precisam pedir permissão para a filha ir a um parque, ou para dar um presente inusitado, ou mesmo se ela adoece estando com eles, só avisam à mãe, afinal de contas “é ela que fica com a criança”.  

Ser pai de fim-de-semana é ser aquele pai que nunca pode errar. Você não pode gritar com a criança, afinal de contas, você “nunca” está lá para educa-la. Você não pode cobrar boas notas, porque não é você quem corrige os deveres de casa, e “ah, no final de semana, quem é que quer saber de dever de casa, não?” Você não pode se atrasar para busca-la, não pode se atrasar para devolvê-la, não pode deixar de leva-la a nenhum evento, não pode cometer NENHUMA falha, e NADA do que fizer vai compensar o fato de você não passar todos os dias com ela. Você não pode ter uma vida própria, porque se a criança de repente quer te ver um dia antes do combinado e você diz “não” porque tinha uma cerveja marcada com os amigos, NOSSA, você é um crápula insensível que não é capaz de deixar os amigos para estar com sua filha! Aliás, “não deveria sequer pensar em beber, afinal de contas, que exemplo você está dando para essa criança?” - dizem seus amigos, todos bêbados! Tudo, absolutamente TUDO o que você faz pode traumatizar a menina.   E aí você abre mão de todos os seus compromissos para ficar com ela e, adivinha, pintou uma festinha de última hora  na casa de  uma das amiguinhas dela e ela pediu pra não ir te ver nesse fim-de-semana, e aí meu amigo,  ai de você se não for compreensivo e entender que sua filha já tem “vontades próprias e vida própria além de você”.

Mas ninguém vai se lembrar disso na semana que vem. As pessoas vão continuar achando que você tem vida fácil. Ninguém se importa com o quanto você se sente pequeno ao ter que devolver sua filha no domingo à noite, porque ela não mora com você. Ninguém sabe a dor que só você sente ao chegar em casa e ver o quarto vazio, aquele chinelinho que ela esqueceu no meio da sala e aquele meio Kit-Kat que ela guardou pra comer mais tarde e não se lembrou. Ninguém imagina o que é ter que se desvencilhar do seu abraço que não quer te deixar ir, ter que ser forte e falar, “papai tem que ir embora agora, filha”, e ela falar “não vai embora não, me leva com você”. O seu lado é SEMPRE o lado mais fácil, é o lado que tem que escutar calado porque todo mundo carrega uma cruz pesada demais. Ser pai de fim-de-semana é não ter voz, afinal de contas, na segunda-feira já acabou o seu papel de pai...

Ser pai de fim-de-semana é ver sempre todos os dedos apontados pra você, porque você não sabe o que a mãe passou com a filha, mesmo que você tenha feito de tudo para que a vida das duas não fosse tão árdua. É ouvir de todos os lados: “você é duro demais”, ou “você mima demais”, mas nunca ser visto como responsável pelas coisas positivas que a criança demonstra.  Ser pai de fim-de-semana é estar sempre duro, quando se paga honestamente o que é de direito da criança, e nunca reclamar por isso, desde que ela esteja segura e feliz.

Sei que no Inferno e na memória de todos os que insistem em apontar esses dedos para esse “pai de fim-de-semana” existe uma lista de pecados imperdoáveis meus, que vão me perseguir por toda a vida, afinal de contas, “ se estivessem no meu lugar, estariam fazendo coisas bem diferentes, estariam devotando a vida inteiramente à essa filha perfeita que Deus me deu”. Mas o que mais importa é que no coração dessa filha existe um amor incondicional que me diz que do meu jeito falho de ser, ela compreende e aceita minhas batalhas, minhas lágrimas, meu suor, e que entende que esse desgraçado humano é que é seu PAI, que acorda cedo, trabalha, estuda, divide as tarefas de casa com a esposa, aperta as contas no fim do mês mas faz de tudo para ser uma presença constante em sua vida...vida essa que todos nós sabemos, nunca foi só oba-oba!

Obrigado filha, por me fazer querer ser todos os dias um homem melhor, a despeito de muitas opiniões em contrário.


Nenhum comentário:

Postar um comentário